"O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo
é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro. (...) Joga-se
tênis para fazer o outro errar. (...) O prazer do tênis se encontra no momento
em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de
jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro."
"O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas
raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois
perca. (...) Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui
ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra -
pois o que se deseja é que ninguém erre."
Dois jogadores, duas
raquetes e uma bola. Dois jogos jogados com materiais bastante parecidos, porém
com espíritos inteiramente diferentes. O primeiro, jogado com o espírito de
derrotar o adversário; o segundo, por não existir adversário, sem o espírito de
derrotar. No primeiro, sempre um jogador alegre e outro triste; no segundo,
sempre os dois alegres.
Tênis e frescobol! Dois
jogos cujos espíritos com que são jogados levaram Rubem Alves a usá-los em uma analogia com o modo como as pessoas se comportam nessa relação denominada casamento. Mas será que tal analogia restringe-se ao casamento ou faz sentido estendê-la
a outras relações?
Será que nesta civilização
(sic), onde os indivíduos são classificados como vencedores ou perdedores, em toda
e qualquer relação humana, o espírito dos que nela interagem pode ser interpretado
à luz do tênis ou do frescobol, e na qual uma quantidade estupendamente (ou
seria estupidamente?) maior de pessoas comporta-se como jogadores de tênis?
Será que no tal do
mundo corporativo, onde a cada dia há menos lugares, o espírito com que nele atua
a maioria de seus integrantes pode ser comparado ao de jogadores de tênis? Sobre
os que ocupam cargos de chefia ou a eles aspiram nem indago, pois, quanto a
esses, não tenho a menor dúvida.
Será que nesta civilização
onde as pessoas crescem incitadas a vencer
na vida, (ou seja, a viver em uma luta sem tréguas contra aqueles (as) que
com elas disputem a sobrevivência neste mundo assolado pelo egoísmo), o imenso contingente
formado pelos indivíduos que relacionam-se segundo o espírito de jogadores de
tênis conseguirá, algum dia, aceitar algo dito por Rubem Alves em um
pequeno livro intitulado Coisas do amor:
"O segredo das boas relações é não jogar tênis. Jogar só frescobol..."?
E ao falar em "o segredo
das boas relações" Rubem Alves me faz lembrar um livro de Vimala Thakar intitulado Viver é relacionar-se. E ao juntar Rubem Alves e Vimala
Thakar, tal junção leva-me a ousar dizer o seguinte: o segredo para viver bem é
relacionar-se por meio de boas relações.
Por considerá-lo marcante demais, reproduzo
aqui o segundo parágrafo do texto de Rubem Alves espalhado pela postagem anterior.
Para começar, uma afirmação de Nietzsche, com a qual concordo inteiramente. Dizia ele: "Ao pensar sobre a possibilidade do casamento cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: 'Você crê que seria capaz de conversar com prazer com esta pessoa até a sua velhice?' Tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de conversar'."
"Tudo o mais no casamento é transitório,
mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construídas sobre a arte de
conversar."!
Que afirmação sinistra!
E assim como fiz em relação à analogia entre tênis, frescobol e
casamento feita por Rubem Alves, questionando se ela pode ser estendida a outras
relações, faço aqui a seguinte indagação - Será que não só no casamento, mas
também em qualquer outro tipo de relação, "as relações que desafiam o tempo são
aquelas construídas sobre a arte de conversar"?
A arte de conversar! Uma
arte que precisa urgentemente ser desenvolvida nesta civilização onde o que se
faz é apenas falar. Uma arte que precisa ser desenvolvida, pois, além de uma
arte, conversar é também uma necessidade humana. E é por entender assim que a
postagem que fiz neste blog em 31 de maio de 2011 tem o seguinte título: A necessidade de conversar. Uma postagem
que, na minha insuspeita opinião (rsrs), vale a pena ler.
E após tudo o que foi dito acima, ao encerrar esta postagem, que
talvez seja a última deste ano, eu não poderia deixar de nela mencionar uma
afirmação do saudoso Eduardo Galeano que, no meu entender, tem tudo a ver com
estas reflexões. "Somos o que somos e ao mesmo tempo o que
fazemos para mudar o que somos." Afirmação que
combinada com outras feitas ao longo desta postagem leva-me a terminá-la com as
seguintes palavras.
Se viver é relacionar-se.
Se o segredo das boas
relações é não jogar tênis, Jogar só frescobol...
Se conversar é uma
necessidade.
Se somos o que somos e ao mesmo tempo o que
fazemos para mudar o que somos.
Que tal aproveitarmos
este período do ano em que, pelo menos teoricamente, as pessoas ficam mais
propensas a reformularem o seu modo de vida, para, embasados nos três primeiros
"Se", colocarmos em prática o quarto "Se" e dessa forma mudarmos o que somos e nos tornarmos melhor
do que somos.
Por que lhes faço tal proposta? Porque, como digo em meu
perfil no blog, "sou alguém que acredita que a qualidade de uma sociedade
é resultado das ações de todos os seus componentes". Ações cuja qualidade
será tanto melhor quanto melhor forem todos os seus componentes. Estamos
conversados?
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