A postagem de 9 de
abril contém no título a seguinte pergunta: "Você vive ou existe?".
No blog, ninguém a respondeu, mas por e-mail recebi cinco respostas que podem
ser resumidas assim: três elogiando o texto, uma dizendo “respondendo a sua
pergunta eu digo que: VIVO!!!!!”, uma dizendo “continue enviando o alimento
para nossas almas!”, uma assinada com “Alexandre, um inexistente” e uma (a
última recebida) contendo uma afirmação instigante que me levou a redigir esta
postagem que deveria ter sido publicada no dia 16. O adiamento foi causado pela
leitura, no dia 15, de um artigo de Ruth de Aquino publicado na edição de 16 de
abril (sic) da revista Época. Por
considerar que ele focaliza algo que tem muito a ver com esta postagem, optei
por publicá-la depois dele. A resposta instigante que recebi é a seguinte:
"Guedes, eu não tenho Facebook, Twitter e agregados, no entanto não estou vivendo, nem fico ligada em internet 24 horas, mas o trabalho não me deixa viver".
A pergunta foi “Você
vive ou existe?”, mas ao respondê-la a ex-colega de trabalho e eterna amiga acrescentou uma terceira possibilidade ao afirmar que nem existe (não tem Facebook, Twitter e agregados), nem vive, pois o trabalho não a deixa viver. Sua
resposta poderia ter sido dada por muitas outras pessoas, pois é crescente a
quantidade de indivíduos que em vez de trabalhar para viver, vive para
trabalhar. E para que tal aconteça alguns dos maiores responsáveis são,
exatamente, aqueles que foram alvo do artigo de Ruth de Aquino: os maus líderes,
ou pior, aqueles que nada têm de líder, pois são apenas chefes.
Com a finalidade de impressionar superiores
hierárquicos, mostrando que conseguem explorar ao máximo a força de trabalho (adoro esta
expressão!), os chefes costumam infernizar a vida de quem
está abaixo na hierarquia. E agindo assim colocam os subordinados na situação
descrita na resposta que recebi. E para conseguir seu intento eles contam cada
vez mais com uma poderosa aliada: a tecnologia da "conexão". Ao possibilitar a conexão de todos com todos
durante todo o tempo, a tecnologia mantém os subordinados na alça de
mira dos chefes durante 24 horas por dia e sabe Deus quantas à noite. E podendo
ser contatado a qualquer hora, um profissional jamais terá um minuto de sossego
para viver em paz.
Mas se há chefes que levam os subordinados a
viver para trabalhar, há também os profissionais que agem assim por conta
própria. São aqueles que por acreditar que tempo é dinheiro vendem todo o seu
tempo para acumular o máximo de dinheiro. E ao agir assim ficam cheios de
dinheiro e vazios de tempo. O pior é que são esses os que, equivocadamente, são
considerados os que vencem na vida. É muito estranho! Como considerar como
vencedores na vida indivíduos que, efetivamente, não vivem, pois dedicam toda a
sua vida ao trabalho? Aliás, se quisermos olhar a vida como um jogo (no qual se
pode vencer ou perder), creio que o resultado que deveria ser considerado mais
conveniente seja o empate. Nem trabalhar demais, nem de menos; nem ser um
escravo, nem passar pela vida como um turista.
E falar em turista me faz lembrar o seguinte. Ao
chegar a um hotel, o hóspede recebe uma ficha na qual entre outras coisas ele
informa o motivo da viagem. Motivo que
é escolhido entre quatro opções oferecidas: turismo,
negócio, convenção e outros. Considerando a vida como o que ocorre enquanto
estamos hospedados neste planeta, quero fazer aqui uma analogia. Qual é o
motivo da nossa viagem até ele? No meu entender, a resposta correta envolve
dois dos motivos citados acima: negócio
e outros.
Negócio no sentido de negação
do ócio e de envolvimento em alguma atividade capaz de produzir algo útil para
o todo do qual cada um de nós é uma parte. Outros
no sentido de não ocupar todo o tempo apenas com trabalho, mas destinar parte
dele para fazer inúmeras outras coisas, entre elas aprender a trabalhar melhor
para conseguir trabalhar menos. Trabalhar demais é, justamente, a maior causa
da necessidade de se trabalhar cada vez mais. É por trabalhar, exaustivamente, durante horas e horas
seguidas, fazendo coisas das quais não se gosta que mais dejetos são
produzidos, mais trabalhos precisam ser refeitos e menos tempo se tem para fazer
qualquer outra coisa que não seja trabalhar.
Infelizmente, esta que se julga a espécie
inteligente do Universo não consegue perceber tais coisas. E quando o suposto ser
inteligente vira chefe a dificuldade de tais percepções costuma ficar ainda maior, pois
ele passa a desenvolver um estranhíssimo tipo de inteligência que o impede de
enxergar as coisas mais óbvias e o faz ver apenas o que os seus superiores hierárquicos querem que ele veja. Tão estranho que até hoje Howard Gardner, o
criador da Teoria das Inteligências
Múltiplas, não conseguiu incluir tal inteligência entre elas. Ele que, inicialmente,
enxergara sete inteligências (Lógico-matemática,
Linguística, Musical, Espacial, Corporal-cinestésica, Intrapessoal e Interpessoal),
posteriormente, enxergou mais duas (Naturalista
e Existencial), mas a Gerencial
ele parece nunca ter visto. Mas que ela existe, existe, e uma das provas de sua existência é a
sua maléfica consequência citada na resposta que recebi e que provocou esta
postagem.
Não, por mais que tentem nos convencer do
contrário, ninguém veio a este mundo para trabalhar tanto a ponto de não lhe
restar tempo algum para viver. Portanto, não acreditem em tal coisa e jamais
desistam de viver.
A próxima postagem apresenta um texto que
possibilita refletir sobre algo que foi dito, de passagem, nesta postagem: quem
são os que vencem na vida.
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