“Quando lhe pediram, em certa ocasião, para caracterizar a diferença entre a psicanálise de Freud e a logoterapia por ele desenvolvida, o prof. Viktor Frankl pediu ao interlocutor, um médico americano, que definisse em duas palavras a psicanálise. A resposta foi: ‘Na psicanálise, o paciente tem de deitar-se num divã e contar coisas que, às vezes, são muito desagradáveis de serem contadas’. Ao que o psiquiatra vienense retrucou: ‘Pois na logoterapia o paciente pode ficar sentado normalmente, mas tem de ouvir coisas que, às vezes, são muito desagradáveis de serem ouvidas’.”
O parágrafo acima evidencia a causa de uma das dificuldades para se encontrar sentido. A incapacidade da maioria de aguentar ouvir coisas desagradáveis que poderiam lhe ajudar a encontrar sentido, preferindo dar ouvidos àquilo que a mantém alienada.
Se ouvir já é insuportável, o que dizer sobre fazer coisas desagradáveis? Parece-me óbvio ser ainda pior. Então, o que faz a maioria? Terceiriza, ou seja, paga para que alguém faça por ela. E tal atitude causa a segunda dificuldade para matar a sede de sentido. Para explicar por que, recorro a algumas passagens de Sede de Sentido.
“O sentido de uma pessoa, coisa ou situação, não pode ser dado. Tem que ser encontrado pela própria pessoa – mas não dentro dela, porque isto iria contra a lei da autotranscendência do existir humano”.
(...) basta mencionar que esse ‘encontrar sentido’ está em estreita relação com a percepção da realidade – no sentido meramente psicológico.”
Se tem que ser encontrado pela própria pessoa e está em estreita relação com a percepção da realidade, como delegar tal tarefa a terceiros? Portanto, considerando a tendência da maioria de terceirizar a execução de tarefas que julga desagradáveis, aqui está a causa de mais uma dificuldade.
Uma terceira causa pode ser obtida a partir do que Viktor Frankl denomina lei da autotranscendência. Transcrevo a seguir o parágrafo inicial da passagem que no livro Sede de Sentido é intitulada "A Autotranscendência”.
“A vontade de sentido constitui, em meu entender, um dos aspectos básicos de um fenômeno antropológico fundamental a que dou o nome de ‘transcendência de si mesmo’. Esta autotranscendência do existir humano consiste no fato essencial de o homem sempre ‘apontar’ para além de si próprio, na direção de alguma causa a que serve ou de alguma pessoa a quem ama. E é somente na medida em que o ser humano se autotranscende que lhe é possível ‘realizar-se’ – tornar-se ‘real’ – a si próprio.”
Eis a terceira causa. A incapacidade de ‘apontar’ para além de si próprio, na direção de alguma causa a que serve ou de alguma pessoa a quem ama.
A cada dia que passa as pessoas vivem mais em função apenas de si próprias, na direção de seus mesquinhos interesses e sem alguma pessoa a quem amem, na verdadeira acepção da palavra. Aliás, o grande problema consiste em saber qual é o verdadeiro significado da palavra amor. E aí, em meio a tal ignorância que potencializa o que Viktor Frankl denomina vazio existencial e, talvez, apoiada pelas palavras de Freud, segundo as quais o amor não passa de sexualidade reprimida, a maioria passa a acreditar que o amor não existe, que tudo é sexo. E o resultado é algo que pode ser classificado como mais uma consequência da sede de sentido e que Viktor Frankl denominou a inflação da sexualidade.
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