"O planeta não precisa de mais pessoas bem-sucedidas. O planeta precisa desesperadamente de mais pacificadores, curadores, restauradores, contadores de histórias e amantes de todos os tipos."
(David W. Orr)
Com a intenção de começar bem as postagens de 2024, segue
um inspirador texto da extraordinária Lúcia Helena Galvão, filósofa,
palestrante, escritora e professora há mais de trinta anos. Intitulado Lembrando
de Forrest Gump, ele foi
extraído de seu livro A lógica e a inteligência da vida, publicado em
2022.
Lembrando de Forrest Gump
Hoje,
sem maiores razões, recordei-me deste belo filme, lançado há vinte e sete anos,
em dezembro de 1994. Eu o conto como um dos filmes que me causam saudades, como
se Forrest realmente tivesse existido e fosse um conhecido meu, muito querido.
Não me importam muito as inúmeras conjecturas de ordem política ou existencial
que se teceram sobre a obra ao longo desses anos de sucesso. Importam-me
algumas lembranças, que me impactaram bastante e foram verdadeiramente úteis
para mim. Uma delas, que guardo com carinho, é a perfeita definição da mãe
dele, quando ele se queixa de que o chamavam de idiota em todos os lugares: "Idiota
é quem faz idiotice". Não era o caso dele, nos quesitos lealdade e
princípios foi impecável, dedicado aos que amava e empenhado em tudo o que
fazia. Sua mãe tinha razão: ele não era um idiota.
Mas
reflitam sobre como essa singela definição vira o mundo de cabeça para baixo em
relação aos valores atuais: nós empenhamos uma energia descomunal para ter
diplomas, dinheiro, cargos, títulos e fama. E, ao sair às ruas, somos pouco
gentis, desleais entre nós, transigimos, em nossos princípios, hesitamos nas
nossas tarefas e "atropelamos" os sentimos das pessoas que dizemos
amar. O que temos feito pela vida afora, nós, os "homens espertos"?
Idiotices. Simples assim.
Sei que
o assunto não é novo. O milenar "Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis"
já nos dava essa instrução. Mas, não é por ser antigo que é bem entendido.
Continuamos com um investimento desastroso de nossa energia-vida, sem nos deter
para analisar a qualidade dos rastros que temos deixado por aí, único
depoimento válido sobre quem realmente somos nós: "Eu passei pela sua
vida: como você ficou, depois disso?".
Sei que
deve ter gente que manda afixar todos os seus títulos conquistados na lápide de
seus túmulos, mas, se são só títulos... quem visita esses túmulos? A lápide dos
homens bons está gravada a ferro e fogo no coração dos homens despertos. Bem,
não há tempo para pensar nisso, nosso dever é fazer coisas e não fazer alguma
coisa com a nossa vida. Eu conheci um rapaz que pensava diferente disso:
Forrest Gump... Rapaz esperto! Quase um gênio!
Continuamos com um investimento desastroso de nossa energia-vida,
sem nos deter para analisar a qualidade dos rastros que temos deixado por aí.
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"Uma das lembranças que guardo com carinho é a perfeita definição da mãe de Forrest Gump, quando ele se queixa de que o chamavam de idiota em todos os lugares: 'Idiota é quem faz idiotice'". Não era o caso dele, nos quesitos lealdade e princípios foi impecável, dedicado aos que amava e empenhado em tudo o que fazia. Sua mãe tinha razão: ele não era um idiota.Mas reflitam sobre como essa singela definição vira o mundo de cabeça para baixo em relação aos valores atuais: nós empenhamos uma energia descomunal para ter diplomas, dinheiro, cargos, títulos e fama. E, ao sair às ruas, somos pouco gentis, desleais entre nós, transigimos, em nossos princípios, hesitamos nas nossas tarefas e 'atropelamos' os sentimos das pessoas que dizemos amar. O que temos feito pela vida afora, nós, os 'homens espertos'? Idiotices. Simples assim."
Diante da indagação feita por Lúcia Helena no final do
parágrafo reproduzido acima - "O que temos feito pela vida afora, nós, os 'homens espertos'"? -, e de sua resposta - "Idiotices", alguém
que seja chegado a fazer paráfrases, e conheça o seguinte aforismo do poeta T.
S. Eliot - "Numa terra de fugitivos, aquele que anda na direção contrária
parece estar fugindo." – dificilmente deixará de fazer a seguinte: "Numa
sociedade de idiotas, aquele que age na direção contrária parece ser idiota."
Sim, a mãe de Forrest Gump
tinha razão: ele não era um idiota. Não, alguém que "nos quesitos lealdade e princípios foi impecável,
dedicado aos que amava e empenhado em tudo o que fazia.", não é um idiota. Sim,
a singela definição da mãe de Forrest Gump, "vira o mundo de cabeça para
baixo em relação aos valores atuais". Valores que fazem com que
"empenhemos uma energia descomunal para ter diplomas, dinheiro, cargos, títulos
e fama, e que, ao sair às ruas, sejamos pouco gentis, desleais entre nós,
transijamos, em nossos princípios". E ao usar o verbo transigir, acho até
que Lúcia Helena "pega leve" em sua crítica, pois, em termos de relação
entre "os valores atuais e os nossos princípios", no meu entender, o verbo mais
adequado é o matar. Até porque, nesta sociedade dos "homens
espertos", na qual matar é algo tão banal, o que importa não são os
princípios, e sim os fins. Você conhece uma apreciadíssima afirmação que diz
que "os fins justificam os meios"? Pois é! Ao justificar os meios, os
fins matam os princípios.
Princípios, fins e meios – qual será a relação que há entre
essas três coisas? Será que é possível chegar a bons fins usando meios
desenvolvidos sem importar-se com princípios? Qual é a sua resposta a tal indagação?
"O que temos feito pela vida afora, nós, os 'homens espertos'" – eis a indagação de Lúcia Helena. "Idiotices.
Simples assim.", eis a resposta de Lúcia Helena.
"Sei que deve ter gente que manda afixar todos os seus títulos conquistados na lápide de seus túmulos, mas, se são só títulos... quem visita esses túmulos? A lápide dos homens bons está gravada a ferro e fogo no coração dos homens despertos.", diz Lúcia Helena.
Ou seja, em termos de lápides, os homens
talvez possam ser classificados como espertos e despertos. Em termos de grafia,
a diferença resume-se a uma letra. Em termos de significado, a diferença é
colossal. A postagem publicada em 15 de março de 2015 (faz algum tempo, hein!)
é intitulada Despertamento.
"Nosso dever é fazer coisas e não fazer alguma coisa
com a nossa vida. Eu conheci um rapaz que pensava diferente disso: Forrest
Gump... Rapaz esperto! Quase um gênio!", diz Lúcia Helena. "Quase um
gênio!", eu concordo. Quanto a "rapaz esperto", eu acrescentaria
um "d" - "rapaz desperto".
"Eu o conto como um dos filmes que me causam
saudades, como se Forrest realmente tivesse existido e fosse um conhecido meu,
muito querido.", diz Lúcia Helena. Será que podemos contá-lo também como
um filme que nos cause o desejo de que algum dia Forrest Gump possa existir?
Existir, inclusive, em cada um de nós que integramos este planeta, pois como
diz David W. Orr, "O planeta não precisa de mais pessoas bem-sucedidas. O planeta precisa
desesperadamente de mais contadores de histórias e amantes de todos os tipos". O planeta precisa de mais "Forrest Gump"s.
Como
foi dito no primeiro parágrafo desta postagem, a reprodução do inspirador texto
de Lúcia Helena Galvão tem a intenção de começar bem as postagens de 2024. Usando
uma afirmação de Moshé Feldenkrais [1904 – 1984], fundador do Método
Feldenkrais, o último parágrafo tem a intenção despertar-lhe a vontade de
cooperar para que não só este novo ano, mas também todos os que ainda virão
possam ser melhores do que esse cujo término foi ruidosamente comemorado tão
recentemente.
"Pense nisso: O que fazemos conosco agora é o mais importante para o amanhã. Se não fizermos nada para mudar nossa atitude e o nosso modo de atuar, amanhã parecerá ontem, exceto pela data".
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