terça-feira, 27 de setembro de 2022

Por que elaborei esta postagem?

"Por que criei um blog?", eis a indagação que intitula a postagem inaugural deste blog, publicada em 01.02.2011. Indagação cuja resposta começa assim:
Porque acredito em uma afirmação atribuída a Caio Graco: "Livros não mudam o mundo, quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas".
Resposta que prossegue apresentando mais duas indagações que reproduzo a seguir.
Como os livros mudam as pessoas?
Espalhando ideias neles contidas. Ideias que consigam influenciar pessoas e as levem a mudar seu comportamento. Então, as pessoas mudadas mudarão o mundo para melhor ou para pior dependendo das ideias espalhadas. Daí, a necessidade de avaliar as ideias a serem espalhadas.
Mas o que tem a ver o que foi dito acima sobre livros com a criação de um blog?
Dependendo da finalidade do blog, creio que tenha muito a ver. O meu blog, segundo sugere o título, pretende conseguir algo semelhante aos que os livros alcançam: espalhar ideias.
Feito este preâmbulo, passemos à indagação que intitula esta postagem. Por que, passados onze anos e oito meses e 676 postagens terem sido publicadas, decidi elaborar uma intitulada "Por que elaborei esta postagem?"? Porque, alguns comentários recebidos por e-mail e reproduzidos a seguir fazem-me perceber que existem leitores deste blog que demonstram não terem entendido que quem muda o mundo são as pessoas.
"Acredito até que nossos governantes, empresários etc não tenham interesse em atingir essas metas, mas em viver confortavelmente e dessa forma segue a humanidade. Vou encerrar, pois elencaria várias situações, mas aqueles que deveriam começar ou incentivar o processo de mudança, não têm interesse."
"Que atitudes tomar, se o nosso governante não faz a parte dele?"
"Vamos aguardar pelos políticos, pelas igrejas ou ficar aguardando Jesus Cristo voltar pra tomarmos atitudes ou deixá-lo resolver? As grandes mudanças precisam ser repensadas em sociedade e cobradas fervorosamente a quem deveria tomar frente e fazer seu papel."
Considerando a descrição apresentada no Quem sou eu (espaço onde é apresentado o perfil do autor do blog), onde é dito que sou "Alguém que acredita que a qualidade de uma sociedade é resultado das ações de todos os seus componentes", o recebimento dos referidos comentários despertou-me uma vontade irrefreável de elaborar esta postagem.
Assim como o autor do primeiro comentário, "Acredito que nossos governantes, empresários etc não tenham interesse algum em atuar em prol da coletividade, mas em viver confortavelmente e dessa forma segue a humanidade". Sim, "dessa forma segue a humanidade", e seguirá até o dia em que, os explorados desta humanidade (sic) composta por exploradores e por explorados, consigam, de alguma forma, entender que os exploradores não têm interesse algum em mudar as condições de vida dos explorados, pois é com a manutenção de tais condições que mantêm suas privilegiadas condições.
No meu entender, uma das maiores ilusões que se pode ter na vida é a crença que, em um mundo composto de privilegiados e de prejudicados, seja possível vir, espontaneamente, dos privilegiados alguma ação que beneficie os prejudicados. Aliás, tenho dúvidas sobre como classificar tal crença: ilusão, ingenuidade ou estupidez. Ou seja, em um mundo com a referida composição, caberá sempre aos prejudicados agirem para torná-lo melhor para si próprios, por mais difícil que seja tal tarefa. Mas como diz o protagonista do filme Patch Adams – O amor é contagioso, ao ouvir que o que pretende fazer é algo muito difícil, "Tudo o que vale a pena fazer é difícil.".
E ao elaborar o parágrafo acima, veio-me à mente um diálogo apresentado em um episódio do programa televisivo intitulado Pedro pelo mundo, no qual, em viagem a Tanzânia, Pedro Andrade conversa com Maria Sarungi-Tsehai, empresária, ativista e responsável pela campanha Muda Tanzânia.
- Quando falamos na Tanzânia, falamos num país que está mudando, passando por um momento muito positivo, muito otimista, mas ainda há muita pobreza, por exemplo.
- Sim.
- O que precisa mudar?
- Acho que dois aspectos precisam mudar. Um deles, e o mais importante: A atitude precisa mudar para todos nós. A atitude que temos como cidadãos é uma atitude passiva. Quando falamos dos nossos problemas, dizemos que o governo deveria fazer assim ou assado. E o governo não é a solução. Por quê? Porque mesmo que você queira que o governo faça algo é sua obrigação de cidadão pressionar o governo para fazer essa mudança. O governo, por sua vez, também precisa mudar de atitude. A verdade é que o povo conhece a saída. Escute o povo e aja! Atitude e ação. Precisamos de ação agora. Se dissermos "Vamos esperar mais cinco anos e talvez o governo mude e algo aconteça", nada vai mudar! Problemas não desaparecem. Depende de nós resolvê-los.
- Acho que gente como você pode mudar o mundo.
- Eu também acredito. Todos nós podemos!
- Obrigado.
- Obrigada.
Sim, como diz Maria Sarungi, "Problemas não desaparecem. Depende de nós resolvê-los". Como resolvê-los? Com "Atitude e ação", duas coisas que todos nós precisamos agora, segundo ela.
"Atitude e ação", eis a solução, diz Maria Sarungi.
"Que atitudes tomar, se o nosso governante não faz a parte dele?", indaga o autor do comentário que recebi por e-mail em 04 de agosto de 2022. Interessante é que o mesmo autor, em comentário feito em 13 de julho, fez-me outra indagação:
"Vamos aguardar pelos políticos, pelas igrejas ou ficar aguardando Jesus Cristo voltar pra tomarmos atitudes ou deixá-lo resolver?"
Indagação que ele mesmo respondeu assim:
"As grandes mudanças precisam ser repensadas em sociedade e cobradas fervorosamente a quem deveria tomar a frente e fazer seu papel."
Indagação e resposta sobre as quais digo o seguinte:
Não, aguardar pelos políticos não é a atitude que devemos tomar. Por quê? Porque, como diz "a ativista e responsável pela campanha Muda Tanzânia mesmo que você queira que o governo faça algo é sua obrigação de cidadão pressionar o governo para fazer essa mudança."
Não, aguardar pelas igrejas não é a atitude que devemos tomar. Por quê? Porque na condição de entidades religiosas que se julgam habilitadas a intermediar a relação entre criador e criatura, creio que não compete a elas regular as relações entre as criaturas. Vocês conhecem uma recomendação atribuída a Jesus Cristo que diz: "A César o que é de César, e a Deus o que é Deus"? É por aí. É uma questão de qual papel cabe a cada um exercer.
Não, aguardar Jesus Cristo voltar não é a atitude que devemos tomar. Por quê? Porque, se na primeira vinda, tentando ensinar o "amai-vos uns aos outros", ele acabou morrendo crucificado, creio que voltando em uma sociedade na qual está instituído o "armai-vos uns contra os outros", dificilmente ele escaparia de morrer baleado.
"As grandes mudanças precisam ser repensadas em sociedade e cobradas fervorosamente a quem deveria tomar a frente e fazer seu papel."
Sobre o comentário acima, digo o seguinte:
Tomar a frente é uma expressão que significa "tomar a decisão de fazer algo que teria que ser feito por outra pessoa". Ou seja, tomar a frente é algo que não deveria ocorrer em uma coletividade em que cada um seja consciente de ter um papel a exercer. Em uma coletividade assim, cada um de seus integrantes agiria como sugere "a ativista e responsável pela campanha Muda Tanzânia". Exercendo seu papel de cidadão, pressionaria o governo para que ele exerça o dele. Os governos, em geral, refletem a consciência mediana da população, sendo verdadeira a afirmação de que cada povo tem o governo que merece. Lembre-se disto no próximo domingo!
"Não existe mudança que não deva começar comigo", dizia Herbert de Sousa (1935 – 1997), o Betinho, em uma afirmação em perfeita sintonia com uma de Mahatma Gandhi (1869 – 1948): "Seja a mudança que você deseja ver no mundo. Caio Graco (150 a.C – 121 a.C.) dizia que "Quem muda o mundo são as pessoas". Até porque, como sugere Krishnamurti (1895 – 1986), "Nós (as pessoas) somos o mundo". Portanto, que cada um de nós faça a sua parte, pois a construção de um mundo melhor depende da participação de todos os que nele habitam.
Terminando esta já longa postagem, segue uma afirmação de Frei Betto publicada na edição de 10 de setembro de 2005 do jornal O Globo. Uma afirmação que uso como motivação para prosseguir com este blog e nele publicar postagens como esta. "Sei que não haverei de participar da colheita. Mas faço questão de ficar ao lado dos que lançam, ainda que em terra árida, as sementes de um futuro melhor."

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