Tendo evitado a elaboração de uma
postagem do tipo "Reflexões provocadas por '.......'", devido à quantidade de
reflexões que poderiam ser provocadas por um longo texto, após uma postagem
encurtada composta de alguns trechos marcantes, minha vontade de elaborar uma
postagem associando algumas ideias a trechos da postagem anterior tornou-se
incontrolável.
"Personagens que definem o que é ser bonito, o que é ser bem-sucedido, o que é normal e o que é aceitável, moldam a imaginação infantil desde cedo. Se a escola doutrina pela disciplina, a mídia doutrina pelo desejo, transforma crianças em consumidores antes mesmo que aprendam a somar. Ensina-as a desejar antes que compreendam o valor de uma escolha. Aprisiona sua imaginação dentro de moldes fabricados em massa. Uma criança doutrinada se torna um adulto que não sabe questionar, que não consegue imaginar alternativas, que aceita como natural aquilo que lhe foi imposto.""Libertar a infância não significa abandoná-la à própria sorte ou transformá-la em um experimento sem direção, mas sim oferecer um ambiente fértil onde ela possa experimentar, errar, questionar e imaginar sem medo. Se quisermos uma sociedade mais justa, mais sábia e mais humana, precisamos começar pelo óbvio: permitir que nossas crianças sejam crianças, que descubram o mundo com seus próprios olhos, que façam perguntas sem medo, que duvidem sem culpa e que ousem imaginar sem limites. A arte, a filosofia e a imaginação são tratadas como luxos secundários quando na verdade deveriam estar no coração do processo educativo.""Em uma sociedade que glorifica a pressa e a produtividade, até mesmo as crianças são forçadas a viver em agendas lotadas de compromissos como se a brincadeira fosse perda de tempo. Rouba da criança o tempo de ser criança. Brincar, sonhar, explorar, errar e se reinventar tornam-se luxo em um mundo que já as coloca em cursos de idiomas, aulas de reforço, esportes competitivos e agendas dignas de executivos. Mas é justamente no brincar livre que se forjam habilidades profundas: a imaginação, a empatia, a autonomia, a resiliência. Brincar é ensaiar a vida, é criar mundos possíveis, é aprender sem a consciência pesada da obrigação.""A mente infantil é a última fronteira da liberdade. É nela que a imaginação ainda não foi colonizada pela propaganda, pelas normas sociais rígidas, pelas exigências de sucesso e de consumo. É nela que floresce a capacidade de maravilhar-se com o simples, de rir sem motivo, de perguntar sem medo."
Diante de
tantas citações sobre a imaginação (apresentadas no vídeo Estratégia
maligna do sistema para escravizar nossas crianças), o implacável método
das recordações sucessivas faz-me trazer para esta postagem um trecho de um episódio
de uma série de documentários apresentada no Clube de Documentários do canal Curta On. Sob o título Incertezas
Críticas, a série traz documentários de 26 minutos com um personagem central,
trazendo uma reflexão sobre o mundo contemporâneo, na visão de alguns dos mais
importantes intelectuais do presente. No referido episódio, o intelectual é o escritor
e ensaísta argentino Alberto Manguel (1948). O próximo parágrafo transcreve suas palavras
finais.
"Eu creio que nascemos com o impulso de sermos leitores, nascemos com inteligência, com imaginação. E desde que somos crianças, ainda com poucos meses, a sociedade faz um esforço enorme para educar-nos na estupidez, para fazer com que não sejamos inteligentes, que não sejamos imaginativos, que nos conformemos às normas, que não façamos perguntas, e que aceitemos respostas banais. Então, é preciso fazer da leitura um ato subversivo, para ir contra o que a sociedade nos quer impor. Mas isso, cada um deve fazer por si mesmo. Muitos o fazem."
Você
consegue enxergar nessas palavras de Alberto Manguel uma afinidade extrema com as
ideias passadas pela "trilogia" composta pelas postagens intituladas Estratégia maligna
do sistema para escravizar nossas crianças elaboradas pela transcrição do vídeo homônimo? Vídeo do qual foi extraído também
o próximo parágrafo.
"Em uma sociedade que glorifica a pressa e a produtividade, até mesmo as crianças são forçadas a viver em agendas lotadas de compromissos como se a brincadeira fosse perda de tempo. Rouba da criança o tempo de ser criança. Brincar, sonhar, explorar, errar e se reinventar tornam-se luxo em um mundo que já as coloca em cursos de idiomas, aulas de reforço, esportes competitivos e agendas dignas de executivos. Mas é justamente no brincar livre que se forjam habilidades profundas: a imaginação, a empatia, a autonomia, a resiliência. Brincar é ensaiar a vida, é criar mundos possíveis, é aprender sem a consciência pesada da obrigação."
E ao ler um
texto que fala sobre roubar da criança o tempo de ser criança, de já colocar as
crianças em cursos de idiomas, aulas de reforço, esportes competitivos e
agendas dignas de executivos, o método das recordações sucessivas faz-me trazer para estas reflexões alguns links para postagens que têm muito a ver com
tais coisas.
... 13.05.2011 ....... Era uma vez uma infância
... 24.08.2015 ....... A criança e a infância
... 03.09.2015 ....... Contas sem faz de conta
... 09.09.2015 ....... Reflexões provocadas por “Contas sem faz de conta”
Ou seja,
desde o seu início, este blog interessa-se muito por crianças e pela infância.
Até porque, como é dito da postagem publicada em 28 de agosto de 2015, “Se o mundo tem solução, é através da criança”. O próximo parágrafo é mais um
extraído do magnífico vídeo que, no meu entender, seria imperdoável não
comentar.
"Assim, a sala de aula se transforma em uma extensão da máquina social, uma réplica em miniatura do mundo adulto que espera por essas crianças. Competitivo, hierarquizado, sufocante. A mesa enfileirada diante do quadro é o prelúdio das baias de escritório. A prova cronometrada é o treino para a pressão dos prazos. A nota é a preparação para o salário que mede não o valor humano, mas a utilidade produtiva."
Uma
analogia, simplesmente, magistral! Você concorda?
"Uma verdadeira educação também significa oferecer múltiplas perspectivas para que a criança aprenda desde cedo que não existe uma única forma de interpretar o mundo. Assim, em vez de um cidadão moldado para obedecer, surge um indivíduo capaz de escolher conscientemente, de decidir seus valores, de trilhar seu próprio caminho. Pais e educadores nesse processo deixam de ser doutrinadores para se tornarem guias. Não são escultores que esculpem à força um modelo pronto, mas jardineiros que nutrem o crescimento natural de cada árvore. Eles apontam horizontes, mas não cortam asas. Mostram caminhos, mas não obrigam passos. Oferecem ferramentas, mas não impõem muros."
Em outras palavras, em vez de moldadores de indivíduos
obedecedores em trilhar caminhos determinados por outros, pais e educadores
devem ser estimuladores de indivíduos no sentido de tornarem-se capazes de
escolher conscientemente seus próprios caminhos, e de decidir seus próprios
valores.
E diante da ideia expressa no parágrafo anterior, a
prática das recordações sucessivas faz-me trazer para estas reflexões a seguinte
frase de Antoine de Saint-Exupéry:
"Se quiseres construir um navio, não reúna pessoas para elaborar planos, distribuir tarefas, buscar ferramentas, cortar madeira, mas desperta nelas o desejo de buscar a amplidão dos mares. Então, elas construirão o navio por si."
Mutatis mutandis, "Se quiseres construir um mundo
melhor, não reúna crianças para lhes apontar horizontes, mostrar caminhos,
obrigar passos, oferecer ferramentas, mas desperta nelas o desejo de buscar a
amplidão da fraternidade. Então, elas construirão um mundo melhor por si."
"Uma educação verdadeiramente transformadora não mede o valor de uma criança por suas notas ou diplomas, mas pela sua capacidade de ser livre, crítica e criativa. Uma criança quando ainda não contaminada pelos padrões rígidos e interesses ocultos da sociedade enxerga o mundo com olhos limpos capazes de ver beleza onde o adulto já só vê utilidade."
"Ter a
capacidade de enxergar o mundo com olhos limpos capazes de ver beleza onde o
adulto já só vê utilidade." Há dinheiro que pague isso? Os três parágrafos finais são transcritos do magnífico vídeo Estratégia maligna do sistema para
escravizar nossas crianças.
"Resistir à doutrinação infantil é lutar pelo futuro da humanidade. Cada criança que cresce com liberdade de pensamento, é uma fagulha que desafia o conformismo. O futuro não será decidido apenas por tecnologias ou políticas, mas pelo tipo de infância que cultivarmos hoje, e é essa decisão, silenciosa e cotidiana que definirá não apenas a vida de cada criança, mas o destino de toda a civilização. E se queremos um futuro diferente, é preciso começar agora com a coragem de romper com o velho modelo e plantar na infância as sementes de uma humanidade mais lúcida, mais autônoma e, sobretudo, mais livre.""Uma humanidade adestrada é uma humanidade condenada. Mas uma humanidade que ousa cultivar a liberdade desde cedo é uma humanidade que se renova, que encontra forças para reescrever sua história, que ainda pode sonhar com o mundo mais justo. Se quisermos uma sociedade mais justa, mais sábia e mais humana, precisamos começar pelo óbvio: permitir que nossas crianças sejam crianças, que descubram o mundo com seus próprios olhos, que façam perguntas sem medo, que duvidem sem culpa e que ousem imaginar sem limites.""A escolha está diante de nós. Ou aceitamos que nossas crianças sejam moldadas para servir a engrenagens invisíveis ou ousamos romper o ciclo e devolver-lhes o direito de pensar, imaginar e viver plenamente. Essa escolha não é abstrata, mas concreta, ela está na forma como educamos, como dialogamos, como permitimos ou não que a curiosidade floresça."