quinta-feira, 19 de maio de 2011

O risco da ignorância (final)

Continuação de anteontem

O que nos leva ao paradoxo da ignorância na era atual: por um lado, somos constantemente bombardeados com as opiniões especializadas emitidas por pessoas de todo o tipo – algumas com os nomes acrescidos do título de Ph.D., outras não – que nos dizem exatamente o que pensar (apesar de raramente exporem os motivos pelos quais deveríamos pensar assim).

Por outro lado, a maioria de nós é composta por pessoas terrivelmente desacostumadas a praticar a venerável e vital arte de detectar baboseiras (ou, em termos mais elegantes, a arte do pensamento crítico), tão necessária em nossa sociedade moderna.

Podemos pensar no paradoxo de outra maneira: vivemos em uma era em que o conhecimento – no sentido de informação – é constantemente oferecido em tempo real por meio de computadores, smartphones, tabltes eletrônicos e leitores de livros digitais. Ainda assim, falta-nos a habilidade elementar de interpretar toda essa informação - a capacidade de encontrar as pepitas de ouro em meio ao cascalho. Somos massas ignorantes encharcadas de informação.

Pode ser, é claro, que a humanidade tenha sempre apresentado uma escassez de pensamento crítico.

É por isso que ainda nos permitimos ser convencidos a apoiar guerras injustas (e até a nos sacrificarmos nelas) ou a votar em pessoas cuja principal ocupação parece ser reunir para os ricos a maior riqueza que puderem acumular impunemente.

Esse é também o motivo pelo qual tantas pessoas são tapeadas por “médicos” homeopatas que lhes receitam pílulas de açúcar e também porque seguimos os conselhos dados por celebridades (em lugar de médicos de verdade) a respeito da vacinação de nossos próprios filhos.

No entanto, o pensamento crítico nunca foi tão necessário quanto agora, na era da internet.

No caso dos países desenvolvidos – e, cada vez mais, nos países em desenvolvimento – o problema não está mais no acesso à informação, mas sim na falta de capacidade de processar e interpretar essa informação.

Infelizmente, é improvável que universidades, escolas do ensino médio e até da educação infantil passem a oferecer, por conta própria, cursos obrigatórios de formação do pensamento crítico. A educação tem sido cada vez mais transformada em um sistema de commodities, no qual os “fregueses” (antes chamados de estudantes) são mantidos satisfeitos com currículos personalizados enquanto são preparados para o mercado de trabalho (em vez de serem preparados para agir como cidadãos e seres humanos responsáveis).

Isso pode e precisa mudar. No entanto, para tanto, é necessário um movimento comunitário que use os blogs, as revistas online e os jornais eletrônicos, os clubes do livro e os clubes sociais e tudo o mais que possa funcionar na promoção de oportunidades educacionais para o desenvolvimento do pensamento crítico. Caso contrário, conheceremos, em primeira mão, um futuro de profunda ignorância.

A próxima postagem apresenta reflexões sobre o risco da ignorância.

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