Massimo Pigliucci diz, em seu artigo intitulado O risco da ignorância, que o ponto de partida da sabedoria está no reconhecimento do quão pouco nós, de fato, conhecemos. Ou seja, reconhecer a própria ignorância é a primeira condição para atingir a sabedoria. E qual é a segunda? Dispor-se a buscar meios de adquirir conhecimentos capazes de eliminá-la. E quais são esses meios? Existem vários, mas esta postagem focaliza apenas aquele citado por Massimo Pigliucci e que é o mais comum: a aquisição a partir de informações que nos são oferecidas. Mas lidar com informações tem alguns problemas.
O primeiro é o equívoco de considerar informação e conhecimento como sinônimos. Informação - se for interpretada corretamente – gera conhecimento, mas em si própria ela não é conhecimento. Interpretar corretamente é algo sobre o qual falarei mais adiante.
O segundo problema é a abundância cada vez maior de informações disponíveis. Lidar com abundância de recursos e de possibilidades é sempre problemático, pois, geralmente, leva ao desperdício dos primeiros e a escolhas equivocadas das segundas. Escolher bem não é fácil, pois exige pensamento crítico na interpretação das opções e interpretar o que temos diante de nós talvez seja o que há de mais difícil na vida. O problema é que também é o que há de mais importante. Não foi à toa que escolhi para ilustrar o meu blog a seguinte frase de Ariston Santana Teles:
“Melhor vive quem melhor conhece; e melhor conhece quem melhor interpreta. Daí a necessidade de esforços cada vez maiores na iluminação do raciocínio.”
O texto de Massimo Pigliucci também fala sobre interpretação.
“(...) falta-nos a habilidade elementar de interpretar toda essa informação - a capacidade de encontrar as pepitas de ouro em meio ao cascalho. Somos massas ignorantes encharcadas de informação.”
E ainda sobre a importância da interpretação seguem algumas palavras de um livro intitulado A doença como caminho, de Thorwald Dethlefsen e Rüdiger Dahlke.
“Os fatos em si mesmos nunca têm muito sentido. O significado de um acontecimento só surge como resultado da sua interpretação; é esta que permite que tenhamos a apreensão total do seu significado. (...) Quando as pessoas deixam de interpretar os acontecimentos deste mundo e o decurso do seu destino, sua vida mergulha na insignificância e na falta de sentido.”
Consegui convencê-los da importância da interpretação? Espero que sim. O meu convencimento está expresso no próprio título deste blog:
“Espalhando ideiasque ajudem a interpretar a vida e provoquem ações para torná-la cada vez melhor.”
Quando Massimo Pigliucci diz que vivemos em uma era em que o conhecimento – no sentido de informação – é constantemente oferecido em tempo real por meio de computadores, smartphones, tablets eletrônicos e leitores de livros digitais, me faz lembrar de algo dito por Murray Gell-Mann em Informação versus conhecimento e entendimento.
“A ‘explosão da informação’, sobre a qual muito se comenta e escreve, é também, em grande medida, a explosão da informação errada e mal organizada (...). A revolução digital apenas agravou os problemas.”
Peter Drucker, a referência em administração, diz em Administrando em tempos de grandes mudanças que os executivos tornaram-se conhecedores de computadores, mas poucos entendem de informação.
Gosto muito do seguinte questionamento de T. S. Eliot.
“Onde está a vida que perdemos na existência?Onde está a sabedoria que perdemos no conhecimento?Onde está o conhecimento que perdemos na informação?”
Sabedoria, conhecimento e informação são conceitos inter-relacionados. A interpretação de informações produz conhecimento e a sabedoria possibilita usá-lo adequadamente. Portanto, as perdas citadas por T. S. Eliot – da sabedoria e do conhecimento – nos transformam em massas ignorantes encharcadas de informação.
Também gosto muito de um texto intitulado Escrever não, do livro Espelhos – uma história quase universal, de Eduardo Galeano.
“Uns cinco mil anos antes de Champollion, o deus Thot viajou a Tebas e ofereceu a Thamus, rei do Egito, a arte de escrever. Explicou aqueles hieróglifos, e disse que a escrita era o melhor remédio para curar a memória ruim e a pouca sabedoria.
O rei recusou o presente:
- Memória? Sabedoria? Esse invento produzirá o esquecimento. A sabedoria está na verdade, e não em sua aparência. Não se pode recordar com memória alheia. Os homens registrarão, mas não recordarão. Repetirão, mas não viverão. Serão informados, mas não saberão.”
As últimas palavras acima me fazem lembrar de algo que li em outro livro de Eduardo Galeano (De pernas pro ar – A escola do mundo ao avesso).
“Como diz o jornalista argentino Ezequiel Fernández-Moores, a propósito da informação: ‘Estamos informados de tudo, mas não sabemos de nada.’”
Por concordar com Massimo Pigliucci quando diz que a maioria de nós é composta por pessoas terrivelmente desacostumadas a praticar a venerável e vital arte de detectar baboseiras (ou, em termos mais elegantes, a arte do pensamento crítico), tão necessária em nossa sociedade moderna, ouso afirmar que para uma enorme quantidade de pessoas o risco da ignorância já se tornou realidade.
Do artigo de Massimo Pigliucci, discordo apenas do que foi dito sobre a homeopatia, pois já comprovei sua eficácia.
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