quinta-feira, 9 de maio de 2024

Equipe Humana (final)

Continuação de sexta-feira  
Estamos incorporando algumas noções muito antiquadas e depreciativas sobre os seres humanos e o seu lugar na ordem natural da infraestrutura tecnológica do futuro. Engenheiros de nossas principais empresas de tecnologia e universidades tendem a ver as pessoas como o problema e a tecnologia como a solução.
Quando eles não estão desenvolvendo interfaces para nos controlar, estão construindo inteligências para nos substituir. Qualquer uma dessas tecnologias poderia ser direcionada para ampliar as nossas capacidades humanas e o poder da coletividade. Em vez disso, elas são implantadas de acordo com as demandas de um mercado, uma esfera política e uma estrutura de poder que dependem do isolamento humano e da previsibilidade para operar.
O controle social busca impedir o contato social e explorar a desorientação e o desespero decorrentes. Os seres humanos evoluíram com a capacidade de engendrar um número maior de conexões sociais. O desenvolvimento do nosso cérebro, da linguagem, da escrita, da mídia eletrônica e das redes digitais foi impulsionado por nossa necessidade de níveis mais elevados de organização social. A rede - apenas o mais recente desses avanços - desafia-nos com a possibilidade de que o pensamento e a memória possam não ser absolutamente pessoais, mas atividades de grupo. Esse potencial, entretanto, foi ofuscado por uma profunda desconfiança sobre como os seres humanos se comportariam como um coletivo empoderado bem como uma crescente consciência de que pessoas realizadas sob o ponto de vista social precisam de menos dinheiro, sentem menos vergonha, comportam-se de forma menos previsível e agem de maneira mais autônoma.
Pessoas que pensam, sentem e estão conectadas enfraquecem as instituições que tentam controlá-las. Isso sempre foi assim. É por isso que novos mecanismos para criar laços e estabelecer a cooperação entre as pessoas são, quase inevitavelmente, voltados contra esses fins. A linguagem que poderia informar é usada para mentir. O dinheiro que poderia promover o comércio é, em vez disso, acumulado pelos ricos. A educação que poderia expandir as mentes dos trabalhadores é usada para torná-los recursos humanos mais eficientes.
Ao longo do caminho, visões cínicas das pessoas como uma multidão irracional, incapaz de se comportar de maneira inteligente e pacífica são usadas para justificar o fato de sermos mantidos separados e termos negados papéis como atores autônomos em qualquer uma dessas áreas da vida. Nossas instituições e tecnologias não são projetadas para estender nossa natureza humana, mas para refreá-la ou reprimi-la.
Uma vez que nossa humanidade é vista como uma desvantagem em vez de uma força, o impulso cultural e a busca espiritual que resultam dessa impressão buscam transcender nossa personalidade: uma jornada fora do corpo, afastada de nossa humanidade, além da matéria e em qualquer substrato - seja éter, ondas elétricas, realidade virtual ou IA - que transformamos em fetiche naquele momento.
As redes digitais são apenas a mídia mais recente a passar da promoção de vínculos sociais para a destruição deles - de promoção da humanidade para sua suplantação. No entanto, nossa mudança atual pode ser mais profunda e permanente, porque desta vez estamos habilitando tecnologias anti-humanas com a capacidade de se reformular. Nossos dispositivos inteligentes avançam e evoluem mais rápido do que nossa biologia.
Também estamos vinculando nossos mercados e nossa segurança ao crescimento contínuo e à capacidade de expansão de nossas máquinas. Isso é autodestrutivo. Dependemos cada vez mais de tecnologias construídas com a presunção da inferioridade humana e sua irrelevância.
Entretanto a velocidade sem precedentes dessa última reversão do alcance social para a aniquilação social também nos oferece uma oportunidade de entender o processo pelo qual isso acontece. Assim que o fizermos, reconheceremos como isso ocorreu de inúmeras maneiras ao longo da história – da agricultura e da educação ao dinheiro e à democracia.
Nós, humanos - em uma única geração - estamos passando por uma virada no ciclo em tempo real. Esta é a nossa chance. Podemos escolher não mais nos adaptar a ela, mas nos opor a ela.
É hora de reafirmarmos a agenda humana. E devemos fazer isso juntos - não como os atores individuais que fomos levados a imaginar que somos, mas como a equipe que realmente somos.
A Equipe Humana.
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"Este livro é uma exposição apaixonada das reflexões mais urgentes do teórico das mídias Douglas Rushkoff sobre civilização, tecnologia e natureza humana. Em 100 argumentos concisos, o autor defende que somos, em essência, criaturas sociais e que alcançamos nossos maiores objetivos quando trabalhamos em equipe, e não individualmente. [...] Rushkoff nos inspira a encontrar os outros que também entendem essa verdade fundamental para reafirmar a nossa humanidade - juntos."
Extraídas da Quarta Capa do extraordinário livro de Rushkoff, as palavras reproduzidas no parágrafo anterior foram trazidas para esta postagem com a intenção de provocar nos elementos da Equipe Humana o interesse pela leitura dos outros 93 "argumentos concisos" que compõem o livro. As duas apaixonadas postagens espalhando "as reflexões mais urgentes de Rushkoff" contêm apenas os 07 primeiros, mas é com os 100 que "Rushkoff nos inspira a encontrar os outros que também entendem essa verdade fundamental para reafirmar a nossa humanidade - juntos."

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