segunda-feira, 4 de julho de 2016

Como curar o planeta

"O elemento comum de tudo é a interdependência." - afirma Peter Senge na reportagem-entrevista apresentada duas postagens atrás. "Para curar o planeta é preciso compreender que o bem-estar de todas as pessoas está interligado" - afirma Radha Burnier (1923 – 2013) em um texto intitulado Como curar o planeta, publicado na edição de Mai-Jun/ 2016 de Sophia, uma revista que focaliza Ciência, Religião e Filosofia. Radha foi escritora e presidente internacional da Sociedade Teosófica de 1980 até sua morte em 2013.
No último parágrafo da postagem anterior, eu disse que raciocínio sistêmico, consciência sistêmica e visão sistêmica são ideias que provocariam outras postagens neste blog, lembram? Não, para mim, não é mais possível deixar de persistir na apologia da imprescindibilidade de cada um de nós tornar-se um adepto do desenvolvimento da consciência sistêmica, do raciocínio sistêmico, da visão sistêmica... Afinal, curar o planeta em que se vive é função de todos os que nele vivem.
Como curar o planeta
Relatórios da Organização Mundial de Saúde ressaltam o fato de que a pobreza, a subnutrição e a escassez absoluta de alimento afligem uma grande parte da população mundial. A maioria dos países africanos gasta quase toda a sua receita bruta para pagar dívidas com os países ricos. Apenas o reembolso de juros representa um fardo tão pesado que eles não têm meios de manter hospitais, prover água, esgotos e outras necessidades básicas da população. As crianças morrem em grande número porque são subnutridas, enquanto a maioria dos adultos vive no limite de um estado de ansiedade e insegurança para o qual não existe remédio. Um diretor geral da OMS escreveu que a pobreza é a doença mais mortífera do mundo, e para a maioria de suas vítimas a única fuga é uma sepultura antecipada.
Frequentemente a mídia faz muito barulho sobre os efeitos de um desastre natural, um terremoto ou um furacão. No entanto, aqueles que sofrem e morrem por causa desses eventos são muito poucos em comparação com aqueles que são vítimas das injustiças criadas pelo homem. A pobreza é perigosa não apenas para os pobres, mas para o meio ambiente e para o mundo como um todo. A parte faminta do planeta não pode ser culpada por destruir a vegetação para alimentar o gado, nem por cortar árvores para obter combustível e cozinhar suas refeições. Seus recursos consistem do que conseguem extrair do ambiente dia após dia, aqui e ali.
Em contrapartida, há áreas do mundo onde o desperdício é intrínseco ao estilo de vida da população, e há um excesso de recursos sob a forma de investimentos, equipamentos e alimentos ricos. A obesidade, mesmo em crianças, é comum. O abismo entre ricos e pobres certamente terminará em mais fome, como o mundo testemunhou no Sudão, na Etiópia e na Coreia. A pressão pode forçar a migração em larga escala e incitar guerras civis e outros conflitos.
Controvérsias a respeito da imoralidade de patentear produtos naturais, como a amargoseira e a açafroeira, tradicionalmente usadas durante milênios na Ásia, para conquistar o mercado mundial e empobrecer aqueles que herdaram o conhecimento ancestral da utilidade desses produtos, é um exemplo de como os ricos tentam se tornar cada vez mais ricos às custas de povos que já são miseravelmente pobres. O pavoroso desperdício de se manter um exército e se preparar para a guerra é uma outra forma de atividade condenável que, se terminasse, poderia imediatamente ajudar a elevar muitos milhões de pessoas acima da linha de pobreza.
Não há meios nem razões para evitar que algumas pessoas alcancem mais resultados que outras – não apenas para inventar ou criar, mas também para obter lucro ou utilizar recursos. O remédio está numa cultura que promova um novo conceito, o de curadoria. Ele ainda não se disseminou no mundo, embora tenha sido muitas vezes apresentado. Significa limitar lucros e privilégios e usar todo o excesso para beneficiar os mais necessitados. A riqueza não tem significado além de um certo ponto; a segurança não depende de se possuir milhões ou bilhões, ou de se viver em mansões ou em palácios.
É fácil dizer que a pobreza é resultado da preguiça; é conveniente acreditar que o que se ganha é por merecimento, mesmo quando o ganho excede enormemente as necessidades ou resulta da exploração dos mais fracos. Mas o mundo pode entrar num período de inseguranças e tumultos ainda maiores se não houver uma ampla preocupação em aliviar a pobreza e salvar o meio ambiente, resultando numa cultura de curadoria. Todos aqueles que possuem devem compartilhar com aqueles que não possuem, sem exceções nem desculpas. Para curar o planeta é preciso compreender que o bem-estar de todas as pessoas está interligado.
"Todos aqueles que possuem devem compartilhar com aqueles que não possuem, sem exceções nem desculpas. Para curar o planeta é preciso compreender que o bem-estar de todas as pessoas está interligado"
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"Para curar o planeta é preciso compreender que o bem-estar de todas as pessoas está interligado"! E para alcançar a compreensão "recomendada" por Radha Burnier, que tal refletir sobre tudo o que ela diz em seu excelente texto?

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