Continuação de 22 de setembro
"Por décadas, o conluio entre marcas e seus anunciantes instigou o pior da natureza humana e incitou as pessoas a tomarem decisões de consumo ecocidas: comer alimentos ultraprocessados, comprar um carro maior, trocar seu telefone perfeitamente funcional todo ano (e se você não tiver os meios, apenas assuma uma dívida e faça isso de qualquer maneira). Porque o que importa no final do dia - de acordo com a lógica perversa do crescimento infinito - é que as marcas continuem vendendo e as pessoas continuem comprando.", dizem Lourenço Bustani e Fritjof Capra.
"Quanto
mais você compra, mais você ganha", eis um slogan usado em uma propaganda do PagBank que vi pela primeira em 26 de
agosto de 2024 e que até o momento da publicação desta postagem era encontrável
em (https://www.youtube.com/watch?v=oW9I0JVq0Ow).
Uma propaganda que, imediatamente, me fez lembrar da imperdível história
intitulada O Velho Vendedor de Cebolas, reproduzida na postagem publicada em 15 de março de 2014.
Interessante é que pesquisando na internet verifiquei que tal slogan não é exclusividade
do PagBank. Até porque, mais do que
um slogan tal frase é na verdade um lema desta insana sociedade na qual tudo
foi tornado negócio.
"Caímos em uma armadilha decorrente da nossa capacidade enquanto espécie de projetar o futuro: embora por um lado isso nos dê a capacidade de desejar, por outro acabamos canalizando esse desejo para o que não é necessariamente do nosso melhor interesse. Nosso amor por 'coisas' adia continuamente a necessidade de encarar o vazio que estamos tentando preencher com o que consumimos. E ao amarmos as coisas erradas, esquecemos todas aquelas coisas dignas de amor, sendo a primeira delas a VIDA, em todas as suas formas.", dizem Bustani e Capra.
Cair em
armadilhas, eis algo inevitável quando se juntam "a capacidade de desejar" e a
incapacidade de enxergar o que se deve desejar; a incapacidade de enxergar "o que não é necessariamente do nosso
melhor interesse".
"Existem
coisas que o dinheiro não compra. Para todas as outras existe Mastercard", eis
um slogan criado em 1997 pela agência McCann-Erickson que tornou-se uma frase
famosa, e inesquecível.
Caindo
em mais uma armadilha (acreditar na veracidade da famosa afirmação "tempo é
dinheiro") as pessoas vendem todo o seu tempo para obter dinheiro que as possibilite
comprarem o máximo de coisas que o dinheiro pode comprar e, consequentemente,
ficam desprovidas do tempo que precisariam ter para obter as coisas que o
dinheiro não pode comprar, entre elas o AMOR.
"Nosso amor por 'coisas' adia continuamente a necessidade de encarar o vazio que estamos tentando preencher com o que consumimos. E ao amarmos as coisas erradas, esquecemos todas aquelas coisas dignas de amor, sendo a primeira delas a VIDA, em todas as suas formas.", dizem Bustani e Capra.
"Nosso amor
por 'coisas'" impede-nos de
enxergar que "As melhores coisas da vida não são coisas"; afirmação
que deveríamos enxergar como verdadeira.
"O biólogo e filósofo alemão Andreas Weber esclarece que 'o mundo não é uma agregação de coisas, mas sim uma sinfonia de relacionamentos entre muitos participantes'. A vida floresce em comunidades, em redes de relacionamentos.", dizem Bustani e Capra.
"O mundo não é uma agregação
de coisas, mas sim uma sinfonia de relacionamentos entre muitos participantes. A
vida floresce em comunidades, em redes de relacionamentos.", dizem Bustani
e Capra. Viver é relacionar-se, eis o
título de um pequeno grande livro da ativista social indiana Vimala Thakar
(1921 – 2009).
Ao ler que "a vida floresce em
comunidades", imediatamente, o velho método das recordações sucessivas faz-me
trazer para estas reflexões uma inesquecível afirmação feita pelo educador e
escritor, Ph.D., Severino Antônio, no imperdível documentário intitulado O
Começo da Vida: "Uma das grandes solidões do mundo contemporâneo é a
perda de comunidade. Perdemos esse sentido comunitário." Considerando que a
vida floresce em comunidades, será que faz sentido afirmar que com a perda de
comunidade a vida fenece? O que você acha?
Em vez da
vida em comunidades, a vida (sic) em condomínios fechados onde condôminos
chegam a orgulharem-se de não se relacionarem com aqueles que, simplesmente,
por possuírem poder aquisitivo parecido com o deles, com eles dividem um determinado
espaço, eis a escolha feita por aqueles que, em uma sociedade insanamente
desigual, conseguem (sabe-se lá até quando conseguirão) pagar para sobreviverem
dessa forma separatista.
"A ironia por trás da abdicação do amor como estratégia de sobrevivência é que os humanos são, na verdade, biologicamente programados para sentir, se regular e se relacionar. Nossos corpos são os sistemas mais sofisticados, organicamente movidos e enigmáticos que se pode imaginar. Tão complexos e, ainda assim, tão intuitivos. Tão ricos em suas partes individuais e, ainda assim, tão perfeitamente integrados. E após uma exploração mais profunda de alguns aspectos de nossa anatomia que raramente são discutidos na medicina ocidental, percebemos que, de fato, evoluímos para amar e 'nos conectar a um outro - seja o mundo, a pele, a comida ou o ar - para nos tornarmos nós mesmos', como afirma o biólogo e filósofo alemão Andreas Weber.", dizem Bustani e Capra.
Seres "biologicamente programados
para sentir, se regular e se relacionar" que, ironicamente, abdicam do amor como
estratégia de sobrevivência, e, também, ironicamente, autodenominam-se a
espécie inteligente do universo. E haja ironia, hein!
"Muitas vezes ouvimos que o amor é uma noção muito branda para a corrida selvagem de soma zero que são os negócios. Na realidade, os negócios estão demasiado doentes, entorpecidos e perdidos em si mesmos para perceber que o amor é, de fato, o ato mais sábio de coragem, compaixão e responsabilidade moral, essencial para nossa sobrevivência e nossa capacidade de prosperar.", dizem Bustani e Capra.
Muitas vezes esquecemos que, como
dizem Bustani e Capra, "Somente o amor nos ajudará a reconciliar e compartilhar
o fardo de termos nos tornado grandes demais, rápido demais. Logo, devemos
inocular noções de amor nos ambientes de negócios."
"Nossa hora da verdade é aqui e agora: ou nos reconectamos com o mais primitivo dos instintos humanos ou esta pode ser, de fato, nossa última dança. Uma maneira de se reconectar é desafiar a noção, em ambientes de negócios, de que 'pessoal' e 'profissional' são e devem ser dimensões do 'Eu' inteiramente diferentes, isoladas uma da outra."
Associando o parágrafo acima (um dos iniciais do
extraordinário artigo de Bustani e Capra) aos abaixo (os dois finais do referido artigo), entendo
que eu esteja encerando bem estas reflexões.
"Diego Badaró, um pioneiro no cultivo sustentável de cacau no Brasil, insiste que 'nós somos os jardineiros de nossas vidas'. Nada poderia estar mais perto da verdade, e ao concordar com isso, alguém pode perguntar: o que exatamente estamos plantando? De onde vem e para onde vai?""Para o bem ou para o mal, lenta, porém seguramente, estamos todos nos tornando responsáveis pelas respostas a essas perguntas. Que o amor vença nesse processo."
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