Escrever
sobre a Copa do Mundo era algo que não estava nos meus planos. Planos que foram
mudados após uma sugestão e duas solicitações recebidas de três ex-colegas de
trabalho e eternos amigos. Uma sugestão enxergada nas seguintes palavras de um
e-mail recebido no dia 10 deste mês: "Fiz algumas considerações sobre o último
7x1. Confesso que o resultado não me surpreendeu nem me revoltou. (...) Esse
correio é só uma troca de ideias com uma pessoa que gosta de pensar. Favor não
divulgar. (...) Quem sabe você trabalha melhor essas idéias e faz uma nova
postagem para debate no seu blog?"
Considerando que para uma pessoa que gosta de pensar a Copa do
Mundo foi um prato cheio, estou com tantas coisas na cabeça que não sei por
onde começar uma postagem. Sendo assim, com a intenção de ganhar algum tempo (será
que isto é possível?) para organizar as ideias, resolvi espalhar por meio deste
blog um texto que espalhei por e-mail em junho de 2010 (durante a Copa anterior).
Na condição de
apreciador de futebol e de ator do teatro corporativo, naquela época, elaborei
um texto que intitulei Copa do Mundo e
Mundo Corporativo, e que hoje, infelizmente, permanece atual. Portanto,
para aqueles que não o leram, creio que seja interessante fazê-lo agora. Para quem
o leu, digo o seguinte: vale a pena ler de novo. Até porque alguns acréscimos foram feitos no final do texto.
Copa do Mundo e Mundo
Corporativo
Considero a analogia uma das melhores iluminadoras de raciocínio
para interpretar o que vivenciamos, e desta forma obter o melhor conhecimento
para viver melhor. Considero também este momento em que as empresas liberam a
força de trabalho (mediante compensação das horas não trabalhadas) para que ela
torça pela sua seleção (composta por jogadores não selecionados por ela), uma
excelente ocasião para uma analogia entre esportes coletivos e atividades
desempenhadas no mundo corporativo. Em dois artigos do comentarista esportivo
Tostão, publicados em dias consecutivos (18 e 19 deste mês) no Jornal do Brasil, encontrei ideias que
julgo terem tudo a ver com o que acontece no mundo corporativo, e que me
despertaram a vontade de elaborar este e-mail. No primeiro deles - intitulado Bem-vindos os gols - é dito o
seguinte:
"Após o jogo, o racional Parreira deu ótimas explicações para o insucesso. Se a África do Sul não se classificar, o que é provável, Parreira vai convencer os africanos de que é melhor perder que ganhar. (...) A África do Sul, em vez de aproveitar a força da torcida e pressionar o adversário, com uma correria organizada, jogou um futebol cadenciado, frio, no estilo Parreira."
O mundo corporativo adota o mesmo comportamento do racional Parreira. O importante não é
fazer as coisas darem certo, e sim conseguir explicar porque deram errado. E,
se possível, colocar em outros a culpa por não terem dado certo. E tome de
cronogramas excessivamente detalhados, e uma infinidade de repetitivos
relatórios de acompanhamentos (ou seriam de perseguição?) que acabam
acompanhando os projetos para o buraco. No segundo artigo - intitulado Involução - é dito o seguinte:
"Nas Olimpíadas de 1996, a Nigéria ganhou do Brasil e da Argentina e conquistou a medalha de ouro no futebol. Na época, imaginei que, de 10 a 15 anos, uma seleção africana teria grandes chances de ganhar a Copa. Não foi isso que aconteceu.
O lugar-comum, de que os jogadores africanos são habilidosos e criativos, porém indisciplinados taticamente, não existe há muito tempo. Pelo contrário, hoje, as seleções africanas são disciplinadas, fortes, bastante defensivas, mas pouco talentosas. Um dos motivos dessa transformação foi a importação de dezenas de treinadores europeus. As seleções africanas parecem times europeus da segunda divisão. Os africanos perderam a fantasia e não evoluíram na parte técnica. Não sabem finalizar. No momento do chute, estão sempre com o corpo desequilibrado. Chutam e caem."
Em meados da década de 1980, em um curso oferecido pela Tecnologia
da Informação da PETROBRAS, aprendi que a orientação não-diretiva é a melhor
maneira de solucionar problemas. Criada pelo famoso psicólogo Carl Rogers, ela ultrapassou
a área da psicologia e foi adotada em outras áreas. Em que consiste tal orientação? Em
ajudar o "dono" do problema a encontrar as verdadeiras soluções, em vez de
vender-lhe pseudosoluções.
Naquela época, imaginei que, em alguns anos,
uma seleção de usuários de serviços
de Tecnologia da Informação teria grandes
chances de ganhar verdadeiras soluções para os seus problemas. Não foi isso que aconteceu. Assim como os jogadores africanos os profissionais
do mundo corporativo são bastante
disciplinados, bastante defensivos – defendem as "melhores práticas"
trazidas por treinadores europeus, digo,
consultores "estrangeiros", mas pouco
talentosos, e bastante padronizados.
Não sabem finalizar, não sabem concluir.
No momento da conclusão, estão sempre
com a mente desequilibrada. Concluem
e erram.
Mas não terminam aqui as analogias. Um pronunciamento da Ministra
dos esportes da França propicia mais uma. Diante do fracasso da seleção
francesa, ela disse que será contratada uma auditoria para descobrir as causas
do fracasso. Exatamente como ocorre no mundo corporativo. Quando as coisas dão
errado quem deveria tê-las feito darem certo recorre a alguém que, sem conhecer
o problema, deve explicar as causas do fracasso. É isto que eu entendo por
delegar incompetência.
O treinador francês também nos oferece bom material para uma
analogia. Segundo ele, a culpa do fracasso da seleção francesa é dos jogadores.
Não, admitir que o sucesso ou o fracasso de atividades coletivas é consequência
da atuação de quem coordena tais atividades não passa pela cabeça do técnico
francês, tampouco pela cabeça da maioria daqueles que, no mundo corporativo,
ocupam posições de gerência. Daqueles cuja principal função é estimular grupos
de pessoas a trabalharem em função de objetivos comuns e desta forma
transformar tais grupos em equipes. Vejo muita semelhança entre Copa do Mundo e
Mundo Corporativo. E vocês?
*************
Após o jogo, o racional Parreira deu ótimas explicações para o
insucesso, escreveu Tostão na Copa de 2010, ocasião
em que Parreira foi o técnico da África do Sul. Quatro anos depois, mesmo após uma
humilhante derrota por 7 a
1 para a Alemanha, Parreira (como coordenador técnico da seleção brasileira)
voltou a dar ótimas explicações para o insucesso. Esse não tem jeito!
Nas Olimpíadas de 1996,
a Nigéria ganhou do Brasil e da Argentina e conquistou a
medalha de ouro no futebol. Na época, Tostão imaginou que, de 10 a 15 anos, uma seleção
africana teria grandes chances de ganhar a Copa. Não foi isso que aconteceu.
Na Copa de 1970, o Brasil (com
Tostão na equipe) conquistou o tri-campeonato. Será que na época, Tostão imaginou
que, de 12 a
16 anos, o Brasil teria grandes chances de ser hexa-campeão? Caso tenha
imaginado, não foi isso que aconteceu.
Até 1970, em nove edições da Copa,
o Brasil conquistou três títulos. De lá para cá, em onze edições, conquistou apenas
dois (sem o brilhantismo de nenhum dos três primeiros) e acumulou alguns
vexames. Ao artigo em que fala sobre a Nigéria e o que ocorreu com o futebol
africano, Tostão intitulou Involução.
Seria este um título adequado para um artigo focalizando o que ocorreu com o
futebol brasileiro a partir da brilhante conquista do tri-campeonato, em 1970?
O que vocês acham?
Considerando que o título da
postagem é Copa do Mundo e Mundo
Corporativo, fica aqui mais uma pergunta. Involuções podem acontecer também
no Mundo Corporativo?
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