Após a publicação da postagem alusiva ao Dia do Silêncio, segue a segunda (e
última) parte das reflexões provocadas por Dias melhores virão. Como é dito na última frase de Dias melhores virão (final): "Nossa! Que entrevista rica em
provocação de reflexões!"
"O termo interser é mais forte do que o uso do termo interconectividade ou interdependência. Ele significa que sua existência está ligada à minha, que de alguma forma você é uma parte minha, e vice-versa. Então qualquer coisa que aconteça a você, à pessoa ao lado, à floresta tropical, aos rios e aos oceanos também estará acontecendo a mim. Não podemos escapar das consequências. Portanto, se faço algo ruim, se rompo com o círculo da vida, isso retornará para mim. Isso significa que tudo o que está acontecendo do lado de fora também está acontecendo dentro de nós."
O parágrafo acima foi extraído
da entrevista concedida pelo filósofo Charles Eisenstein. O parágrafo abaixo foi
elaborado com trechos de um texto conhecido como A Carta do Cacique Seattle. Elaborado pelo médico Henry Smith a
partir de notas que tomara do histórico discurso proferido pelo chefe das
tribos Suquamish e Duwamish em 10 de janeiro de 1854, como geralmente ocorre, com
o transcorrer do tempo, o texto foi sofrendo alterações. Hoje, a versão mais
difundida é uma escrita pelo roteirista de cinema norte-americano Ted Perry.
"O que seria dos homens sem os animais? Se todos os animais se fossem, o homem morreria de uma imensa solidão de espírito. O que quer que aconteça com os animais, logo acontece com os homens. Todas as coisas estão ligadas. (...) O que acontece com a terra, acontece com os filhos da terra. Não foi o homem que teceu a rede da vida; ele é apenas um fio nessa trama. O que ele fizer a esse tecido, estará fazendo a si próprio. Mesmo o homem branco não pode ser dispensado desse sentido comum."
Será que uma
comparação criteriosa do que disse recentemente o filósofo com o que disse o
cacique Seattle há 163 anos torna evidente a coincidência entre o que eles
disseram? Será que, como diz o filósofo, o termo interser é mais forte do que o
uso dos termos interconectividade ou interdependência? Ou será que de todos
esses "inter"s o mais forte é a interdependência? Afinal, se todas as
coisas estão ligadas – para o bem ou para o mal –, se o que acontece com cada uma
delas, independentemente de percebermos ou não, depende do que acontece com as
demais, será que existe algum termo que define melhor a inter-relação entre
todas as coisas do que interdependência? O que vocês acham?
Interdependência é, no meu entender, um termo
fortíssimo. Presente em muitas postagens deste blog, ele aparece no título da
postagem - 'Unity',
de Shaun Monson,mostra a interdependência das formas de vida – publicada
em 3 de novembro de 2015, e seguramente estará presente em muitas outras.
Afinal, tudo na vida, ou seja, a própria vida é algo que, simplesmente, depende
da interdependência. Da interdependência entre escolhas e ações e entre
escolhas e omissões. Da interdependência entre ações e conseqüências e entre
omissões e consequências. Escolhas, ações e omissões que "praticadas"
por todos os componentes da sociedade trazem as consequências que determinam a
qualidade da sociedade em que se vive ou se sobrevive. Será que é difícil
enxergar isto? Infelizmente, para a maioria, a resposta é sim, e é por isso que
a chegada de dias melhores ainda demorará, conforme afirma Charles Eisenstein:
"A verdade é que
essa crise não irá desaparecer tão cedo. Muito pelo contrário, ela ficará cada
vez pior. Tal cenário só poderá ser transformado quando o que consideramos
'normal' entrar em colapso. Daí então surgirá espaço para o novo.".
Perguntado sobre – O que seria uma postura de vida capaz de
nutrir um futuro desejável, se a mudança começa em cada um de nós? – Eisenstein
começa respondendo assim: "Vale muito a pena passar bastante tempo perto
de pessoas realmente generosas e benevolentes. Essa é a melhor maneira de
aprendermos pelo exemplo e nos contagiarmos." E ao dizer isso ele me faz
lembrar uma das citações que ilustram a lateral direita deste blog: "Daqui
a cinco anos você estará bem próximo de ser a mesma pessoa que é hoje, exceto
por duas coisas: os livros que ler e as pessoas de quem se aproximar.", é
uma frase de Howard Hendricks (1924 –
2013) com a qual me identifico muito. Sim, "vale muito a pena passar bastante tempo perto de pessoas realmente
generosas e benevolentes".
Indagado – Por que você afirma ser tão importante
neutralizarmos a sensação de impotência e ceticismo em relação ao futuro melhor
e voltarmos a acreditar no poder dos pequenos gestos? – em sua resposta Eisenstein
inclui o que transcrevo no parágrafo abaixo.
"Podemos achar
que nossas ações são insignificantes e, portanto, desprovidas de poder para
transformar o mundo. Mas, na verdade, nossas escolhas, por mais singelas que
sejam, são nossas orações, nossos atestados. Um jeito de afirmar: "É esse
o mundo que eu desejo para mim e para todos". Como negar a importância de
uma avó amorosa em algum lugar do mundo que está transmitindo seu afeto a seu
neto e, consequentemente, ao neto dele, e assim por diante. Daqui a 500 anos, o
mundo pode ser um lugar melhor por causa dela. Quem vai ter coragem de dizer
que não?"
E com as palavras
acima, Eisenstein me faz lembrar algo que li no livro Liderança para Tempos de Incerteza – A Descoberta de um Novo Caminho,
de autoria de Margaret J. Wheatley: "Em uma carta para um amigo, Thomas Merton, o famoso místico
cristão, dá o seguinte conselho: 'Não fique na
dependência de resultados... você pode ter que encarar o fato de que seu
trabalho será aparentemente inútil e sem resultados, ou que os resultados serão
contrários aos esperados. Acostumando-se a essa ideia, você começa a se
concentrar não nos resultados, mas no valor, na retidão, na verdade do próprio
trabalho...'"
Concentrar-se não na
visão imediata de resultados, e sim na crença de que algum dia alguém colherá
os resultados "do valor, da retidão e da verdade do trabalho" no qual
nós empregarmos o tempo que nos foi dado, pois como é dito em uma das inesquecíveis
frases da trilogia O
Senhor dos Anéis, "A
única coisa a fazer é decidir como usar o tempo que nos foi dado.".
E ao dizer que "A única coisa a fazer é decidir como usar o
tempo que nos foi dado.", eu trago para reflexões a última pergunta
feita na excelente entrevista que originou esta série de postagens. O grifo é
meu. Perguntado – Nesse mundo mais bonito
que nossos corações sabem ser possível, qual seria a maneira mais fértil
de empregar o nosso tempo? - em sua resposta Charles
Eisenstein inclui o que é transcrevo no parágrafo abaixo.
"Seguir o caminho
que você considera o mais bonito e que o faz se sentir vivo. (...) Temos a
oportunidade de fazer essa escolha, mesmo que, a princípio, ela assuste ou
pareça audaciosa. (...) Oportunidades aparecem no tempo certo, isto é, quando
estamos preparados para elas. E tudo bem se cometermos erros. Pois tudo isso é
parte de um território desconhecido. E o único jeito de conhecê-lo é
explorando-o, aprendendo com os nossos equívocos."
Oportunidades aparecem no tempo certo, isto é, quando
estamos preparados para elas. Oportunidades de fazer escolhas. Escolhas que resultam
em ações ou omissões. Ações ou omissões que trazem consequências. Consequências
entre as quais encontram-se erros decorrentes de equívocos nas escolhas.
Equívocos que – se bem aproveitados - oferecem oportunidades de aprendermos a
fazer melhores escolhas. Aprender com os
nossos equívocos! Será essa a lição final que podemos extrair da excelente
reportagem que Raphaela de
Campos Mello, intitulou Dias melhores
virão? O que vocês acham?
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