terça-feira, 14 de março de 2017

Quadringentésima postagem ou "Como você se relaciona com a tecnologia?"

Por entender que um blog deve ter um propósito, usei a primeira postagem deste para explicar porque o criei. E a forma usada para tal explicação foi respondendo uma hipotética pergunta: "Por que criei um blog?". Um blog que já a partir de seu título começa a explicar-se assim: "Espalhando ideias que ajudem a interpretar a vida e provoquem ações para torná-la cada vez melhor". E que, por meio de uma afirmação de Ariston Santana Teles apresentada como primeira citação ilustrativa, continua a explicar-se assim: "Melhor vive quem melhor conhece; e melhor conhece quem melhor interpreta. Daí a necessidade de esforços cada vez maiores na iluminação do raciocínio. Ou seja, desde o seu início, este blog destaca a importância de melhor interpretar.
Sendo assim, por entender que melhor interpretar é algo importante demais, uso a quadringentésima postagem para responder uma hipotética pergunta que alguém poderia me fazer, e que alguns deveriam me fazer: "Como você se relaciona com a tecnologia?". Por que resolvi elaborar uma postagem inspirada em tal pergunta? Porque, embora eu tenha tido sempre o cuidado de (em postagens em que são apontados malefícios causados pela tecnologia) afirmar que nada tenho contra a tecnologia, apenas contra malefícios causados por ela, em comentários sobre tais postagens recebidos por e-mail, alegando serem entusiastas da tecnologia, alguns remetentes insinuam que sou avesso a ela.
"Querido Guedes, continuo achando que a tecnologia, se bem usada, veio para melhorar as nossas vidas. Obviamente que, como tudo na vida, precisa ter limites e bom senso.". É assim que começa um e-mail que recebi em resposta a uma resposta que dei a um comentário sobre a recente postagem intitulada "A uberização da vida". "Bjs e bemvindo a um mundo novo!". É assim que termina o referido e-mail.
Fiquei perplexo! Dizendo, exatamente, o que eu acho em relação à tecnologia, a remetente do e-mail imagina estar enviando uma resposta a alguém que, ao contrário dela que é uma entusiasta, é um indivíduo avesso à tecnologia. Fiquei perplexo, repito! E perplexo, em vez de responder dizendo - "Querida Amiga, o que você continua achando é, exatamente, o que sempre achei e que já afirmei algumas vezes em postagens em que são apontados malefícios causados pela tecnologia." - o que fiz foi redigir esta postagem, e dessa forma explicar a mais gente "Como me relaciono com a tecnologia".
Enxergar-me com alguém avesso à tecnologia teria sido um problema de interpretação? Muito provavelmente. Afinal, como alguém que durante todas as 3,7 décadas de vida profissional atuou no desenvolvimento de sistemas de informações que "rodariam" em computadores, um dos mais significativos produtos da tecnologia, pode ser avesso à tecnologia? Como alguém que após aposentar-se, há seis anos, mantém dois blogs, algo que só é possível devido à tecnologia, pode ser avesso à tecnologia? Sim, muito provavelmente, trata-se de um problema de interpretação.
Interpretar corretamente é uma capacidade sem a qual eu não teria obtido êxito na minha vida profissional. Afinal, nos tempos em que em vez de enfiar "pacotes" goela abaixo dos usuários o que se fazia era desenvolver sistemas de informações a partir dos procedimentos realizados por eles e das informações por eles recebidas / enviadas, obter êxito como analista de sistemas de informações seria algo simplesmente impossível sem a capacidade de interpretar corretamente o que os usuários faziam em suas tarefas profissionais.
"Melhor vive quem melhor conhece; e melhor conhece quem melhor interpreta.", diz Ariston Santana Teles. Interpretar melhor é algo fundamental para o êxito em qualquer coisa na vida e até mesmo na própria preservação da vida. Vocês concordam que a principal capacidade desejável em um médico deve ser a de diagnosticar corretamente o (s) mal (es) que acomete (m) o paciente? Vocês concordam que diagnosticar corretamente passa pela interpretação correta dos sintomas apresentados pelo paciente?
Diante do que foi dito até aqui, será que dá para discordar da imprescindibilidade de interessarmo-nos por interpretar melhor as possibilidades de uso de toda e qualquer novidade que nos seja oferecida por essa fábrica de novidades que é a tecnologia. Afinal, como é dito no terceiro parágrafo desta postagem, por alguém que sendo entusiasta pela tecnologia insinua que sou avesso a ela (à tecnologia, não à pessoa que disse), - "(...) a tecnologia, se bem usada, veio para melhorar as nossas vidas". (o grifo é meu). Sendo assim, em conformidade com essa história de ser avesso à tecnologia, de usá-la bem etc., segue uma classificação que faço com os três modos de se relacionar com a tecnologia.
1. Rejeitar, - sem qualquer interpretação que possibilite identificar possíveis benefícios oriundos de seu uso -, toda e qualquer novidade oferecida pela tecnologia, pois aceitá-la implicaria em ter que alterar o modo de viver com que se está acostumado e adaptar-se a um novo.
2. Aceitar, - sem qualquer interpretação que possibilite identificar possíveis malefícios oriundos de seu uso -, toda e qualquer novidade oferecida pela tecnologia, pois rejeitá-la implicaria em ser visto como um indivíduo retrógrado incapaz de viver de acordo com seu tempo.
3. Interpretar toda e qualquer novidade oferecida pela tecnologia, - com a intenção de nela identificar possíveis benefícios e malefícios por ela trazida -, e a partir de tal interpretação dela fazer bom uso, pois, como já dito acima, "(...) a tecnologia, se bem usada, veio para melhorar as nossas vidas". Ou seja, para melhorar as nossas vidas, há, no uso da tecnologia, um "se".
Em qual das três opções acima devem ser classificados os indivíduos avessos à tecnologia? Segundo a minha interpretação, na opção 1. Em qual das três me classifico? Na opção 3. Em qual das três me sinto classificado ao ler os comentários enviados por e-mail que motivaram esta postagem? Na opção 1. Será que estamos diante de um problema de interpretação? No meu entender, sim; e no de vocês?
E para terminar esta postagem intitulada "Como você se relaciona com a tecnologia?", espalho aqui algo que li em uma reportagem de Fernando Scheller publicada na edição de 22 de junho de 2016 do jornal O Estado de S. Paulo. Intitulada "O desafio da tecnologia é ser útil" foi com trechos dela que redigi o próximo parágrafo.
"Ao participar do Lions Innovation, evento do Cannes Lions – Festival Internacional de Criatividade dedicado à tecnologia, a antropóloga digital Amber Case – eleita como uma das mulheres mais influentes do setor pela revista 'Fast Company', fez a seguinte afirmação: 'A quantidade ideal de tecnologia na vida de uma pessoa é a mínima necessária'.".
Mas qual deve ser a quantidade mínima necessária de tecnologia? Será que é possível descobrir qual seja tal quantidade sem recorrer à interpretação? Pelo que tudo indica, o término da postagem remete-nos ao seu início. Será que interpretar melhor é algo que inevitavelmente teremos que aprender, se ainda almejarmos viver melhor. Será que Ariston Santana Teles está certo quando diz que: "Melhor vive quem melhor conhece; e melhor conhece quem melhor interpreta. Daí a necessidade de esforços cada vez maiores na iluminação do raciocínio."
Será que após esta postagem conseguirei deixar de ser visto como alguém avesso à tecnologia? Como será interpretada esta postagem? Após esta série de indagações, resta-me apenas recorrer à parte religiosa: rezar para que esta postagem não seja mal interpretada.
Sobre a reportagem citada quatro parágrafos acima, há, no blog Lendo e opinando, uma postagem homônima elaborada com trechos dela.

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