"A vida é
curta", eis o titulo do texto de Paul Graham do qual extraí alguns trechos
para elaborar a postagem anterior. Um texto apresentado com o seguinte
subtítulo: "Uma reflexão profunda sobre a importância de
deixar as bobagens do dia a dia de lado e mergulhar nas coisas que realmente
importam".
Uma reflexão profunda capaz de provocar outras reflexões em quem a lê.
"Quando eu me pergunto para que a vida é curta demais, uma palavra que me vem à cabeça é 'bobagem'", diz Paul Graham. E ele acrescenta: "Esse tipo de coisa entra em sua vida de duas maneiras: ou ele lhe é imposto ou o engana".
Na primeira maneira
ela entra "impelida pelas circunstâncias. Você precisa ganhar dinheiro,
uma atividade que consiste basicamente de realizar tarefas", diz Paul
Graham. Tarefas que lhe são ordenadas por indivíduos hierarquicamente superiores
dentro de organizações sobre as quais Paul Graham diz o seguinte: "A
maioria das grandes organizações – e muitas pequenas – está imersa em
bobagens".
Por considerar que
elas têm a ver com o que é dito no parágrafo anterior, cito aqui algumas
experiências por mim vivenciadas no final da minha vida profissional em uma
grande organização. Ao recusar tarefas que, no
meu entender, não deveriam ser feitas, algumas vezes ouvi da minha superior
hierárquica imediata algo mais ou menos assim: "Olha,
eu vou ser muito franca: se você não quer fazer isto não terei mais como pagar
o seu salário". Motivado pela vontade
de deixar de fazer bobagens, comuniquei-lhe meu desejo de aposentar-me em um
determinado tempo.
Então, em outra ocorrência de recusa de tarefas, sabedora do meu desejo de
aposentar-me e acusando-me de estar de má vontade, ela disse-me que sendo assim
seria melhor aposentar-me imediatamente. Diante desse sinistro cenário e considerando
que, após 3,7 décadas de trabalho, aposentar-me era um direito que naquela
época ainda existia, e que eu não deveria deixar de exercer, embora tendo
conhecimento da perda financeira dela advinda, solicitei minha aposentadoria.
Sim, a vida é feita de escolhas e ao escolher umas das opções sempre se fica sem
a (s) outras (s).
O tempo passou, pois como dizia Cazuza o tempo não para e, entre
seis e sete anos depois, vendo-me conversando com alguns ex-colegas de trabalho
na entrada do prédio onde trabalhei por mais de três décadas, sem entrar na
conversa, minha superior hierárquica imediata citada no parágrafo anterior, dirigiu-se
a mim dizendo algo mais ou menos assim: "Guedes! Lembro de você todos os dias. Tudo
aquilo que você dizia estava certo!". Naquele momento, a opção escolhida
por mim foi simplesmente ouvir o que ela teria a dizer, pois eu não precisava
dizer-lhe coisa alguma. E ela nada mais disse.
"Entretanto, pode ser que haja menos bobagens impostas do que você pensa. Sempre há um fluxo de pessoas que renegam a labuta diária e vão viver num lugar onde as oportunidades são escassas, no sentido convencional, mas a vida parece ser mais autêntica. Isso poderia se tornar comum. Você pode fazer isso em menor escala, sem se mudar. (...) Se você conscientemente priorizar evitá-las em vez de outros fatores como dinheiro e prestígio, provavelmente vai encontrar patrões que vão desperdiçar menos seu tempo.", diz Paul Graham.
Considerando que ela
tem a ver com o que é dito na última frase do parágrafo anterior, cito aqui mais
uma experiência vivenciada na minha vida profissional. Ao ser criado o cargo de
consultor na companhia em que eu trabalhava, uma das coisas que mais pesava (talvez
a que mais pesasse) na indicação para ocupar tal cargo era a quantidade de
grupos de trabalhos nos quais o candidato tivesse participado. O que tem isso a
ver com a minha experiência vivenciada? Devido ao fato de, sempre que fora incluído
em grupos de trabalho nos quais minha participação era desnecessária eu ter
solicitado minha exclusão, obviamente eu jamais seria indicado para uma função cuja
indicação dependia da quantidade de participações em grupos de trabalho.
Será que participar de
grupos de trabalho nos quais em nada se contribui pode ser considerado uma
bobagem? Será que a atitude de retirar-se de tais grupos pode ser enquadrada
nas seguintes palavras de Paul Graham: "conscientemente priorizar evitar
bobagens em vez de outros fatores como dinheiro e prestígio, provavelmente vai
levar a um menor desperdício de tempo? Será que retirar-se de grupos de
trabalho nos quais se é desnecessário pode ser considerado não desperdício de
tempo?
"Se a vida é curta, deveríamos esperar sua brevidade nos surpreender. E essa é a tendência. Você não dá valor às coisas e depois elas vão embora. Você acha que sempre vai poder fazer o que quer que seja e, então, percebe que a janela se fechou. As janelas mais tristes se fecham quando outras pessoas morrem. A vida delas também é curta. (...) O motivo pelo qual estou triste por causa da minha mãe não é somente porque sinto falta dela, mas porque penso em tudo aquilo que poderíamos ter feito e não fizemos. (...) Depois da morte da minha mãe, eu desejei ter passado mais tempo com ela. Vivi como se ela fosse estar sempre ali. E, com seu jeito típico e quieto, ela encorajou a ilusão. Mas ainda era uma ilusão. Acho que muitas pessoas cometem o mesmo erro.", diz Paul Graham.
Sim, "muitas
pessoas cometem o mesmo erro", inclusive, filhos de princesa. A postagem
publicada em 13 de setembro de 2017 no blog Lendo
e opinando tem o seguinte título: Filhos da princesa Diana dizem se arrepender da última conversa. O próximo
parágrafo foi extraído de tal postagem.
"Os príncipes britânicos William e Harry falaram sobre o arrependimento em relação à última conversa que tiveram com a mãe, a princesa Diana, antes que ela morresse, dizendo que foi 'desesperadoramente apressada'. (...) Harry e eu estávamos com uma pressa desesperada para dizer tchau, você sabe, 'te vejo mais tarde'. Se eu soubesse o que iria acontecer eu não teria sido tão blasé sobre isso e todo o resto.", disse o príncipe William.
Para quem quiser ler mais sobre o desejo de
ter passado mais tempo com alguém com quem isso não é mais possível, a postagem
A ilusão da imortalidade, publicada
em 18 de junho de 2018, é uma sugestão.
"Se você se
pergunta com que bobagens você perde seu tempo, provavelmente já sabe a
resposta. Reuniões inúteis, disputas sem sentido, burocracias, afetações, lidar
com os erros das outras pessoas, engarrafamentos e passatempos que são
viciantes, mas não compensam.", diz Paul Graham.
E ao citar "engarrafamentos e passatempos
que são viciantes, mas não compensam", Paul Graham toca na segunda maneira
pela qual a bobagem entra em sua vida: o engano. "Como já escrevi, uma
consequência do progresso tecnológico é que coisas das quais gostamos têm a
tendência de se tornar mais viciantes. Isso significa que, cada vez mais,
teremos de fazer um esforço consciente para evitar vícios – sair de dentro de
nós mesmos e nos perguntar: 'É desse jeito que eu quero passar meu tempo?'",
eis um alerta seguido de uma indagação de Paul Graham.
"Teremos de fazer um esforço consciente para evitar vícios", pois "Uma maneira comum de evitar ser pego de surpresa por algo é estar consciente desse algo.", afirma Paul Graham. E estar consciente desse algo inclui estar consciente de que "As coisas que importam não são necessariamente aquelas que as pessoas chamariam de 'importantes'."
"Assim como
evitar bobagens, devemos seriamente procurar coisas que importam. Coisas
diferentes importam para pessoas diferentes, e muitas delas têm de aprender o
que é importante para elas. Poucos são sortudos e percebem, cedo, que amam
matemática ou cuidar de animais ou escrever e, em seguida, descobrem uma
maneira de passar grande parte do tempo fazendo isso. A maioria das pessoas
começa com uma vida que é uma mistura de coisas importantes e coisas não
importantes e somente após um tempo aprende a diferenciá-las.", diz Paul
Graham.
Encerrando estas
reflexões repito aqui a recomendação com que Paul Graham encerra o texto que as
provocaram. "Reduza as bobagens sem piedade, aprenda a diferenciar coisas
importantes e coisas não importantes, não espere para fazer aquilo que importa
e aprecie o tempo que você tem. É isso o que você deve fazer quando a vida é
curta."
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