domingo, 24 de agosto de 2025

Quando você cala, alguém floresce

O simples fato de serem dotados de dois ouvidos e apenas uma boca, deveria tornar óbvia - aos integrantes de uma pretensa espécie inteligente do universo - a proporção adequada ao uso dos referidos órgãos: ouvir mais e falar menos. O problema é que a incapacidade de percepção de obviedades parece-me ser um dos graves defeitos apresentados pela maioria dos integrantes da referida espécie.
A edição 280 da revista Vida Simples, referente a junho de 2025, traz, em uma coluna intitulada Gente de Verdade, um instigante texto que, lido por mim, imediatamente, provocou-me o desejo de espalhá-lo por meio deste blog. Intitulado "Quando você cala, alguém floresce", o texto é de autoria de Jacqueline Pereira. No "rodapé" da coluna, Jacqueline é apresentada assim: "Jacqueline Pereira tem fé no ser humano. Idealizadora do projeto Gente de Verdade, ela também é especialista em pessoas, terapeuta holística, palestrante e condutora de imersões espirituais. Escreve todos os meses neste espaço. @gente.deverdade". Feito esse preâmbulo, segue o referido texto.
Quando você cala, alguém floresce
Rubem Alves, educador e escritor, dizia que "todo mundo quer aprender a falar, mas ninguém quer aprender a ouvir". Confesso: por muito tempo, fui assim. Ouvia com pressa, na verdade mal ouvia. Já estava preparando minha resposta enquanto o outro ainda se derramava. Eu não escutava, eu me adiantava. E, sem perceber, roubava o espaço sagrado onde a alma do outro poderia florescer.
Aprender a ouvir é um dos exercícios mais bonitos - e mais desafiadores - que a vida nos propõe. Isso porque escutar de verdade exige inteireza, e inteireza é mais do que atenção: é presença inteira, é deixar de ser o centro por alguns instantes para que o outro possa existir em nós.
O silêncio necessário à escuta não é apenas o da boca. É o silêncio do ego. Aquele ego que tem pressa, que quer intervir, responder, aconselhar, opinar, resolver, dar a última palavra. Mas quem escuta não tem missão de resolver, tem missão de acolher. Porque há dores que não pedem solução, pedem apenas espaço para respirar.
Escutar é uma forma de amor. Quando calamos para que o outro fale, estamos dizendo: "Você importa, sua história merece lugar, seus sentimentos são válidos". Sócrates dizia: "Fala, para que eu possa te ver". E talvez não haja forma mais bonita de ver alguém do que escutando com o coração.
A escuta verdadeira cura, aproxima, pacifica. Ela desarma mágoas, desfaz mal-entendidos, evita rupturas. E o mais surpreendente é que, ao escutarmos o outro com profundidade, algo em nós também se amansa e se transforma. É como se a alma, ao servir de abrigo, também fosse curada.
Rubem Alves, poeta do cotidiano, compara o exercício da "escutatória" ao mergulho marítimo. "No fundo do mar a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos. Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia... Que de tão linda nos faz chorar. Para mim, Deus é isto: a beleza que se ouve no silêncio. Daí a importância de saber ouvir os outros".
Mas como aprender a escutar? Primeiro, é preciso desacelerar. Escutar não combina com urgência, com afobação. Depois, aprender a esvaziar-se. Tirar do caminho os próprios julgamentos, opiniões e respostas prontas. Estar ali, inteiro, para o outro. E, acima de tudo, cultivar o silêncio interno, aquele que não se apressa em responder, mas se abre para compreender.
Ouvir com inteireza é oferecer ao outro a chance de florescer - e, nesse florescer, a gente também se transforma. Porque há uma beleza profunda e silenciosa em escutar: a beleza de deixar o amor falar - e ressoar -, sem dizer uma só palavra.

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