terça-feira, 3 de novembro de 2015

'Unity', de Shaun Monson, mostra a interdependência das formas de vida

Cumprindo promessa feita na última frase da postagem anterior, segue o texto intitulado 'Unity', de Shaun Monson, mostra a interdependência das formas de vida, publicado na edição de 21 de setembro de 2015 do jornal Folha de S.Paulo, em um artigo assinado por Marcelo Gleiser, um físico brasileiro que é professor titular de física, astronomia e filosofia natural no Dartmouth College, EUA e autor de uma série de livros da qual o mais recente é intitulado A Ilha do Conhecimento.
Sócio-fundador da Nação da Terra, uma produtora responsável por terráqueos, o americano Shaun Monson é um produtor e diretor de cinema que ficou mais conhecido após escrever, produzir e dirigir o documentário Earthlings (em 2005) no qual aborda o tratamento violento dado a animais, especialmente na indústria agropecuária.
'Unity', de Shaun Monson, mostra a interdependência das formas de vida
Documentário é um toque de despertar para a humanidade
No dia 12 de agosto, o documentário "Unity" (unidade) estreou em mais de 1.000 cinemas pelo mundo. No Brasil ainda não há data de estreia. Dirigido e escrito por Shaun Monson - cujo filme anterior, "Earthlings", aborda o tratamento violento dado a animais, especialmente na indústria agropecuária -, "Unity" é um toque de despertar para a humanidade, um manifesto para um futuro no qual o homem finalmente compreende seu papel como protetor do mundo natural. O filme mostra a interdependência de todas as formas de vida, sua interligação. A comunidade global é estendida ao planeta por inteiro, da formiga à arvore à atmosfera.
"Unity" é narrado por cem celebridades, incluindo Joaquin Phoenix, Helen Mirren, Geoffrey Rush, Jennifer Aniston e Ben Kingsley. O coro de vozes famosas funciona como uma sinfonia, que busca por uma ressonância com o público. No pôster da produção vemos uma equação: "Humano + Animal + Árvore = Unidade", e a frase "Não os mesmos, mas iguais".
O que, então, nos impede de progredir nessa direção? Se, por um lado, somos capazes de enviar sondas até Plutão, moralmente continuamos nas cavernas.
Minha resposta, que o filme aborda, é a tendência tribal do ser humano, que insiste que inclusão implica a exclusão: os que não pertencem ao meu grupo são necessariamente inferiores, seja esse grupo uma religião, um time de futebol, ou um partido político. A unidade da vida é algo que a ciência demonstrou há tempo, tanto das formas de vida aqui na Terra, que dividem um ancestral comum, como da matéria da qual somos feitos, que veio das estrelas. A desunião é criação dos humanos.
Minha resposta, que o filme aborda, é a tendência tribal do ser humano, que insiste que inclusão implica a exclusão
Conversei com Shaun Monson sobre o filme, e resumo aqui algumas partes da conversa:
Por que o título "Unity"?
Escolhi uma palavra que inclui todos, como fiz com "Earthlings" [seres terrestres]. Com isso tendo a eliminar a tendência que seres humanos têm de separar e distinguir.
Por que o uso das celebridades?
A história é longa, mas de um narrador o número foi aumentando, até que resolvi que queria mesmo uma sinfonia de vozes, capaz de emocionar e impactar as pessoas.
Você conversou com algum cientista na produção do filme?
Apenas com a Ann Druyan [produtora da série "Cosmos"], viúva do Carl Sagan [astrônomo morto em 1996]. Sempre gostei muito do trabalho do Sagan, de como ele humaniza a ciência; e Ann foi muito inspiradora, oferecendo material para eu utilizar.
Alguns críticos dizem que não adianta chamar os humanos de criminosos, que precisamos de soluções.
Sem dúvida, e tem muita gente trabalhando em ONGs para melhorar a qualidade de vida das pessoas e animais pelo mundo afora. Fiz o que sei, um filme, na esperança de iluminar alguns, conscientizando as pessoas da importância de mudar de atitude.
Você está otimista com relação ao futuro?
Com certeza! Mudanças estão ocorrendo e cada vez mais rapidamente. O arco histórico da humanidade é longo, mas se curva na direção da justiça. Talvez lentamente demais; mas está indo na direção certa.
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Perguntado sobre o porquê do título Unity (Unidade), Shaun Monson responde assim: "Escolhi uma palavra que inclui todos, (...) com isso tendo a eliminar a tendência que seres humanos têm de separar e distinguir." E Marcelo Gleiser acrescenta: "A desunião é criação dos humanos. A unidade da vida é algo que a ciência demonstrou há tempo, tanto das formas de vida aqui na Terra, que dividem um ancestral comum, como da matéria da qual somos feitos, que veio das estrelas.".
"'Unity' (Unidade) é um toque de despertar para a humanidade, um manifesto para um futuro no qual o homem finalmente compreende seu papel como protetor do mundo natural. O filme mostra a interdependência de todas as formas de vida, sua interligação. (...) No pôster da produção, vemos uma equação: "Humano + Animal + Árvore = Unidade", e a frase "Não os mesmos, mas iguais", diz Marcelo Gleiser sobre o filme. Equação que, no meu entender, pode ser reescrita assim: Humano + Meio Ambiente (Animal + Árvore) = Ambiente Inteiro (Unidade). O grifo é meu.
"As pessoas querem redescobrir a sensação de viver numa comunidade verdadeira. Estamos fartos de solidão, independência e competição.", afirma o filósofo e teólogo canadense Jean Vanier. E nessa afirmação eu troco "querem" por "precisam", pois, no meu entender, a fartura citada pelo filósofo é percebida apenas por uma minoria dos integrantes da dita espécie inteligente do universo. Distraída por um fascínio pelo alucinante desenvolvimento tecnológico e / ou pelo estúpido uso desse estupendo desenvolvimento, a maioria torna-se incapaz de perceber a fartura citada por Vanier e consequentemente também os males oriundos de tal fartura, e é por isso que filmes como o de Shaun Monson precisam ser feitos.
"Fiz o que sei, um filme, na esperança de iluminar alguns, conscientizando as pessoas da importância de mudar de atitude.", diz Shaun Monson. Faço o que sei, postagens espalhando ideias como as de Monson, na esperança de iluminar alguns, conscientizando as pessoas da importância de mudar de atitude. E assim, sucessivamente, fazendo aquilo que sabe, cada um dos que despertaram para a consciência da interdependência deve seguir tentando despertar os demais, pois, infelizmente, a quantidade dos despertos para a imprescindibilidade de viver em conformidade com a interdependência é enormemente menor do que a daqueles que seguem pela vida sem saber qual é o seu lugar neste planeta, qual é a sua função.

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