terça-feira, 9 de dezembro de 2025

Reflexões provocadas pela postagem anterior

Tendo evitado a elaboração de uma postagem do tipo "Reflexões provocadas por '.......'", devido à quantidade de reflexões que poderiam ser provocadas por um longo texto, após uma postagem encurtada composta de alguns trechos marcantes, minha vontade de elaborar uma postagem associando algumas ideias a trechos da postagem anterior tornou-se incontrolável.
"Personagens que definem o que é ser bonito, o que é ser bem-sucedido, o que é normal e o que é aceitável, moldam a imaginação infantil desde cedo. Se a escola doutrina pela disciplina, a mídia doutrina pelo desejo, transforma crianças em consumidores antes mesmo que aprendam a somar. Ensina-as a desejar antes que compreendam o valor de uma escolha. Aprisiona sua imaginação dentro de moldes fabricados em massa. Uma criança doutrinada se torna um adulto que não sabe questionar, que não consegue imaginar alternativas, que aceita como natural aquilo que lhe foi imposto."
"Libertar a infância não significa abandoná-la à própria sorte ou transformá-la em um experimento sem direção, mas sim oferecer um ambiente fértil onde ela possa experimentar, errar, questionar e imaginar sem medo. Se quisermos uma sociedade mais justa, mais sábia e mais humana, precisamos começar pelo óbvio: permitir que nossas crianças sejam crianças, que descubram o mundo com seus próprios olhos, que façam perguntas sem medo, que duvidem sem culpa e que ousem imaginar sem limites. A arte, a filosofia e a imaginação são tratadas como luxos secundários quando na verdade deveriam estar no coração do processo educativo."
"Em uma sociedade que glorifica a pressa e a produtividade, até mesmo as crianças são forçadas a viver em agendas lotadas de compromissos como se a brincadeira fosse perda de tempo. Rouba da criança o tempo de ser criança. Brincar, sonhar, explorar, errar e se reinventar tornam-se luxo em um mundo que já as coloca em cursos de idiomas, aulas de reforço, esportes competitivos e agendas dignas de executivos. Mas é justamente no brincar livre que se forjam habilidades profundas: a imaginação, a empatia, a autonomia, a resiliência. Brincar é ensaiar a vida, é criar mundos possíveis, é aprender sem a consciência pesada da obrigação."
"A mente infantil é a última fronteira da liberdade. É nela que a imaginação ainda não foi colonizada pela propaganda, pelas normas sociais rígidas, pelas exigências de sucesso e de consumo. É nela que floresce a capacidade de maravilhar-se com o simples, de rir sem motivo, de perguntar sem medo."
Diante de tantas citações sobre a imaginação (apresentadas no vídeo Estratégia maligna do sistema para escravizar nossas crianças), o implacável método das recordações sucessivas faz-me trazer para esta postagem um trecho de um episódio de uma série de documentários apresentada no Clube de Documentários do canal Curta On. Sob o título Incertezas Críticas, a série traz documentários de 26 minutos com um personagem central, trazendo uma reflexão sobre o mundo contemporâneo, na visão de alguns dos mais importantes intelectuais do presente. No referido episódio, o intelectual é o escritor e ensaísta argentino Alberto Manguel (1948). O próximo parágrafo transcreve suas palavras finais.
"Eu creio que nascemos com o impulso de sermos leitores, nascemos com inteligência, com imaginação. E desde que somos crianças, ainda com poucos meses, a sociedade faz um esforço enorme para educar-nos na estupidez, para fazer com que não sejamos inteligentes, que não sejamos imaginativos, que nos conformemos às normas, que não façamos perguntas, e que aceitemos respostas banais. Então, é preciso fazer da leitura um ato subversivo, para ir contra o que a sociedade nos quer impor. Mas isso, cada um deve fazer por si mesmo. Muitos o fazem."
Você consegue enxergar nessas palavras de Alberto Manguel uma afinidade extrema com as ideias passadas pela "trilogia" composta pelas postagens intituladas Estratégia maligna do sistema para escravizar nossas crianças elaboradas pela transcrição do vídeo homônimo? Vídeo do qual foi extraído também o próximo parágrafo.
"Em uma sociedade que glorifica a pressa e a produtividade, até mesmo as crianças são forçadas a viver em agendas lotadas de compromissos como se a brincadeira fosse perda de tempo. Rouba da criança o tempo de ser criança. Brincar, sonhar, explorar, errar e se reinventar tornam-se luxo em um mundo que já as coloca em cursos de idiomas, aulas de reforço, esportes competitivos e agendas dignas de executivos. Mas é justamente no brincar livre que se forjam habilidades profundas: a imaginação, a empatia, a autonomia, a resiliência. Brincar é ensaiar a vida, é criar mundos possíveis, é aprender sem a consciência pesada da obrigação."
E ao ler um texto que fala sobre roubar da criança o tempo de ser criança, de já colocar as crianças em cursos de idiomas, aulas de reforço, esportes competitivos e agendas dignas de executivos, o método das recordações sucessivas faz-me trazer para estas reflexões alguns links para postagens que têm muito a ver com tais coisas.
... 13.05.2011 ....... Era uma vez uma infância
... 24.08.2015 ....... A criança e a infância
... 03.09.2015 ....... Contas sem faz de conta
... 09.09.2015 ....... Reflexões provocadas por “Contas sem faz de conta”
Ou seja, desde o seu início, este blog interessa-se muito por crianças e pela infância. Até porque, como é dito da postagem publicada em 28 de agosto de 2015, “Se o mundo tem solução, é através da criança”. O próximo parágrafo é mais um extraído do magnífico vídeo que, no meu entender, seria imperdoável não comentar.
"Assim, a sala de aula se transforma em uma extensão da máquina social, uma réplica em miniatura do mundo adulto que espera por essas crianças. Competitivo, hierarquizado, sufocante. A mesa enfileirada diante do quadro é o prelúdio das baias de escritório. A prova cronometrada é o treino para a pressão dos prazos. A nota é a preparação para o salário que mede não o valor humano, mas a utilidade produtiva."
Uma analogia, simplesmente, magistral! Você concorda?
"Uma verdadeira educação também significa oferecer múltiplas perspectivas para que a criança aprenda desde cedo que não existe uma única forma de interpretar o mundo. Assim, em vez de um cidadão moldado para obedecer, surge um indivíduo capaz de escolher conscientemente, de decidir seus valores, de trilhar seu próprio caminho. Pais e educadores nesse processo deixam de ser doutrinadores para se tornarem guias. Não são escultores que esculpem à força um modelo pronto, mas jardineiros que nutrem o crescimento natural de cada árvore. Eles apontam horizontes, mas não cortam asas. Mostram caminhos, mas não obrigam passos. Oferecem ferramentas, mas não impõem muros."
Em outras palavras, em vez de moldadores de indivíduos obedecedores em trilhar caminhos determinados por outros, pais e educadores devem ser estimuladores de indivíduos no sentido de tornarem-se capazes de escolher conscientemente seus próprios caminhos, e de decidir seus próprios valores.
E diante da ideia expressa no parágrafo anterior, a prática das recordações sucessivas faz-me trazer para estas reflexões a seguinte frase de Antoine de Saint-Exupéry:
"Se quiseres construir um navio, não reúna pessoas para elaborar planos, distribuir tarefas, buscar ferramentas, cortar madeira, mas desperta nelas o desejo de buscar a amplidão dos mares. Então, elas construirão o navio por si."
Mutatis mutandis, "Se quiseres construir um mundo melhor, não reúna crianças para lhes apontar horizontes, mostrar caminhos, obrigar passos, oferecer ferramentas, mas desperta nelas o desejo de buscar a amplidão da fraternidade. Então, elas construirão um mundo melhor por si."
"Uma educação verdadeiramente transformadora não mede o valor de uma criança por suas notas ou diplomas, mas pela sua capacidade de ser livre, crítica e criativa. Uma criança quando ainda não contaminada pelos padrões rígidos e interesses ocultos da sociedade enxerga o mundo com olhos limpos capazes de ver beleza onde o adulto já só vê utilidade."
"Ter a capacidade de enxergar o mundo com olhos limpos capazes de ver beleza onde o adulto já só vê utilidade." Há dinheiro que pague isso? Os três parágrafos finais são transcritos do magnífico vídeo Estratégia maligna do sistema para escravizar nossas crianças.
"Resistir à doutrinação infantil é lutar pelo futuro da humanidade. Cada criança que cresce com liberdade de pensamento, é uma fagulha que desafia o conformismo. O futuro não será decidido apenas por tecnologias ou políticas, mas pelo tipo de infância que cultivarmos hoje, e é essa decisão, silenciosa e cotidiana que definirá não apenas a vida de cada criança, mas o destino de toda a civilização. E se queremos um futuro diferente, é preciso começar agora com a coragem de romper com o velho modelo e plantar na infância as sementes de uma humanidade mais lúcida, mais autônoma e, sobretudo, mais livre."
"Uma humanidade adestrada é uma humanidade condenada. Mas uma humanidade que ousa cultivar a liberdade desde cedo é uma humanidade que se renova, que encontra forças para reescrever sua história, que ainda pode sonhar com o mundo mais justo. Se quisermos uma sociedade mais justa, mais sábia e mais humana, precisamos começar pelo óbvio: permitir que nossas crianças sejam crianças, que descubram o mundo com seus próprios olhos, que façam perguntas sem medo, que duvidem sem culpa e que ousem imaginar sem limites."
"A escolha está diante de nós. Ou aceitamos que nossas crianças sejam moldadas para servir a engrenagens invisíveis ou ousamos romper o ciclo e devolver-lhes o direito de pensar, imaginar e viver plenamente. Essa escolha não é abstrata, mas concreta, ela está na forma como educamos, como dialogamos, como permitimos ou não que a curiosidade floresça."

terça-feira, 2 de dezembro de 2025

Alguns trechos marcantes do vídeo 'Estratégia maligna do sistema para escravizar nossas crianças'

Conforme explicado no final da anterior, esta postagem é composta de trechos extraídos do vídeo transcrito nas três anteriores. Trechos que por serem, por mim, considerados tão marcantes, levaram-me a com eles elaborar uma postagem cuja intenção é: preservando a essência do texto maior produzir um menor com a finalidade de estimular as pessoas a, periodicamente, relê-lo para que não deixemos cair no esquecimento as maravilhosas ideias contidas no magnífico vídeo publicado no canal "O Labirinto".
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Antes mesmo que uma criança descubra quem é, o mundo apressa-se em dizer quem ela deve ser. Assim, em vez de se tornarem exploradores do real, muitos pequenos se convertem em produtos de um sistema que não deseja indivíduos livres, mas peças úteis para sustentar estruturas já existentes.
A doutrinação funciona porque não dá tempo para o questionamento nascer. Implanta certezas antes que a dúvida seja capaz de germinar. Quando uma criança é ensinada a repetir sem questionar, a obedecer sem compreender, a aceitar sem refletir, sua capacidade crítica é amputada. Mas talvez o aspecto mais cruel dessa realidade seja que a doutrinação não é apresentada como opressão, e sim como cuidado.
A sociedade esconde o controle sob o disfarce da educação, da tradição, da cultura e até do amor. Pais e mestres dizem estar preparando para a vida, quando muitas vezes estão apenas ajustando os filhos a um padrão que os torna úteis ao sistema e dóceis à autoridade. O verdadeiro perigo não está naquilo que as crianças sabem, mas naquilo que nunca terão a chance de descobrir por si mesmas.O preço da doutrinação é a perda da autonomia. E a perda da autonomia é a morte da liberdade antes mesmo que ela seja vivida.
Se quisermos uma sociedade mais justa, mais sábia e mais humana, precisamos começar pelo óbvio: permitir que nossas crianças sejam crianças, que descubram o mundo com seus próprios olhos, que façam perguntas sem medo, que duvidem sem culpa e que ousem imaginar sem limites.
Quando uma criança aprende desde cedo que não deve levantar muitas perguntas, que deve apenas repetir o que foi dito, e seguir o que está escrito, ela está sendo preparada para a vida adulta como parte de uma engrenagem maior, é uma preparação para aceitar hierarquias sem questioná-las, para obedecer a regras sem refletir sobre sua justiça, para seguir tradições sem avaliar sua relevância.
Ao invés de cultivar a chama da curiosidade natural que toda criança traz consigo, a escola tende a abafá-la sob camadas de regras, repetições e verdades absolutas que não podem ser questionadas. É a educação transformada em treinamento, a aprendizagem reduzida à memorização, a criatividade sacrificada em nome da obediência. Essa estrutura não é neutra, ela serve a propósitos que ultrapassam os muros da escola.
Por trás dos currículos engessados, e dos métodos padronizados, esconde-se uma lógica de poder que utiliza a escola como ferramenta de manutenção da ordem. É por isso que disciplinas que estimulam a criatividade e o pensamento crítico são frequentemente desvalorizadas enquanto conteúdos que formam trabalhadores dóceis e previsíveis são priorizados.
A arte, a filosofia e a imaginação são tratadas como luxos secundários quando na verdade deveriam estar no coração do processo educativo. O que se deseja, em última instância, não é uma geração capaz de pensar por si mesma, mas uma geração que saiba se adaptar sem reclamar, que produza sem refletir, que consuma sem medir as consequências. Assim, a sala de aula se transforma em uma extensão da máquina social, uma réplica em miniatura do mundo adulto que espera por essas crianças. Competitivo, hierarquizado, sufocante.
A mesa enfileirada diante do quadro é o prelúdio das baias de escritório. A prova cronometrada é o treino para a pressão dos prazos. A nota é a preparação para o salário que mede não o valor humano, mas a utilidade produtiva. Ao invés de um espaço para florescer, a escola se torna um campo de treinamento para a obediência. E o mais trágico é que tudo isso é normalizado, vendido como educação de qualidade, quando no fundo se trata de um projeto silencioso de conformidade.
Mas a doutrinação não se limita aos muros da escola, ela se infiltra em cada tela, em cada propaganda, em cada desenho animado que a criança assiste. O entretenimento com suas cores vibrantes e canções cativantes, muitas vezes carrega mensagens ocultas, estereótipos sutis e valores cuidadosamente plantados. Personagens que definem o que é ser bonito, o que é ser bem-sucedido, o que é normal e o que é aceitável, moldam a imaginação infantil desde cedo. Se a escola doutrina pela disciplina, a mídia doutrina pelo desejo, transforma crianças em consumidores antes mesmo que aprendam a somar. Ensina-as a desejar antes que compreendam o valor de uma escolha. Aprisiona sua imaginação dentro de moldes fabricados em massa.
A criança não cresce livre, cresce moldada, manipulada, domesticada. Essa realidade nos conduz a uma revelação sombria: a verdadeira escravidão do futuro não está na falta de liberdade política, mas na ausência de liberdade interior. Uma criança doutrinada se torna um adulto que não sabe questionar, que não consegue imaginar alternativas, que aceita como natural aquilo que lhe foi imposto. Torna-se trabalhador dócil, consumidor previsível, cidadão manipulável.
No lar, espaço que deveria ser refúgio, a doutrinação muitas vezes ganha roupagem de tradição. É claro que educar uma criança exige transmitir valores, mas o problema começa quando a transmissão vira imposição, quando a orientação se transforma em sufocamento, quando o diálogo dá lugar ao é assim porque eu digo. A casa então deixa de ser um espaço de acolhimento e se torna mais uma engrenagem de modelagem, onde a espontaneidade da infância se dissolve sob o peso das expectativas. A maior prisão é aquela que a criança aprende a chamar de lar, escola, normalidade.
A sociedade moderna com sua pressa e seu culto à produtividade, acrescenta mais uma camada a essa doutrinação silenciosa. Rouba da criança o tempo de ser criança. Brincar, sonhar, explorar, errar e se reinventar tornam-se luxo em um mundo que já as coloca em cursos de idiomas, aulas de reforço, esportes competitivos e agendas dignas de executivos.
Resgatar o valor do ócio criativo é outro passo essencial. Em uma sociedade que glorifica a pressa e a produtividade, até mesmo as crianças são forçadas a viver em agendas lotadas de compromissos como se a brincadeira fosse perda de tempo. Mas é justamente no brincar livre que se forjam habilidades profundas: a imaginação, a empatia, a autonomia, a resiliência. Brincar é ensaiar a vida, é criar mundos possíveis, é aprender sem a consciência pesada da obrigação. O ócio criativo não é ausência de atividade, mas presença de um espaço fértil para que a criança se reinvente continuamente sem amarras e sem pressões externas.
A infância que deveria ser sinônimo de tempo livre, se converte em preparação ansiosa para um futuro que talvez nunca venha. E ao fazer isso, a sociedade não apenas doutrina, mas acelera o processo de alienação. Crianças aprendem que seu valor está no desempenho, que sua identidade está no sucesso, que sua aceitação depende de se encaixar. Assim, o ciclo se fecha. A escola exige obediência, a mídia exige consumo, a família exige repetição, e a sociedade exige produtividade.
Libertar a infância não significa abandoná-la à própria sorte ou transformá-la em um experimento sem direção, mas sim oferecer um ambiente fértil onde ela possa experimentar, errar, questionar e imaginar sem medo. É permitir que a criança descubra por si mesma o prazer do aprendizado, a alegria da curiosidade, a coragem da dúvida. Significa trocar a imposição pelo diálogo, a rigidez pela flexibilidade, a repetição pela exploração.  
Ensinar não o que pensar, mas como pensar. Essa deveria ser a máxima da verdadeira educação. A mente infantil não nasceu para decorar dogmas prontos, mas para navegar por mares de possibilidades. O grande desafio está em criar condições para que a criança não apenas acumule informações, mas aprenda a lidar com elas criticamente, a compará-las, a contextualizá-las, a questioná-las. Porque informação sem reflexão não é sabedoria, é apenas repetição mecânica. Nesse sentido, a escola que liberta não é aquela que entope de conteúdos, mas a que desperta perguntas. Não é a que entrega respostas definitivas, mas a que estimula a busca. Não é que cobra silêncio absoluto, mas a que acolhe vozes múltiplas, divergentes, criativas.
Uma verdadeira educação também significa oferecer múltiplas perspectivas para que a criança aprenda desde cedo que não existe uma única forma de interpretar o mundo. Isso implica contato com culturas diversas, com histórias diferentes, com visões contrastantes. Assim, em vez de um cidadão moldado para obedecer, surge um indivíduo capaz de escolher conscientemente, de decidir seus valores, de trilhar seu próprio caminho.
Pais e educadores nesse processo deixam de ser doutrinadores para se tornarem guias. Não são escultores que esculpem à força um modelo pronto, mas jardineiros que nutrem o crescimento natural de cada árvore. Eles apontam horizontes, mas não cortam asas. Mostram caminhos, mas não obrigam passos. Oferecem ferramentas, mas não impõem muros.
Uma educação verdadeiramente transformadora não mede o valor de uma criança por suas notas ou diplomas, mas pela sua capacidade de ser livre, crítica e criativa. Uma criança quando ainda não contaminada pelos padrões rígidos e interesses ocultos da sociedade enxerga o mundo com olhos limpos capazes de ver beleza onde o adulto já só vê utilidade.
A mente infantil é a última fronteira da liberdade. É nela que a imaginação ainda não foi colonizada pela propaganda, pelas normas sociais rígidas, pelas exigências de sucesso e de consumo. É nela que floresce a capacidade de maravilhar-se com o simples, de rir sem motivo, de perguntar sem medo. E justamente por isso, ela se torna alvo das forças de poder. Governos, religiões, sistemas educacionais e corporações sabem que quem controla a infância, controla o amanhã. Defender essa fronteira, portanto, é lutar contra a manipulação mais perversa de todas, aquela que rouba a liberdade antes mesmo que ela seja compreendida.
Resistir à doutrinação infantil é lutar pelo futuro da humanidade. Cada criança que cresce com liberdade de pensamento, é uma fagulha que desafia o conformismo. O futuro não será decidido apenas por tecnologias ou políticas, mas pelo tipo de infância que cultivarmos hoje, e é essa decisão, silenciosa e cotidiana que definirá não apenas a vida de cada criança, mas o destino de toda a civilização. E se queremos um futuro diferente, é preciso começar agora com a coragem de romper com o velho modelo e plantar na infância as sementes de uma humanidade mais lúcida, mais autônoma e, sobretudo, mais livre. E talvez, no fim das contas, a grande rebelião contra esse sistema de moldagem esteja em proteger a infância como o espaço da simplicidade, da curiosidade e da autenticidade.
Uma humanidade adestrada é uma humanidade condenada. Mas uma humanidade que ousa cultivar a liberdade desde cedo é uma humanidade que se renova, que encontra forças para reescrever sua história, que ainda pode sonhar com o mundo mais justo.
A escolha está diante de nós. Ou aceitamos que nossas crianças sejam moldadas para servir a engrenagens invisíveis ou ousamos romper o ciclo e devolver-lhes o direito de pensar, imaginar e viver plenamente. Essa escolha não é abstrata, mas concreta, ela está na forma como educamos, como dialogamos, como permitimos ou não que a curiosidade floresça.

segunda-feira, 17 de novembro de 2025

Estratégia maligna do sistema para escravizar nossas crianças (final)

Continuação de terça-feira da semana anterior
Ensinar não o que pensar, mas como pensar. Essa deveria ser a máxima da verdadeira educação. A mente infantil não nasceu para decorar dogmas prontos, mas para navegar por mares de possibilidades. O grande desafio está em criar condições para que a criança não apenas acumule informações, mas aprenda a lidar com elas criticamente, a compará-las, a contextualizá-las, a questioná-las. Porque informação sem reflexão não é sabedoria, é apenas repetição mecânica. Nesse sentido, a escola que liberta não é aquela que entope de conteúdos, mas a que desperta perguntas. Não é a que entrega respostas definitivas, mas a que estimula a busca. Não é que cobra silêncio absoluto, mas a que acolhe vozes múltiplas, divergentes, criativas.
Resgatar o valor do ócio criativo é outro passo essencial. Em uma sociedade que glorifica a pressa e a produtividade, até mesmo as crianças são forçadas a viver em agendas lotadas de compromissos como se a brincadeira fosse perda de tempo. Mas é justamente no brincar livre que se forjam habilidades profundas: a imaginação, a empatia, a autonomia, a resiliência. Brincar é ensaiar a vida, é criar mundos possíveis, é aprender sem a consciência pesada da obrigação. O ócio criativo não é ausência de atividade, mas presença de um espaço fértil para que a criança se reinvente continuamente sem amarras e sem pressões externas.
Uma verdadeira educação também significa oferecer múltiplas perspectivas para que a criança aprenda desde cedo que não existe uma única forma de interpretar o mundo. Isso implica contato com culturas diversas, com histórias diferentes, com visões contrastantes. É preciso romper o monopólio das narrativas oficiais e abrir espaço para que o jovem compreenda a complexidade da realidade. Assim, em vez de um cidadão moldado para obedecer, surge um indivíduo capaz de escolher conscientemente, de decidir seus valores, de trilhar seu próprio caminho.
Pais e educadores nesse processo deixam de ser doutrinadores para se tornarem guias. Não são escultores que esculpem à força um modelo pronto, mas jardineiros que nutrem o crescimento natural de cada árvore. Eles apontam horizontes, mas não cortam asas. Mostram caminhos, mas não obrigam passos. Oferecem ferramentas, mas não impõem muros.
Uma educação verdadeiramente transformadora não mede o valor de uma criança por suas notas ou diplomas, mas pela sua capacidade de ser livre, crítica e criativa. E se queremos um futuro diferente, é preciso começar agora com a coragem de romper com o velho modelo e plantar na infância as sementes de uma humanidade mais lúcida, mais autônoma e, sobretudo, mais livre. E talvez, no fim das contas, a grande rebelião contra esse sistema de moldagem esteja em proteger a infância como o espaço da simplicidade, da curiosidade e da autenticidade.
Uma criança quando ainda não contaminada pelos padrões rígidos e interesses ocultos da sociedade enxerga o mundo com olhos limpos capazes de ver beleza onde o adulto já só vê utilidade. Esse olhar é um patrimônio da humanidade, mas tem sido constantemente sufocado por um sistema que insiste em transformar seres livres em peças de engrenagens sociais, econômicas e ideológicas. Proteger a infância, portanto, não é apenas uma questão de amor ou de cuidado, mas um ato profundamente político e revolucionário, porque desafia a lógica que deseja moldar indivíduos desde cedo para que nunca aprendam a questionar.
Resistir à doutrinação infantil é lutar pelo futuro da humanidade. Cada criança que cresce com liberdade de pensamento, é uma fagulha que desafia o conformismo. Não se trata apenas de uma questão individual, mas de um fenômeno coletivo. Quando se permite que crianças sejam curiosas, criativas e autênticas estamos investindo na renovação do próprio espírito humano. São essas mentes não domesticadas que mais tarde ousarão inventar o novo, questionar os dogmas, desafiar as estruturas e propor caminhos alternativos. Por isso, cada vez que sufocamos essa liberdade, matamos não apenas a singularidade de um ser humano, mas diminuímos as chances de futuro para toda a espécie.
A mente infantil é a última fronteira da liberdade. É nela que a imaginação ainda não foi colonizada pela propaganda, pelas normas sociais rígidas, pelas exigências de sucesso e de consumo. É nela que floresce a capacidade de maravilhar-se com o simples, de rir sem motivo, de perguntar sem medo. E justamente por isso, ela se torna alvo das forças de poder. Governos, religiões, sistemas educacionais e corporações sabem que quem controla a infância, controla o amanhã. Defender essa fronteira, portanto, é lutar contra a manipulação mais perversa de todas, aquela que rouba a liberdade antes mesmo que ela seja compreendida.
Proteger a infância não é apenas um dever moral, mas uma questão de sobrevivência coletiva. Se formarmos gerações inteiras de indivíduos incapazes de pensar por si mesmos não haverá quem se levante contra injustiças, não haverá quem questione os absurdos, não haverá quem proponha alternativas ao caos.
Uma humanidade adestrada é uma humanidade condenada. Mas uma humanidade que ousa cultivar a liberdade desde cedo é uma humanidade que se renova, que encontra forças para reescrever sua história, que ainda pode sonhar com o mundo mais justo. A escolha está diante de nós. Ou aceitamos que nossas crianças sejam moldadas para servir a engrenagens invisíveis ou ousamos romper o ciclo e devolver-lhes o direito de pensar, imaginar e viver plenamente. Essa escolha não é abstrata, mas concreta, ela está na forma como educamos, como dialogamos, como permitimos ou não que a curiosidade floresça.
O futuro não será decidido apenas por tecnologias ou políticas, mas pelo tipo de infância que cultivarmos hoje, e é essa decisão, silenciosa e cotidiana que definirá não apenas a vida de cada criança, mas o destino de toda a civilização.
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Ao longo dos quatorze anos e dez meses de existência deste blog nele ocorreram algumas mudanças. O tamanho das postagens aumentou e, consequentemente, aumentou também o intervalo entre suas publicações, considerando que as pessoas têm mais o que fazer, e outras coisas para ler. Tipos de postagens foram criados, e um deles passou a ter uma grande quantidade de postagens elaboradas. Refiro-me às postagens do tipo "Reflexões provocadas por .......". Postagens nas quais alguns trechos da(s) postagem(ns) mais recente(s) são associados a algo que eu tenha lido ou ouvido, e que não tenha esquecido. O problema é que em relação ao texto espalhado pela "trilogia" composta pelas três postagens mais recentes seria complicadíssimo elaborar uma postagem desse tipo. Por quê? Por que a quantidade de associações a ser produzida seria muito grande.
Sendo assim, estou pensando em suceder a "trilogia" com uma postagem de um tipo que até hoje só teve uma postagem elaborada. Aquela publicada em 05 de abril de 2017 sob o título "Algumas passagens marcantes do documentário 'O Começo da Vida'". Postagem que, segundo a minha insuspeita opinião, merece muito ser lida.
"Alguns trechos marcantes do vídeo 'Estratégia maligna do sistema para escravizar nossas crianças'", eis o provável longo título da próxima postagem.

terça-feira, 11 de novembro de 2025

Estratégia maligna do sistema para escravizar nossas crianças (II)

Continuação de quarta-feira da semana anterior
Quando uma criança aprende desde cedo que não deve levantar muitas perguntas, que deve apenas repetir o que foi dito, e seguir o que está escrito, ela está sendo preparada para a vida adulta como parte de uma engrenagem maior, é uma preparação para aceitar hierarquias sem questioná-las, para obedecer a regras sem refletir sobre sua justiça, para seguir tradições sem avaliar sua relevância. Esse processo disfarçado de formação cidadã, muitas vezes é um mecanismo de reprodução social. Governos ganham cidadãos que não questionam; corporações recebem consumidores que não pensam antes de comprar, e as elites mantém intacto um sistema que depende da passividade coletiva.
Por trás dos currículos engessados, e dos métodos padronizados, esconde-se uma lógica de poder que utiliza a escola como ferramenta de manutenção da ordem. É por isso que disciplinas que estimulam a criatividade e o pensamento crítico são frequentemente desvalorizadas enquanto conteúdos que formam trabalhadores dóceis e previsíveis são priorizados. A arte, a filosofia e a imaginação são tratadas como luxos secundários quando na verdade deveriam estar no coração do processo educativo. O que se deseja, em última instância, não é uma geração capaz de pensar por si mesma, mas uma geração que saiba se adaptar sem reclamar, que produza sem refletir, que consuma sem medir as consequências. Assim, a sala de aula se transforma em uma extensão da máquina social, uma réplica em miniatura do mundo adulto que espera por essas crianças. Competitivo, hierarquizado, sufocante.
A mesa enfileirada diante do quadro é o prelúdio das baias de escritório. A prova cronometrada é o treino para a pressão dos prazos. A nota é a preparação para o salário que mede não o valor humano, mas a utilidade produtiva. Ao invés de um espaço para florescer, a escola se torna um campo de treinamento para a obediência. E o mais trágico é que tudo isso é normalizado, vendido como educação de qualidade, quando no fundo se trata de um projeto silencioso de conformidade. Uma escola assim não educa, ela condiciona, não liberta, aprisiona, não prepara para a vida, prepara para sobreviver dentro de um sistema que teme, acima de tudo, a rebeldia de uma mente livre.
Mas a doutrinação não se limita aos muros da escola, ela se infiltra em cada tela, em cada propaganda, em cada desenho animado que a criança assiste. O entretenimento com suas cores vibrantes e canções cativantes, muitas vezes carrega mensagens ocultas, estereótipos sutis e valores cuidadosamente plantados. Personagens que definem o que é ser bonito, o que é ser bem-sucedido, o que é normal e o que é aceitável, moldam a imaginação infantil desde cedo. E não se trata de inocência artística, mas de uma indústria bilionária que sabe exatamente o que está fazendo. Cada produto licenciado, cada brinquedo associado, cada narrativa repetida mil vezes nos ouvidos infantis, está pavimentando caminhos invisíveis na mente em formação. Se a escola doutrina pela disciplina, a mídia doutrina pelo desejo, transforma crianças em consumidores antes mesmo que aprendam a somar. Ensina-as a desejar antes que compreendam o valor de uma escolha. Aprisiona sua imaginação dentro de moldes fabricados em massa.
No lar, espaço que deveria ser refúgio, a doutrinação muitas vezes ganha roupagem de tradição. Pais, muitas vezes sem perceber, transmitem medos que não são seus, preconceitos herdados, visões de mundo engessadas, crenças impostas pela geração anterior. É claro que educar uma criança exige transmitir valores, mas o problema começa quando a transmissão vira imposição, quando a orientação se transforma em sufocamento, quando o diálogo dá lugar ao é assim porque eu digo. Assim a criança cresce não como indivíduo, mas como repetição. Reflexo dos desejos não realizados dos pais, eco das opiniões familiares, continuação de uma história que nunca escolheu escrever. A casa então deixa de ser um espaço de acolhimento e se torna mais uma engrenagem de modelagem, onde a espontaneidade da infância se dissolve sob o peso das expectativas.
A sociedade moderna com sua pressa e seu culto à produtividade, acrescenta mais uma camada a essa doutrinação silenciosa. Rouba da criança o tempo de ser criança. Brincar, sonhar, explorar, errar e se reinventar tornam-se luxo em um mundo que já as coloca em cursos de idiomas, aulas de reforço, esportes competitivos e agendas dignas de executivos.
A infância que deveria ser sinônimo de tempo livre, se converte em preparação ansiosa para um futuro que talvez nunca venha. E ao fazer isso, a sociedade não apenas doutrina, mas acelera o processo de alienação. Crianças aprendem que seu valor está no desempenho, que sua identidade está no sucesso, que sua aceitação depende de se encaixar. Assim, o ciclo se fecha. A escola exige obediência, a mídia exige consumo, a família exige repetição, e a sociedade exige produtividade.
A criança não cresce livre, cresce moldada, manipulada, domesticada. Essa realidade nos conduz a uma revelação sombria: a verdadeira escravidão do futuro não está na falta de liberdade política, mas na ausência de liberdade interior. Uma criança doutrinada se torna um adulto que não sabe questionar, que não consegue imaginar alternativas, que aceita como natural aquilo que lhe foi imposto. Torna-se trabalhador dócil, consumidor previsível, cidadão manipulável.
O perigo da doutrinação infantil não é apenas individual, mas civilizacional. Quando uma geração inteira cresce incapaz de pensar por si mesma, a humanidade inteira regride. O totalitarismo moderno não precisa de correntes visíveis, porque já aprisionou as correntes invisíveis da mente; não precisa de muros de concreto porque já construiu muros internos no imaginário. A maior prisão é aquela que a criança aprende a chamar de lar, escola, normalidade. No entanto, resistir é possível e mais do que possível é urgente.
A infância não pode continuar sendo sequestrada por um sistema que reduz sua potência criativa a meros padrões de comportamento. Libertar a infância não significa abandoná-la à própria sorte ou transformá-la em um experimento sem direção, mas sim oferecer um ambiente fértil onde ela possa experimentar, errar, questionar e imaginar sem medo. É permitir que a criança descubra por si mesma o prazer do aprendizado, a alegria da curiosidade, a coragem da dúvida. Significa trocar a imposição pelo diálogo, a rigidez pela flexibilidade, a repetição pela exploração. Não se trata de ausência de direção, mas de presença de confiança. A confiança de que cada ser humano é capaz de construir sua própria maneira de estar no mundo, desde que não lhe arranquem essa possibilidade, antes mesmo de florescer.
Termina na próxima segunda-feira

quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Estratégia maligna do sistema para escravizar nossas crianças (I)

Citado na postagem anterior, o vídeo que empresta o título a esta postagem (publicado em agosto deste ano em um canal no You Tube denominado “O Labirinto”) terá um terço dele transcrito nesta postagem. Por que a transcrição? Porque, em termos de provocação de reflexões, considero que entre a leitura e a audição de um texto, a leitura seja mais eficaz. Por quê? Porque enquanto a leitura ocorre na velocidade estabelecida pelo leitor, a audição ocorre na velocidade estabelecida pelo narrador. Sendo assim, quem lê pode deter-se em trechos do texto, relê-los, sublinhá-los, acrescentar-lhes observações etc, o que não é possível a quem ouve. Por que apenas um terço? Para tentar não afugentar leitores de curto fôlego para leituras, nestes tempos em que qualquer texto, que exceda uma indeterminada quantidade de linhas a cada dia menor, é considerado um textão. Feito este preâmbulo, passemos ao texto.
Estratégia maligna do sistema para escravizar nossas crianças
A mente de uma criança é como uma chama recém acesa: frágil, luminosa e cheia de potencial para iluminar caminhos desconhecidos. No entanto, em vez de protegida do vento da manipulação, essa chama é muitas vezes direcionada, controlada e moldada segundo os interesses de uma sociedade que teme a liberdade plena de pensamento.
A infância, que deveria ser o laboratório mais puro da curiosidade e da imaginação, transforma-se no primeiro campo de batalha das ideologias. Antes mesmo que uma criança descubra quem é, o mundo apressa-se em dizer quem ela deve ser. O que poderia florescer como autenticidade, diversidade e originalidade é forçado a caber em moldes estreitos que não foram feitos para libertar, mas para aprisionar. Assim, em vez de se tornarem exploradores do real, muitos pequenos se convertem em produtos de um sistema que não deseja indivíduos livres, mas peças úteis para sustentar estruturas já existentes.
O processo de doutrinação infantil é tão silencioso quanto eficiente. Ele não precisa de correntes visíveis, pois atua no invisível, na linguagem que se escolhe usar, nos modelos de comportamento apresentados como normais, nas histórias que se contam, nas imagens que se repetem. A televisão, as redes sociais, as escolas e até as famílias tornam-se instrumentos dessa engenharia mental. Uma criança que cresce ouvindo que o sucesso é medido por riqueza, dificilmente acreditará no valor da simplicidade. Um menino ou menina exposto diariamente a narrativas de medo, ódio ou hostilidade tende a carregar essas sementes até a vida adulta.
A doutrinação funciona porque não dá tempo para o questionamento nascer. Implanta certezas antes que a dúvida seja capaz de germinar. O perigo é profundo porque atinge o alicerce da identidade humana. Quando uma criança é ensinada a repetir sem questionar, a obedecer sem compreender, a aceitar sem refletir, sua capacidade crítica é amputada. Em nome de educar, muitas vezes se treina. Em nome de formar, frequentemente se deforma.
A criança que deveria ser um ser em construção, acaba reduzida a um espelho dos desejos, frustrações e interesses dos adultos que a rodeiam. Isso explica porque tantos adultos carregam angústias, traumas e crenças limitantes. Não nasceram de suas escolhas, mas das imposições que receberam ainda na inocência da infância. Mas talvez o aspecto mais cruel dessa realidade seja que a doutrinação não é apresentada como opressão, e sim como cuidado.
A sociedade esconde o controle sob o disfarce da educação, da tradição, da cultura e até do amor. Pais e mestres dizem estar preparando para a vida, quando muitas vezes estão apenas ajustando os filhos a um padrão que os torna úteis ao sistema e dóceis à autoridade. O verdadeiro perigo não está naquilo que as crianças sabem, mas naquilo que nunca terão a chance de descobrir por si mesmas. O preço da doutrinação é a perda da autonomia. E a perda da autonomia é a morte da liberdade antes mesmo que ela seja vivida. E, no entanto, mesmo diante dessa engrenagem poderosa há uma saída: resistir à tentação de controlar mentes infantis e devolver às crianças aquilo que lhes pertence por direito. O direito de pensar, de questionar, de sonhar, de imaginar, de se contrapor.
A sociedade não precisa de clones, precisa de indivíduos. Não precisa de repetidores, mas de criadores. Não precisa de seguidores cegos, mas de espíritos livres. Preservar a infância como espaço de autenticidade não é apenas uma questão de justiça com os pequenos, é uma questão de sobrevivência para toda a humanidade. Afinal, se todas as gerações forem moldadas para repetir, quem ousará inventar o novo?
A infância livre é a última fronteira da esperança. Se quisermos uma sociedade mais justa, mais sábia e mais humana, precisamos começar pelo óbvio: permitir que nossas crianças sejam crianças, que descubram o mundo com seus próprios olhos, que façam perguntas sem medo, que duvidem sem culpa e que ousem imaginar sem limites. O futuro não será construído por aqueles que aprenderam a obedecer cegamente, mas por aqueles que ousaram pensar livremente desde cedo.
A escola que poderia ser o grande templo da liberdade intelectual, muitas vezes se converte em um espaço de domesticação. Em vez de abrir portas para a criatividade, e para a reflexão crítica, transforma-se em um ambiente rígido onde o conhecimento deixa de ser descoberta e passa a ser imposição.
A promessa de formar indivíduos autônomos e conscientes cede lugar a um modelo que padroniza mentes e sufoca talentos únicos. Ao invés de cultivar a chama da curiosidade natural que toda criança traz consigo, a escola tende a abafá-la sob camadas de regras, repetições e verdades absolutas que não podem ser questionadas. Essa repetição constante não gera sabedoria, mas condicionamento; não gera liberdade, mas docilidade. É a educação transformada em treinamento, a aprendizagem reduzida à memorização, a criatividade sacrificada em nome da obediência. Essa estrutura não é neutra, ela serve a propósitos que ultrapassam os muros da escola.
Continua na próxima terça-feira