Continuação de sexta-feira
Estamos
incorporando algumas noções muito antiquadas e depreciativas sobre os seres
humanos e o seu lugar na ordem natural da infraestrutura tecnológica do futuro.
Engenheiros de nossas principais empresas de tecnologia e universidades tendem
a ver as pessoas como o problema e a tecnologia como a solução.
Quando
eles não estão desenvolvendo interfaces para nos controlar, estão construindo
inteligências para nos substituir. Qualquer uma dessas tecnologias poderia ser
direcionada para ampliar as nossas capacidades humanas e o poder da
coletividade. Em vez disso, elas são implantadas de acordo com as demandas de
um mercado, uma esfera política e uma estrutura de poder que dependem do
isolamento humano e da previsibilidade para operar.
O
controle social busca impedir o contato social e explorar a desorientação e o
desespero decorrentes. Os seres humanos evoluíram com a capacidade de engendrar
um número maior de conexões sociais. O desenvolvimento do nosso cérebro, da
linguagem, da escrita, da mídia eletrônica e das redes digitais foi
impulsionado por nossa necessidade de níveis mais elevados de organização
social. A rede - apenas o mais recente desses avanços - desafia-nos com a
possibilidade de que o pensamento e a memória possam não ser absolutamente
pessoais, mas atividades de grupo. Esse potencial, entretanto, foi ofuscado por
uma profunda desconfiança sobre como os seres humanos se comportariam como um
coletivo empoderado bem como uma crescente consciência de que pessoas
realizadas sob o ponto de vista social precisam de menos dinheiro, sentem menos
vergonha, comportam-se de forma menos previsível e agem de maneira mais autônoma.
Pessoas
que pensam, sentem e estão conectadas enfraquecem as instituições que tentam
controlá-las. Isso sempre foi assim. É por isso que novos mecanismos para criar
laços e estabelecer a cooperação entre as pessoas são, quase inevitavelmente,
voltados contra esses fins. A linguagem que poderia informar é usada para
mentir. O dinheiro que poderia promover o comércio é, em vez disso, acumulado
pelos ricos. A educação que poderia expandir as mentes dos trabalhadores é
usada para torná-los recursos humanos mais eficientes.
Ao longo
do caminho, visões cínicas das pessoas como uma multidão irracional, incapaz de
se comportar de maneira inteligente e pacífica são usadas para justificar o
fato de sermos mantidos separados e termos negados papéis como atores autônomos
em qualquer uma dessas áreas da vida. Nossas instituições e tecnologias não são
projetadas para estender nossa natureza humana, mas para refreá-la ou
reprimi-la.
Uma vez
que nossa humanidade é vista como uma desvantagem em vez de uma força, o impulso
cultural e a busca espiritual que resultam dessa impressão buscam transcender
nossa personalidade: uma jornada fora do corpo, afastada de nossa humanidade,
além da matéria e em qualquer substrato - seja éter, ondas elétricas, realidade
virtual ou IA - que transformamos em fetiche naquele momento.
As redes
digitais são apenas a mídia mais recente a passar da promoção de vínculos sociais
para a destruição deles - de promoção da humanidade para sua suplantação. No
entanto, nossa mudança atual pode ser mais profunda e permanente, porque desta
vez estamos habilitando tecnologias anti-humanas com a capacidade de se
reformular. Nossos dispositivos inteligentes avançam e evoluem mais rápido do
que nossa biologia.
Também
estamos vinculando nossos mercados e nossa segurança ao crescimento contínuo e à
capacidade de expansão de nossas máquinas. Isso é autodestrutivo. Dependemos
cada vez mais de tecnologias construídas com a presunção da inferioridade
humana e sua irrelevância.
Entretanto
a velocidade sem precedentes dessa última reversão do alcance social para a
aniquilação social também nos oferece uma oportunidade de entender o processo
pelo qual isso acontece. Assim que o fizermos, reconheceremos como isso ocorreu
de inúmeras maneiras ao longo da história – da agricultura e da educação ao
dinheiro e à democracia.
Nós,
humanos - em uma única geração - estamos passando por uma virada no ciclo em
tempo real. Esta é a nossa chance. Podemos escolher não mais nos adaptar a ela,
mas nos opor a ela.
É hora de
reafirmarmos a agenda humana. E devemos fazer isso juntos - não como os atores
individuais que fomos levados a imaginar que somos, mas como a equipe que
realmente somos.
A Equipe
Humana.
*************
"Este livro é uma exposição apaixonada das reflexões mais urgentes do teórico das mídias Douglas Rushkoff sobre civilização, tecnologia e natureza humana. Em 100 argumentos concisos, o autor defende que somos, em essência, criaturas sociais e que alcançamos nossos maiores objetivos quando trabalhamos em equipe, e não individualmente. [...] Rushkoff nos inspira a encontrar os outros que também entendem essa verdade fundamental para reafirmar a nossa humanidade - juntos."
Extraídas da Quarta Capa do extraordinário livro de Rushkoff, as palavras reproduzidas no parágrafo anterior foram trazidas para esta postagem com a intenção de provocar nos elementos da Equipe Humana o interesse pela leitura dos outros 93 "argumentos concisos" que compõem o livro. As duas apaixonadas postagens espalhando "as reflexões mais urgentes de Rushkoff" contêm apenas os 07 primeiros, mas é com os 100 que "Rushkoff nos
inspira a encontrar os outros que também entendem essa verdade
fundamental para reafirmar a nossa humanidade - juntos."
Nenhum comentário:
Postar um comentário