terça-feira, 6 de outubro de 2020

Reflexões provocadas por "Ambiente de trabalho mais diverso reacende debate sobre escuta ativa"

  "Você pode saber o que disse, mas nunca o que o outro escutou."

(Jacques Lacan [1901 - 1981])
"Técnica desenvolvida por psicólogos nos anos 1950 ensina ouvinte a se colocar no lugar do outro", diz o subtítulo da reportagem cujo título fala em "reacender debate sobre escuta ativa.", reproduzida na postagem anterior. Ou seja, há 70 anos, a autodenominada espécie inteligente do universo tem ao seu dispor algo que poderia ajudar seus integrantes a conviverem de forma harmoniosa, mas que a imensa maioria teima em não aprender. Ao contrário da boa vontade com que a maioria dos integrantes da dita espécie adere ao uso de toda e qualquer novidade tecnológica que lhe seja oferecida é enorme a má vontade para aderir a toda e qualquer novidade comportamental que a possibilitaria tornar-se melhor. É lamentável!
"Tecnologicamente estamos conectados, existencialmente estamos solitários", eis uma frase que ouvi recentemente em um documentário intitulado Fronteiras do Pensamento, apresentado na TV Cultura. Não tendo assistido o documentário desde o início, não sei quem é o autor da frase, pois na parte que assisti não mais foi mostrado o nome do entrevistado.
"Uma de suas premissas (da escuta ativa) é a de que ouvir atentamente não é uma atividade passiva e, assim como a oratória (habilidade de falar em público), pode ser treinada e desenvolvida.", diz Bruno Fávero em sua reportagem, fazendo-me lembrar as seguintes palavras do saudoso Rubem Alves (1933 – 2014):
"Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer um curso de escutatória. Mas acho que ninguém vai se matricular. Escutar é complicado e sutil."
A postagem publicada em 26 de setembro de 2012 reproduz um artigo de Rubem Alves intitulado Ouvir para aprender.
"Apesar da escuta ativa ser um conceito consolidado na literatura sobre o mundo corporativo, experimentos acadêmicos voltados a medir sua eficácia são relativamente novos. Ainda assim, alguns estudos apontam que a técnica pode contribuir para a melhora no ambiente de trabalho. Uma pesquisa de 2014 da Universidade Central da Flórida, nos Estados Unidos, por exemplo, indicou que o uso da escuta ativa faz as pessoas se sentirem melhor compreendidas em interações iniciais com desconhecidos.", diz Bruno Fávero em sua reportagem.
Tendo atuado no teatro corporativo, digo, no mundo corporativo durante 3,7 décadas, algo que jamais senti foi a necessidade de experimentos acadêmicos para medir a eficácia de coisas cuja medição não requer nada mais do que a nossa própria observação.
"O conceito (da escuta ativa) também pode ser útil para driblar as dificuldades de outra tendência do mercado, o trabalho remoto. De acordo com pesquisa online do Ibope Conecta feita no ano passado, 47% dos trabalhadores brasileiros fazem reuniões a distância.", diz Bruno Fávero em sua reportagem.
Potencializada pela pandemia, a atração pelo trabalho remoto será o assunto da próxima postagem.
"Saber ouvir, mais do que falar, talvez seja o elo que nos falta...", diz a frase final do e-mail enviado por um ex-colega de trabalho que provocou as duas postagens mais recentes.
"Saber ouvir, mais do que falar...", eis o que faltou a um usuário que procurou-me para reclamar de coisas que o sistema estava fazendo. Diante de algumas perguntas que lhe fiz sobre como ele interagia com o sistema, em tom agressivo, ele disse-me: "Guedes... eu vim aqui para fazer perguntas, não para responder". Bem, se você veio aqui apenas para fazer perguntas, você não entendeu o espírito da coisa, disse-lhe eu. "Será que você não percebe que as perguntas que lhe faço têm a finalidade de entender melhor o que você reclama para então responder-lhe? Será que você não entende que em uma verdadeira conversa as pessoas não são divididas em perguntadoras e respondedoras, e sim que elas podem atuar nos dois papéis?", perguntei-lhe. "Saber ouvir, mais do que falar...", eis o que faltou àquele usuário que jamais tornei a ver.
Ouvir, eis o componente final de um processo denominado comunicação que, envolve, basicamente, três elementos: emissor, mensagem e receptor.
Emissor - também chamado de locutor ou falante, é quem que emite a mensagem para um ou mais receptores.
Mensagem - conjunto de informações emitidas pelo locutor.
Receptor - também chamado de interlocutor ou ouvinte, é quem recebe a mensagem emitida pelo emissor.
Comunicação - processo cujo primeiro problema resulta do não reconhecimento de que nele existem muitos problemas. Problemas entre os quais incluo muitos explicáveis pela sábia advertência de Jacques Lacan (1901 – 1981) - "Você pode saber o que disse, mas nunca o que o outro escutou." Ou seja, o emissor pode saber o que disse, mas nunca o que o receptor escutou. Vocês já ouviram falar em mal entendido? Pois é. É esse o resultado obtido na maioria das vezes em que o receptor não é adepto da escuta ativa ou que o emissor não é adepto da fala clara.
Fala clara - que resulta em mensagens claras - e escuta ativa - que resulta em mensagens entendidas -, eis as condições imprescindíveis para o êxito na comunicação. Sendo assim, considerando aquilo que o usuário citado no episódio narrado no sexto parágrafo acima não conseguiu entender (que em uma verdadeira conversa os envolvidos atuam como emissores e como receptores), quando estiver participando de uma conversa, fale sempre com clareza e escute sempre de forma ativa. Será que fui claro?

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