Datado com 1º de junho de 1982 (faz tempo, hein!), ainda tenho comigo um Certificado de Presença no qual a Escola
de Pais – Rio certifica que minha esposa e eu participamos do "1º Ciclo da Escola de Pais",
realizado durante o 1º semestre daquele ano, no colégio onde nossos filhos (uma menina com 4 anos e um menino com três) estavam matriculados. Composto de reuniões semanais, realizadas
em um determinado dia da semana, durante dez noites consecutivas, o ciclo propiciou-me
a oportunidade de tomar conhecimento da existência de um texto sobre filhos que
considero o melhor que li sobre o tema. Indagando sobre de onde ele fora
extraído, ouvi que tinha sido de um livro intitulado "O Profeta", de autoria de Gibran Khalil Gibran. Comprei
o livro e de lá para cá não tenho a menor ideia de quantas vezes o reli, e de
quantos exemplares já ofertei às pessoas com quem sobre ele falei e que por ele
se interessaram. "O Profeta"
é, simplesmente, um dos melhores livros que já li. A leitura do extraordinário
texto do pediatra Roberto Cooper, reproduzido na postagem anterior, fez-me
lembrar do texto de Gibran, e estas reflexões levam-me a elaborar algumas relações entre os dois textos.
"Filhos não seguem o plano que traçamos para eles. Começam a se "rebelar" quando nascem e demonstram que possuem existência própria. [...] Crescem, revelando seus desejos e vontades. Sempre em busca de sua identidade, se rebelam aqui e acolá. Aderem a modas que não entendemos ou aprovamos. Escolhem profissão, amigos e parceiros."
O trecho,
imediatamente, acima é do texto de Cooper; o, imediatamente, abaixo é do texto
de Gibran.
"E uma mulher que carregava o filho nos braços disse: 'Fala-nos dos Filhos'.
E ele disse:
'Vossos filhos não são vossos filhos.São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.Vêm através de vós, mas não de vós.E embora vivam convosco, não vos pertencem.Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos,
Porque eles têm seus próprios pensamentos.
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas;Pois suas almas moram na mansão do amanhã, que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós,Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.'"
Considerando
o que diz Cooper - "filhos demonstram que possuem existência própria"
-, parece-me óbvio o que diz Gibran - "eles têm seus próprios pensamentos".
Sendo assim, segundo Gibran, "podemos outorgar-lhes nosso amor, mas
não nossos pensamentos".
"Crescem,
revelando seus desejos e vontades. Sempre em busca de sua identidade.",
diz Cooper. E ao sempre buscar sua identidade, no meu entender, eles validam a
recomendação dada por Gibran aos pais: "não procureis fazê-los como vós".
"Nosso amor, contato físico, criatividade, curiosidade e respeito pela individualidade é que nos tornam pais. E foram eles que nos ensinaram isso tudo! Mais do que tudo, filhos nos ensinam, desde pequenos, que pai não é que fazemos e sim o que somos. [...] O aprendizado contínuo é o do respeito às diferenças. Mais do que isso, a celebração da individualidade."
"O aprendizado contínuo é o do respeito às
diferenças. Mais do que isso, a celebração da individualidade", diz Cooper.
Será que o aprendizado contínuo e a celebração da individualidade têm alguma
relação com, em algum dia, conseguir aprender o seguinte ensinamento de Gibran:
"vossos filhos vêm através de vós, mas não de vós"?
"E embora vivam convosco, não vos pertencem", eis
uma afirmação de Gibran que a maioria dos pais me parece não conseguir entender.
"O que me ocorreu foi que não sou pai sozinho. Isto é, só sou pai porque a Carolina é minha filha. Isso é uma obviedade, mas que nos faz pensar, uma vez mais, que o ser humano só tem existência a partir do outro. [...] Todos os pais só o são por conta dos filhos."
E ao
dizer - "Todos os pais só o são por conta dos filhos. Isso é uma
obviedade, mas que nos faz pensar, uma vez mais, que o ser humano só tem
existência a partir do outro." -, Cooper leva-me a encerrar estas
reflexões reproduzindo o trecho final do magnífico texto de Gibran no qual,
figuradamente, ele explica o que são pais e filhos.
"Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.
O Arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda a Sua força para que Suas flechas se projetem, rápidas e para longe.
Que vosso encurvamento na mão do Arqueiro seja vossa alegria:Pois assim como Ele ama a flecha que voa, ama também o arco que permanece estável."
A postagem publicada em 07 de junho de 2012 é intitulada "E uma mulher que carregava o filho nos braços disse: 'Fala-nos dos Filhos'".
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