"Vivemos sob uma
terrível ilusão de imortalidade. Ou talvez um esquecimento conveniente da nossa
mortalidade.". Com essas duas frases, Pedro Calabrez inicia seu excelente
texto intitulado A ilusão da imortalidade,
espalhado pela postagem anterior. Frases que, mutatis mutandis, reescrevo assim: "Vivemos sob uma terrível ignorância de imortalidade. Ou talvez um esquecimento equivocado da nossa imortalidade.".
Ilusão ou ignorância de imortalidade?
Esquecimento conveniente da nossa mortalidade ou esquecimento equivocado da
nossa imortalidade? Eis duas
indagações cuja resposta passa pelo entendimento de que a imortalidade a que se
refere a frase original não é a mesma a que se referem as frases reescritas. Qual
é a diferença? Enquanto a inicial refere-se à imortalidade do corpo, as
reescritas referem-se à imortalidade da alma.
Mortalidade ou imortalidade da alma, eis a
questão! Segundo Shakespeare? Não. Segundo Blaise Pascal (1623 – 1662), matemático, físico, inventor, filósofo e
teólogo católico francês, conforme se pode deduzir a partir do que é dito por
ele no parágrafo imediatamente abaixo.
"O mais
importante, pois, é saber se a alma é mortal ou imortal. A imortalidade da alma
é uma coisa que nos interessa tanto, que nos toca tão profundamente, que seria
preciso haver perdido todo sentimento para permanecer na indiferença de saber o
que há a respeito. Todas as nossas ações e todos os nossos pensamentos seguem
caminhos tão diferentes, conforme haja ou não bens eternos a esperar, que é
impossível dar um passo com sentido e juízo, sem regulá-lo pela mira desse
ponto, que deve ser nosso último objetivo. Assim, nosso primeiro interesse e
nosso primeiro dever estão em esclarecer esse ponto, do qual depende toda a
nossa conduta."
Transcrever o que foi dito por Pascal
leva-me, imediatamente, a lembrar das seguintes palavras de Pedro Calabrez: "Podemos
acreditar que há uma vida depois desta, leitor, mas você deve concordar comigo:
esta vida aqui, agora, é única – e não haverá outra oportunidade de vivê-la.".
Considerando o que foi dito por Pascal e por Calabrez, após mais uma ocorrência
da prática do mutatis mutandis, digo
o seguinte:
"Devemos averiguar se há uma vida depois
desta, leitor", pois, concordando com o que diz Pascal, creio que "Todas as nossas ações e todos os nossos
pensamentos (ou seja, "esta vida aqui") seguem caminhos tão diferentes, conforme
haja ou não bens eternos a esperar". Portanto, averiguar se há uma
vida depois desta, ou, em outras palavras, se a alma é imortal, é algo do qual,
em sã consciência, ninguém se eximirá, pois do resultado dessa averiguação
"depende toda a nossa conduta".
Sim, como diz Pedro
Calabrez, "esta
vida aqui, agora, é única – e não haverá outra oportunidade de vivê-la.". E
por "ser única" (considerando a atual passagem
por esta dimensão), e por "não haver outra oportunidade de vivê-la"
é que nela devemos nos conduzir da melhor forma possível, pois a esta vida jamais
voltaremos. Quanto à volta a esta dimensão, em outras vidas, aí a coisa muda
de figura. E para quem alegar que aqui ninguém voltou para contar que existe
outra vida além desta, segue uma declaração de William James (1842 – 1910),
genial psicólogo e filósofo norte-americano, feita depois de muito pesquisar o
fenômeno psíquico em geral e, em particular, a mediunidade da Sra. Leonora
Piper:
"Se você deseja invalidar a lei de que todos os corvos são negros, não deve procurar demonstrar que não existem corvos negros: basta exibir um corvo branco. Meu corvo branco é a Sra Piper".
E tome mutatis mutandis! Se você deseja invalidar a afirmação de que ninguém que por esta dimensão tenha passado, a ela tenha voltado após a passagem pela experiência denominada morte, não deve procurar demonstrar que todos que por aqui passaram aqui voltaram: basta exibir um indivíduo que "sugere" ter voltado. Meu indivíduo que "sugere" ter voltado é... qualquer um dos citados em um livro intitulado Vinte casos sugestivos de reencarnação do psiquiatra canadense Ian Stevenson (1918 - 2007), publicado em 1966, no qual ele apresenta vinte das centenas de casos por ele catalogados de fenômenos que ele chama de recordação espontânea de informações sobre vidas anteriores relatados por jovens e crianças.
Por que o "sugere"? Porque,
considerando que para cada coisa que se queira demonstrar há uma forma
apropriada de fazê-lo, creio que a existência da reencarnação seja algo
demonstrável por apresentação de evidências que "sugerem" que a única
coisa capaz de explicá-las seja a reencarnação.
"Não somos
seres humanos vivendo uma experiência espiritual, somos seres espirituais
vivendo uma experiência humana.", disse Teilhard de Chardin (1881 –
1955), teólogo, filósofo e paleontólogo francês. Ou seja, somos espíritos imortais
reencarnados em corpos mortais. Portanto, encerrando
esta postagem cuja intenção é espalhar a ideia da imprescindibilidade de nos
interessarmos profundamente pela averiguação da imortalidade da alma, adianto-lhes
que a intenção da próxima é espalhar a ideia de outra imprescindibilidade:
aprender a lidar adequadamente com a mortalidade do corpo.
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