sexta-feira, 31 de agosto de 2012

A importância de buscar: não saber é formidável (final)

Continuação de quarta-feira
A atitude de buscar resguarda a criança de tornar-se um adulto que "sabe tudo". Uma criança que não se pergunta, que não sabe buscar, perderá também sua chance de poder alcançar algo mais espiritual, de buscar dentro de si o porquê de estar na Terra e qual poderia ser sua função, sua utilidade. A necessidade de buscar lhe dará, quando for maior de idade, a possibilidade de buscar a verdade. E não há nada no mundo que produza tanto prazer, tanta felicidade real, como o encontro com a verdade, a própria e a alheia, que são a mesma! No momento em que ela aparece, dá vida a tudo. Porém, o preço que devemos pagar por ela é alto. Necessitamos fazer muitos esforços antes de presenciar ou vivenciar uma verdade. Por isso é tão importante dar às crianças o sentido da busca.
Nós, adultos, sempre temos medo do fracasso, porque, como as crianças, não fomos educados para aproveitá-lo, para aprender com ele, para considerá-lo como uma etapa no caminho de um encontro com nós mesmos. Quando temos com as crianças uma atitude de "eu não sei, vamos ver juntos", os resultados são tão positivos que elas não se sentem culpadas de não saber; "eu não sei" é igual a "posso aprender"; "eu não sei" é igual a "posso esforçar-me". Muitas crianças têm a ideia de que "não saber é mau". Isto as impede de perguntar ao professor, quando não entendem algo, e por isso se desencorajam, perdendo o interesse em aprender.
Crer que sabemos restringe. É algo duro, compacto, algo a que nos agarramos e que limita o horizonte. Aí não há movimento e sim uma paralisação. Dar-nos conta de que não sabemos permite que nos soltemos e deixemos aparecer algo de melhor qualidade. Porque não saber só se justifica para aprender e não para permitir-se ser passivo. Se, realmente, nos damos conta de que não sabemos, isto é formidável, porque abre a possibilidade de aprender. Quiséramos sempre estar armados de sabedoria, porém, na realidade, no momento em que vemos que nada sabemos... que sensação de alívio! Não existe nada para sustentar artificialmente, nem para pretender saber! Podemos realmente, livremente, começar!
Também não podemos negar que sabemos muitas coisas porque temos sofrido e pago por elas, já que, se estamos abertos, a vida é um aprender contínuo. Em geral a pessoa se defende de não saber, porque, habitualmente, se ridiculariza aquele que não sabe. Porém, o interessante é que, dentro de nós, existe algo que surge quando reconhecemos que não sabemos, quando somos simples, humildes e permitimos que apareça uma sabedoria da própria vida. Contudo, é preciso estar sempre alerta, para nos darmos conta de que existe uma parte que pretende saber e quer dominar nossa vida. Se lhe fazemos caso, aceitamos viver enganados.
Fracassar ou não alcançar momentaneamente uma meta fazem parte do processo de aprender e é preciso ensinar à criança que isto é formidável porque ela pode levantar-se e começar de novo, exigindo-se fazê-lo melhor, já que possui mais experiência. Devemos mostrar às crianças que as pessoas que "sabem tudo" são aquelas que nunca aceitaram que poderiam equivocar-se e que, ao cair, se sentiram derrotadas e se negaram a continuar. Em consequência, nunca aprenderam... É caindo que se pode aprender a levantar e caminhar melhor.
Devemos ensinar às crianças que as quedas são necessárias para aprender a levantar-se e não ter mais medo. Como no judô, deve-se aceitar a queda como necessária e valer-se dela para compreender o que a ocasionou e, assim, poder superar a dificuldade.
É necessário compreender que não saber é bom. Quando não se sabe algo, deve-se perguntar. O medo não é uma coisa positiva, não contribui em nada, não tem valor algum... Temos de pisoteá-lo! O medo é mau conselheiro. Devemos atuar apesar dele. Se não o apoiamos ele vai embora.
Para nós "eu não sei" deveria ser algo fabuloso, porque nos dá a possibilidade de aprender; no entanto, sentimos isso como algo que nos limita, que é negativo. Temos de revisar bem nossa atitude, porque tudo que podemos ver em nós mesmos, também podemos ver nos outros.

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