sexta-feira, 10 de junho de 2011

A maioria


Os acompanhantes do Lendo e opinando não precisam ler esta postagem, pois ela contém uma opinião publicada naquele blog. Resolvi publicá-la também neste porque nem todos os que o acompanham visitam aquele blog e por considerar o assunto deveras merecedor de reflexões. A postagem no Lendo e opinando foi provocada pela seguinte notícia: Contra maioria, Obama não mostrará Bin Laden morto.

As duas primeiras palavras do título – Contra maioria – foram suficientes para despertar minha vontade de opinar sobre esta notícia. Por quê? Porque considero a ideia de maioria algo eficientemente usado por minorias com a finalidade de dominar a própria maioria. E como isto é feito? Fazendo as pessoas acreditarem que é bom pertencer à maioria. E a maioria, desacostumada da arte de pensar, acredita em tal engodo. É impressionante como as pessoas gostam de fazer parte da maioria! Elas nem se incomodam se estão na pior desde que estejam na maioria e fazem qualquer coisa para não estar na minoria. Dou-lhes um exemplo de algo ocorrido enquanto eu era funcionário da Petrobras.

Para implantar um novo plano de previdência privada a empresa necessitava da adesão de um determinado percentual (da maioria) dos funcionários. Feita a primeira tentativa o percentual não foi atingido. Feita uma segunda tentativa, mais uma vez a empresa não obteve êxito. Mas ao contrário da maioria, que desiste após o primeiro insucesso, a Petrobras fez mais uma tentativa e dessa vez conseguiu o que queria. A que se deve o êxito? A uma ideia muito simples: divulgar que a maioria estava aderindo ao novo plano. Com medo de ficar na minoria, a maioria aderiu ao novo plano. O tempo passou, provou que a mudança era prejudicial para os funcionários e mais uma vez a incauta maioria “se ferrou” (para não usar uma expressão mais contundente). A seguir são apresentados mais alguns exemplos de como a maioria só “se ferra”. Considero lamentável o desejo de pertencer à maioria.

A maioria é pobre ou é rica? A maioria trabalha em algo que goste? A maioria faz o quer ou o que lhe mandam fazer? Está satisfeita com o lugar onde vive? Está realizada com a situação em que vive? Está contente com o salário que recebe? Acho que agora exagerei! Vou parar por aqui e falar mais especificamente do tema da notícia.

Para que serve a maioria em termos de política? Para legitimar propostas elaboradas por minorias. Politicamente, a maioria só tem os desejos atendidos quando eles coincidem com os das minorias por ela legitimadas. Caso contrário ficará a ver navios e jamais terá o que deseja. Ou seja, uma vez eleitos, não será um simples desejo expresso através de uma pesquisa que fará os “representantes do povo” agirem em conformidade com um regime de governo que diz respeitar a vontade da maioria. Aliás, a maioria nem tem vontade; tem apenas desejos, pois ter vontade implica em fazer alguma coisa efetiva para que ela transforme-se em realidade.

As boas técnicas de redação condenam a repetição de palavras ao longo do texto, portanto, esta postagem fere de forma contundente tais técnicas. A ideia de repetir exaustivamente a palavra maioria tem o objetivo de lhes incutir ojeriza em relação à vontade de pertencer à maioria. Minha esperança é que cada vez mais aqueles que querem fazer parte da maioria constituam uma minoria. Como diz Ibsen:
“Uma minoria pode estar certa; a maioria está sempre errada.”
Concordo com tal opinião, pois a maioria é composta por seguidores de ideias propostas por minorias erradas. No meu entender, apenas uma maioria pode estar certa: a que for composta por quem defende o bem comum e não apenas seus próprios interesses. É uma maioria muito difícil de obter, mas da qual jamais deveremos desistir.

Em conformidade com a notícia que serviu de base a esta postagem, termino com as seguintes frases:
“Nem os fatos atuais nem a história mostram que a maioria impera ou já imperou alguma vez.” (Jefferson Davis)
“Não duvide que um pequeno grupo inteligente de cidadãos comprometidos possa mudar o mundo. Esta é, aliás, a única forma de consegui-lo”. (Margaret Mead)

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