Depois de fazer
apologia da Arte de se calar, este blog traz um
texto que, dependendo de como seja interpretado, serve para duas coisas que
considero relevantes: reforçar a apologia feita na postagem anterior e fazer
uma nova. Qual é a nova? A da arte de
saber ouvir o que se precisa ouvir.
Intitulado Somente
ouvimos o que queremos ouvir, o texto apresenta um episódio narrado no
livro Buscando o Equilíbrio – Reflexões sobre a vida, o conhecimento, as
relações pessoais e profissionais, de Heródoto Barbeiro e José Renato
Sátiro Santiago Jr.
O reforço da apologia da Arte de se calar é feito pela seguinte
indagação: Se as pessoas somente ouvem o que querem ouvir, será que faz algum
sentido falarmos durante o tempo todo? A apologia da arte de saber ouvir o que se precisa ouvir é feita pelo que é dito após a
apresentação do episódio narrado no livro.
Somente ouvimos o que queremos ouvir
Um padre de uma pequena cidade do interior
notou que seu estoque de vinho estava diminuindo muito rapidamente. Após
analisar inúmeras possibilidades, chegou à conclusão de que o vinho poderia
estar sendo roubado.
No entanto, algo intrigava o padre, pois ele
acreditava que o possível ladrão não levava o vinho, e, sim, bebia-o. Como o
sacristão tinha chegado, algumas vezes, bêbado à igreja, o padre passou a
desconfiar dele. Depois de criar certa coragem, resolveu inquiri-lo no
confessionário.
- Sacristão, você tem ideia de quem possa
estar roubando o vinho da sacristia?
O sacristão disse:
- Padre, por favor, fale mais alto, pois no
lugar que estou não consigo ouvi-lo.
O padre encheu os pulmões e gritou:
- Sacristão, quem está roubando o vinho da
sacristia?
E mais uma vez o sacristão respondeu:
- Sabe, padre, daqui realmente não se ouve
nada mesmo. Quer conferir? O senhor sai daí e vem para cá e eu saio daqui e vou
para o seu lugar.
E fizeram a troca de lugares. Então, o
sacristão passou a perguntar:
- Padre, quem está namorando a irmã Mana?
E o padre respondeu:
- É, meu filho, você tem toda razão: daqui,
deste lado, não dá para ouvir nada mesmo...
Moral da história: as pessoas somente ouvem o
que querem ouvir, o que é coerente com seus preconceitos, inferências e
valores.
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Ler que a moral da
história é que "as pessoas somente ouvem o que querem ouvir" faz-me lembrar
A arte de se calar. Afinal, se as
pessoas ouvem somente o que querem ouvir, falar demais é algo que, no meu
entender, não faz sentido. E falar em não fazer sentido e em ouvir somente o
que agrade a quem ouve, leva-me, pelo método das recordações sucessivas, a lembrar
uma passagem de Sede de Sentido, um livro de Viktor Emil Frankl, criador da
que ficou conhecida como a terceira escola vienense de psicoterapia: a
logoterapia que, em uma tradução literal, significa terapia através do sentido. As anteriores são as de Sigmund Freud e de Alfred Adler.
"Quando lhe pediram, em certa ocasião, para caracterizar a diferença entre a psicanálise de Freud e a logoterapia por ele desenvolvida, o prof. Viktor Frankl pediu ao interlocutor, um médico americano, que definisse em duas palavras a psicanálise. A resposta foi: 'Na psicanálise, o paciente tem de deitar-se num divã e contar coisas que, às vezes, são muito desagradáveis de serem contadas'. Ao que o psiquiatra vienense retrucou: 'Pois na logoterapia o paciente pode ficar sentado normalmente, mas tem de ouvir coisas que, às vezes, são muito desagradáveis de serem ouvidas'."
Desenvolver a
capacidade de "ouvir coisas que, às vezes, são muito desagradáveis de
serem ouvidas", mas que precisam ser ouvidas, e abandonar a estúpida
prática de "somente ouvirmos o que queremos ouvir", eis duas ações
imprescindíveis à eliminação de equívocos que cometemos e à nossa transformação
em indivíduos melhores.
Em indivíduos melhores
que pela prática de ações providas de sentido passarão a contribuir para a
melhoria da qualidade da sociedade na qual sobrevivemos, pois, como digo no meu
perfil no blog, sou alguém que acredita que "a qualidade de uma sociedade
é resultado das ações de todos os seus componentes". Isso faz sentido para
vocês?
Para quem quiser ler
algo sobre sentido, seguem três sugestões: Sede de Sentido, Consequências da sede de sentido, Dificuldades para matar a sede de sentido.
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