Continuação de quarta-feira
A
atitude de buscar resguarda a criança de tornar-se um adulto que "sabe
tudo". Uma criança que não se pergunta, que não sabe buscar, perderá
também sua chance de poder alcançar algo mais espiritual, de buscar
dentro de si o porquê de estar na Terra e qual poderia ser sua função,
sua utilidade. A necessidade de buscar lhe dará, quando for maior de
idade, a possibilidade de buscar a verdade. E não há nada no mundo que
produza tanto prazer, tanta felicidade real, como o encontro com a
verdade, a própria e a alheia, que são a mesma! No momento em que ela
aparece, dá vida a tudo. Porém, o preço
que devemos pagar por ela é alto. Necessitamos fazer muitos esforços
antes de presenciar ou vivenciar uma verdade. Por isso é tão importante
dar às crianças o sentido da busca.
Nós,
adultos, sempre temos medo do fracasso, porque, como as crianças, não
fomos educados para aproveitá-lo, para aprender com ele, para
considerá-lo como uma etapa no caminho de um encontro com nós mesmos.
Quando temos com as crianças uma atitude de "eu não sei, vamos ver
juntos", os resultados são tão positivos que elas não se sentem culpadas
de não saber; "eu não sei" é igual a "posso aprender"; "eu não sei" é
igual a "posso esforçar-me". Muitas crianças têm a ideia de que "não
saber é mau". Isto as impede de perguntar ao professor, quando não
entendem algo, e por isso se desencorajam, perdendo o interesse em
aprender.
Crer que
sabemos restringe. É algo duro, compacto, algo a que nos agarramos e que
limita o horizonte. Aí não há movimento e sim uma paralisação. Dar-nos
conta de que não sabemos permite que nos soltemos e deixemos aparecer
algo de melhor qualidade. Porque não saber só se justifica para
aprender e não para permitir-se ser passivo. Se, realmente, nos damos
conta de que não sabemos, isto é formidável, porque abre a possibilidade
de aprender. Quiséramos sempre estar armados de sabedoria, porém, na
realidade, no momento em que vemos que nada sabemos... que sensação de
alívio! Não existe nada para sustentar artificialmente, nem para
pretender saber! Podemos realmente, livremente, começar!
Também não
podemos negar que sabemos muitas coisas porque temos sofrido e pago por
elas, já que, se estamos abertos, a vida é um aprender contínuo. Em
geral a pessoa se defende de não saber, porque, habitualmente, se
ridiculariza aquele que não sabe. Porém, o interessante é que, dentro de
nós, existe algo que surge quando reconhecemos que não sabemos, quando
somos simples, humildes e permitimos que apareça uma sabedoria da
própria vida. Contudo, é preciso estar sempre alerta, para nos darmos
conta de que existe uma parte que pretende saber e quer dominar nossa
vida. Se lhe fazemos caso, aceitamos viver enganados.
Fracassar
ou não alcançar momentaneamente uma meta fazem parte do processo de
aprender e é preciso ensinar à criança que isto é formidável porque ela
pode levantar-se e começar de novo, exigindo-se fazê-lo melhor, já que
possui mais experiência. Devemos mostrar às crianças que as pessoas que
"sabem tudo" são aquelas que nunca aceitaram que poderiam equivocar-se e
que, ao cair, se sentiram derrotadas e se negaram a continuar. Em
consequência, nunca aprenderam... É caindo que se pode aprender a
levantar e caminhar melhor.
Devemos
ensinar às crianças que as quedas são necessárias para aprender a
levantar-se e não ter mais medo. Como no judô, deve-se aceitar a queda
como necessária e valer-se dela para compreender o que a ocasionou e, assim, poder superar a dificuldade.
É necessário compreender que não saber
é bom. Quando não se sabe algo, deve-se perguntar. O medo não é uma
coisa positiva, não contribui em nada, não tem valor algum... Temos de pisoteá-lo!
O medo é mau conselheiro. Devemos atuar apesar dele. Se não o apoiamos
ele vai embora.
Para nós "eu não sei"
deveria ser algo fabuloso, porque nos dá a possibilidade de aprender;
no entanto, sentimos isso como algo que nos limita, que é negativo.
Temos de revisar bem nossa atitude, porque tudo que podemos ver em
nós mesmos, também podemos ver nos outros.
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