Atendendo a um pedido de estudantes da Universidade Estadual da Geórgia, nos Estados Unidos, Viktor Frankl realizou, em 1973, uma conferência sobre um tema por eles escolhido: Estará doida a nova geração?
Na viagem rumo à universidade, em Athens, uma tempestade no aeroporto de Atlanta interrompeu os voos e a conexão foi adiada. Então, ele teve de tomar um táxi. Na viagem, que levou algumas horas, foi conversando com o motorista, um simpático velho negro. E no livro Sede de Sentido ele relata a conversa.
“Começou ele por perguntar-me: - ‘Que é que o senhor vai fazer em Athens com um tempo destes?’ – ‘Tenho que dar lá uma conferência’. - Qual é o tema? Disse-lhe o título da palestra, ‘Estará doida a nova geração?’, e ele riu. – ‘Por que é que o senhor está rindo?’, perguntei-lhe. ‘Gostaria de dar a palestra em meu lugar e deixar que eu dirigisse o carro?’ – ‘Bem, eu não saberia por onde começar’. – ‘Por que não? Afinal de contas, o senhor conhece a nova geração do seu país melhor do que eu!’ Ele insistiu no seu ‘eu não saberia fazê-lo’. Foi somente quando me pus sério e lhe perguntei o que pensava efetivamente sobre o tema que ele me respondeu, palavra por palavra: ‘É claro que estão doidos. Matam-se a si próprios, matam-se uns aos outros e tomam drogas’.”
Viktor Frankl diz ter começado aquela conferência com as palavras do taxista, por considerá-las muito exatas. Segundo ele, ali estavam caracterizados pelo senso comum os três sintomas básicos da neurose coletiva daquela época: depressão, agressão e adicção (dependência de drogas).
Depressão, agressão e dependência de drogas, três consequências da sede de sentido experimentada pela doida nova geração daquela época. Daquela, e desta, pois o tempo passou e a doidice aumentou. A cada dia surge uma nova droga e as pessoas estão cada vez mais deprimidas e mais agressivas. Após trinta e sete anos, permanece válida a questão levantada pelos estudantes da Universidade Estadual da Geórgia: Estará doida a nova geração? Uma demonstração de tal validade é um artigo publicado em 16.11.2010, no jornal Folha de São Paulo, assinado por Fernando de Barros e Silva e intitulado: O que vai ser quando crescer? (os grifos são meus)
“O grupo de jovens que agrediu pelo menos três rapazes por volta das 6h30 de anteontem, na avenida Paulista, estuda num colégio particular. Menos de 15% dos adolescentes nessa faixa etária frequentam escolas privadas em São Paulo; o resto está na escola pública ou fora da escola.Além disso, desde o primeiro instante os agressores contaram com a proteção de pelo menos um advogado. É, em tese, um direito de todos, embora, na prática, seja mais um indicador de privilégio social.Os jovens já estão em casa. (...)Há fortes indicações de que os garotos agiram movidos por homofobia. Isso apesar dos esforços do advogado – que está ali para reduzir danos dos clientes e não para dizer a verdade – para caracterizar o episódio como mera 'confusão'.Quase todos já fizeram porcaria quando jovens. É a fase da explosão hormonal e da vitalidade física, dos exageros e da insensatez, dos impulsos para desafiar o perigo, das transgressões e dos ritos de afirmação diante dos (e com os) colegas. Mas a juventude também é o período em que fixamos os valores que vão nos servir de norte na vida adulta. O que pretendem ser quando crescer os meninos bem nascidos que se divertiam distribuindo pauladas em inocentes em plena Paulista no feriadão escolar?”
Estes espancaram covardemente - pelo menos três rapazes - movidos por homofobia. Outros queimaram um índio que dormia em um banco de uma praça sob o pretexto de ser um mendigo. E outros mais espancaram uma mulher em um ponto de ônibus sob o pretexto de ser uma prostituta. E eles o que são? Meninos bem nascidos e mal criados que se divertem agredindo inocentes e dando vazão a sua absoluta falta de sentido na vida. O que serão quando crescerem? Uma versão revista e piorada daqueles que, em vez de lhes ensinarem os valores que lhes serviriam de norte na vida adulta, pagam advogados para livrá-los da detenção. Afinal, isto é coisa para marginais e não para jovens de família. É por isso que o conceito de família está cada vez mais vilipendiado. Quanta sede de sentido!
A frase final do artigo de Fernando de Barros e Silva mostra mais uma consequência da sede de sentido: achar que a vida se resume ao divertimento. E me faz lembrar de uma passagem de Sede de Sentido.
“Uma das minhas doutorandas em logoterapia da Universidade de Viena, que hoje reside e trabalha na República Federal da Alemanha, pôde estabelecer estatisticamente que no Wurschtelprater de Viena, um parque de diversões da capital austríaca, o índice de frustração, de vazio existencial, é significativamente mais alto do que na média da população vienense. Isto significa que as pessoas que se sentem frustradas na sua vontade de sentido tendem a refugiar-se em diversões baratas.”
Espancar jovens e mulheres, e transformar índios em tochas humanas devem, na minha opinião, ser classificadas como diversões baratas.
E como deve ser classificada a atitude de chegar em casa após passar mais um dia de trabalho realizando tarefas desprovidas de sentido e deixar-se sedar por um reality show sob o pretexto da necessidade de relaxar? Diversão barata? Creio que não. Classifico-a como adicção (dependência de drogas).
Nossa! Como é difícil matar a sede de sentido!
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