Em uma hipotética retrospectiva
do ano 2025 feita por mim, inevitavelmente, nela constaria a descoberta do
livro "A Bula de Cada Criança - O olhar humanista de uma pediatra sobre
como cuidar dos filhos sem receita pronta", de autoria do pediatra Roberto
Cooper, publicado em 2024. Intitulado "A Bula de Cada
Criança", em sua primeira orelha, o livro traz a BULA DO LIVRO. Constando
de dez itens, dela extraí os três primeiros para reproduzir neste preâmbulo.
1. Para quem este livro é indicado?Pais, educadores e profissionais de saúde que lidam com crianças, interessados em um olhar humanista sobre como cuidar delas.2. Como o livro funciona?Ativando a criatividade e o senso de competência, autonomia e independência dos pais, provocando os profissionais da saúde a (re) pensar sua prática.3. Quem não deve ler este livro?Pais, educadores e profissionais de saúde em busca de normas, regras, estatísticas, diretrizes e receitas prontas de como cuidar de filhos e crianças.
O próximo
parágrafo reproduz um trecho da Apresentação
feita pelo autor.
"Outra motivação foi a de mostrar aos pais que eles sabem muito mais a respeito de seus filhos do que imaginam. Em um mundo de especialistas em tudo, onde é preciso transformar-se no melhor no que se faz, ser mãe e pai ficou difícil. 'Certamente há alguém que entende de bebês e crianças mais do que nós' é um pensamento recorrente, mas uma mentira. Quem entende dos filhos são os pais. Acho importante ainda desmedicalizar a saúde, outra proposta do livro."
Após as
palavras do autor reproduzidas acima, seguem algumas coisas que não consigo
deixar de falar sobre o livro. No meu entender, A Bula de Cada Criança, deveria
ser lido não só pelos pais, mas também por todos (as) aqueles (as) que, de
alguma forma, interagem com o bebê. Pelos pais para que sintam-se estimulados a
(como é dito no parágrafo acima) tornarem-se "sujeitos ativos no processo
de cuidar dos seus filhos". Por aqueles (as) que, de alguma forma,
interagem com o bebê para que sintam-se desestimulados a enxergarem-se
"como alguém que entende de bebês e crianças mais do que os pais".
Na
condição de avô, comprei um exemplar para a minha filha e um para mim. Na
condição de alguém que mantém um blog intitulado Espalhando ideias,
recomendo, a quem estiver em uma das duas condições citadas no início deste
parágrafo, que compre o seu exemplar e o leia com a devida atenção. Feito este
longo preâmbulo, vamos a mais um instigante texto do livro "A Bula de
Cada Criança - O olhar humanista de uma pediatra sobre como cuidar dos filhos
sem receita pronta".
Lá vem o ano novo!
Me inspiro em Bela, uma linda menina de 3 anos, para escrever sobre a mudança de ano. Ela veio ao consultório porque estava com um machucado no dedo. Ao chegar, disse: "Te vi na televisão"! Eu desconversei: "Seu vestido é lindo.' "É de flores", respondeu Bela. Logo no início da consulta, ela me avisou: "Não gosto de injeção". A consulta transcorreu com a Bela interagindo, me contando coisas, pedindo abaixadores de língua coloridos, depois me dando alguns, para retomá-los a seguir. Quando perguntei se poderia examiná-la, subiu sozinha na maca e aguardou o momento de que mais gosta: ser medida. Me contou da viagem que iria fazer, do Hulk vermelho que ganhou, de como ela mora em um andar alto que mais parece uma torre. Eu disse que era a torre da princesa e ela, com olhar pensativo, disse apenas: "É"!
O leitor deve estar se perguntando: mas o que foi que a Bela disse que me fez saber o que escrever a respeito do ano novo. Ela não disse nada! Ela me mostrou tudo! Ela me mostrou que, para as crianças, o ano novo acontece todos os dias. Os sonhos por se realizar povoam suas cabeças e tudo é possível para elas. Me mostrou que, sem pudores culturais ou sociais, a espontaneidade brota de uma forma genuína e deliciosa. Ao brincar com a régua de medir crianças ou subir fascinada na balança, confirmou que tudo pode ser o que é e outra coisa, lúdica, ao mesmo tempo. Não há necessidade de classificações rígidas, imutáveis, engessando o mundo. Ao falar de si, da cor dos seus olhos, do vestido, do Hulk, me dizia o tempo todo: eu gosto de mim e me sinto muito bem e segura! Enquanto eu explicava a prescrição para os pais, Bela continuava conversando, falando de cores, desenhos, objetos que tinha em casa, e um tema engrenava no outro com uma fluidez admirável. Finalmente, ao ir embora, me ofereceu um beijo e um abraço muito forte. Nenhuma vergonha ou inibição em demonstrar o seu afeto.
Então, o que Bela me mostrou é que, se formos atentos e observarmos carinhosamente nossos filhos, não só lhes ensinaremos coisas fundamentais para a vida, mas poderemos aprender com eles a resgatar aspectos que a maturidade e os compromissos sociais nos fazem esquecer ou ocultar sob um manto de vergonha.
Desejo a todos os pais que possam, através dos filhos, celebrar a vida todos os dias e não só em datas convencionadas. Que possamos ser espontâneos, sonhadores, brincalhões, alegres, criativos, seguros de nós mesmos, desengessando (existe isso?) o cotidiano de códigos e classificações rígidas.
Finalmente e, principalmente, que possamos, como a Bela fez, beijar e abraçar as pessoas de que gostamos, sem pudor, sem receio, sem esperar os dias "certos".
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"Ela (Bela) me mostrou que, para as crianças, o ano novo acontece todos os dias. Me mostrou que, sem pudores culturais ou sociais, a espontaneidade brota de uma forma genuína e deliciosa. Não há necessidade de classificações rígidas, imutáveis, engessando o mundo."
E diante do que é dito no parágrafo anterior pelo pediatra Roberto Cooper, Bela (uma linda menina de três anos) me fez pensar o seguinte: a convivência com adultos, vai tirando das crianças "a espontaneidade que brota de uma forma genuína e deliciosa", e nelas instalando uma artificialidade desenvolvida de uma forma interesseira e ardilosa. Segue mais um trecho do texto do pediatra.
"Finalmente, ao ir embora, me ofereceu um beijo e um abraço muito forte. Nenhuma vergonha ou inibição em demonstrar o seu afeto. Então, o que Bela me mostrou é que, se formos atentos e observarmos carinhosamente nossos filhos, não só lhes ensinaremos coisas fundamentais para a vida, mas poderemos aprender com eles a resgatar aspectos que a maturidade e os compromissos sociais nos fazem esquecer ou ocultar sob um manto de vergonha."
"Oferecer
um beijo e um abraço muito forte, sem nenhuma vergonha ou inibição em
demonstrar o seu afeto.", eis o gesto de uma criança que ainda consegue
manter sua espontaneidade. Oferecer um aperto de mão, muitas vezes forte
demais, com algum fingimento ou inibição, eis o gesto de um adulto que não
consegue disfarçar sua artificialidade.
"Todas
as pessoas grandes foram um dia criança, mas poucas se lembram disso," eis
uma conhecida afirmação de Antoine de Saint-Exupéry. Por que cito-a nesta
postagem? Para associá-la ao que é dito pelo pediatra Roberto Cooper no próximo
parágrafo.
"Desejo a todos os pais que possam, através dos filhos, celebrar a vida todos os dias e não só em datas convencionadas. Que possamos ser espontâneos, sonhadores, brincalhões, alegres, criativos, seguros de nós mesmos, desengessando (existe isso?) o cotidiano de códigos e classificações rígidas."
Você consegue enxergar que, em última análise, o
que o pediatra "deseja a todos os
pais que possam, é, através dos filhos", lembrar que foram um dia criança?
Dito isto, creio que a melhor maneira de encerrar esta postagem que encerra as postagens deste ano é repetir o trecho que
encerra o belo texto que o pediatra Roberto Cooper elaborou inspirado em Bela,
uma linda menina de três anos:
"Finalmente e, principalmente, que possamos, como a Bela fez, beijar e abraçar as pessoas de que gostamos, sem pudor, sem receio, sem esperar os dias 'certos'."