segunda-feira, 25 de julho de 2011

Quando o ser humano está vazio, ao menos o dia tem de ser cheio

Depois de três postagens fazendo apologia da necessidade de encontrar tempo para fazer nada, segue uma que possibilita entender porque agimos de forma, exatamente, contrária. No livro Grandes ideias para uma vida feliz, de autoria do Abade Notker Wolf, encontrei um texto intitulado Quando o ser humano está vazio, ao menos o dia tem de ser cheio do qual transcrevi os seguintes trechos.
“Não é de admirar que as pessoas simplesmente se pendurem ou se deixem levar, e se ensurdeçam totalmente com telefones celulares, computadores e MP3-Players para fugir do tédio insuportável.
Outros tentam fugir do vazio interior por meio de uma atividade exagerada. Eles se refugiam na loucura de serem indispensáveis. O dia passa voando, e no fim do dia mal são capazes de dizer se foi um dia excepcionalmente bom ou ruim. Mas quando conseguem livrar-se da pressa do cotidiano, sentem-se exaustos e desamparados. E só conseguem pensar em tudo o que não conseguiram fazer. Portanto, o jeito é arremessar-se outra vez no tumulto. Só não querem refletir! Quando a pessoa está vazia, então, ao menos o dia tem de ser cheio.
(...). Então, as pessoas tentam se encher de sons, ou se dopar por meio da agitação.”
Fugir do vazio interior por meio de uma atividade exagerada é agir como aquele personagem do vaudeville que perde as suas chaves em uma rua escura e as procura em uma rua próxima, porque, ele explica, “Lá é mais claro”.

Infelizmente, optar pelo mais fácil e não pelo que, realmente, precisa ser feito é algo extremamente comum. Agindo assim, para preencher o vazio interior, as pessoas optam por preencher o dia com o excesso de atividades. Vejo como óbvio ser impossível encontrar chaves onde elas não foram perdidas tampouco preencher o vazio interior com atividade exagerada, mas o que parece é que, além das chaves, as pessoas perderam a capacidade de enxergar o óbvio.

Para fugir do vazio interior as pessoas se refugiam na loucura de serem indispensáveis. E como mostram serem indispensáveis? Enchendo o dia com atividades que “só elas” são capazes de desempenhar. Mostrando serem um sucesso. E falar em sucesso, me faz lembrar de algo que li em uma entrevista publicada na edição de julho de 2011 da revista Poder – Joyce Pascowitch, e que julgo em conformidade com o tema desta postagem. Perguntado sobre qual é o segredo do sucesso, Eduardo Mutarelli, um dos mais importantes neurologistas do país, respondeu assim:
“Acho que é ter uma vida equilibrada, não trabalhar demais, ter uma atividade de lazer, um tempo só seu, curtir os amigos, a família. A ansiedade e a síndrome do pânico têm a ver com o mundo de hoje, em que é preciso ter tudo. Antigamente, o maior xingamento era chamar alguém de filho da puta. Mas hoje, se você quer ofender alguém, chama de perdedor. O que vale não é o que você é e sim o que você aparenta. As pessoas precisam ter. E os que não têm nada dentro de si precisam ter mais ainda.”
Os que não têm nada dentro de si precisam ter mais ainda. E para ter mais ainda enchem o dia com atividades que dêem (!) dinheiro, pois vivem em um mundo, em que é preciso ter tudo. E na ilusão de conseguir ter tudo carecem do essencial. São de Robert Kennedy as seguintes palavras: “Os jovens têm tudo, só lhes falta o essencial”. Creio que tal falta atinge não só os jovens e sim a grande maioria, pois como diz Antoine de Saint-Exupéry, “É apenas com o coração que se pode ver direito; o essencial é invisível aos olhos”. E neste mundo, onde os olhos prevalecem sobre o coração, poucos enxergam direito.

A entrevista com Eduardo Mutarelli é muito interessante! Velejador nas horas vagas, ele relaxa a mente ouvindo o barulho da água no casco. “É preciso sentir o vento, ficar em silêncio”. Momentos solitários são fundamentais “para manter a cabeça boa”, acredita. Mas essa não é a crença da maioria, conforme demonstra algo que foi dito no início desta postagem.
“O dia passa voando, e no fim do dia mal são capazes de dizer se foi um dia excepcionalmente bom ou ruim. Mas quando conseguem livrar-se da pressa do cotidiano, sentem-se exaustos e desamparados. E só conseguem pensar em tudo o que não conseguiram fazer. Portanto, o jeito é arremessar-se outra vez no tumulto. Só não querem refletir! (...). Então, as pessoas tentam se encher de sons, ou se dopar por meio da agitação.”
Que tal abrir mão de uma das inúmeras atividades e encontrar tempo para refletir sobre as palavras do Abade Notker Wolf usadas como titulo para esta postagem?
“Quando o ser humano está vazio, ao menos o dia tem de ser cheio”.

Nenhum comentário: