sábado, 3 de agosto de 2013

AWoA: o obscuro AWo que sustenta o propalado ....

Considerando que desfrutar algo baseado no esbanjamento jamais poderá ser estendido a todos, pois se tal ocorresse implicaria na extinção da pretensa espécie inteligente (sic) do Universo, a solução adotada pelos privilegiados desfrutadores é a aplicação de um modo de ação que lhes garanta a subserviência dos demais países deste planeta. Traduzindo em um exemplo o que acabo de dizer, ouso afirmar que a existência do propalado american way of life (AWoL) seria impossível sem a existência de um correspondente american way of que seja capaz de sustentá-lo. É a esse AWo que, mutatis mutandis, denomino american way of action (AWoA). Denominação que, no meu entender, pode ser justificada pelo que John Perkins conta no livro Confissões de um assassino econômico. E para provocá-los a refletir sobre tal justificativa, seguem dois parágrafos selecionados da reportagem de Landon Thomas Jr. (do "New York Times", em Chicago) publicada na edição de 2 de abril de 2006 do jornal Folha de S.Paulo com o título 'Assassino econômico', é best-seller nos EUA.
A mensagem básica de Perkins é que as grandes empresas e as agências governamentais americanas empregam dois tipos de agentes: os "assassinos econômicos", que subornam representantes de economias emergentes, e os "chacais", que podem ser empregados para derrubar ou até mesmo assassinar chefes de Estado da América Latina ou do Oriente Médio, para servir à causa maior do império americano.
Numa cena logo no início do livro, que dá o tom para o restante da obra, ele descreve como foi seduzido por uma mulher misteriosa, de aparência semelhante à da atriz Catherine Zeta-Jones, que se apresentou como Claudine Martin e que supostamente trabalhava para a Main. Em uma entrevista, fala o autor, ela lhe ofereceu cocaína, vinho tinto e, para finalizar, ela própria. "Somos um clube pequeno e exclusivo", afirma Claudine no livro. "Seu trabalho é encorajar líderes mundiais a se transformarem em parte de uma rede imensa que promove os interesses comerciais dos Estados Unidos. No final, esses líderes vão se enredar numa teia de endividamento que vai assegurar a sua lealdade a nós."
Dá para discordar que as ações praticadas pelos dois tipos de agentes acima citados podem ser vistas como definidoras de um american way of action (AWoA) para servir à causa maior do império americano (usando as últimas palavras do segundo parágrafo acima) e consequentemente sustentar o propalado american way of life (AWoL)? Para ajudá-los a responder tal pergunta, segue uma reportagem de Marcelo Ninio, intitulada A corporatocracia está no poder (publicada na mesma página da reportagem de Landon Thomas Jr.) na qual são apresentadas algumas perguntas e respostas de uma entrevista com John Perkins.
A corporatocracia está no poder
O livro de John Perkins, "Confissões de um assassino econômico" (Editora Cultrix), é um prato cheio para os teóricos da conspiração. Em tom confessional, como indica o título, Perkins conta a experiência que viveu na pele de um "assassino econômico", profissional que manipula números e chantageia governos ao redor do mundo a serviço do que chama de "corporatocracia" - conluio entre a Casa Branca e grandes empresas, com a ajuda do Banco Mundial e do FMI, para assegurar o poder do império norte-americano. A seguir, trechos da entrevista de Perkins à Folha, concedida por telefone, da Flórida (EUA).
Folha - O que é a corporatocracia?
John Perkins - Desde a Segunda Guerra Mundial, os assassinos econômicos construíram o primeiro império verdadeiramente global. Isso foi feito principalmente por meios econômicos, não militares. No lugar de um rei, esse império é controlado pelo que chamo de corporatocracia, um grupo de homens que administra grandes empresas. Através dessas empresas controlam o governo do EUA e muitos outros no mundo. Não importa se o presidente [dos EUA] é republicano ou democrata: é a corporatocracia que está no poder.
Folha - Como esse poder é exercido?
Perkins - As pessoas que ocupam o topo do governo dos EUA são egressas de corporações, até o presidente. Os assassinos econômicos oferecem enormes empréstimos do Banco Mundial e de outras organizações a governos estrangeiros, que em seguida são pagos a nossas próprias empresas, como a Halliburton, para construir projetos de infra-estrutura. Depois, os assassinos econômicos voltam aos países e dizem que, já que não têm dinheiro para pagar suas dívidas, esses governos terão que nos vender petróleo barato, votar conosco na ONU ou enviar tropas para alguma missão dos EUA no mundo.
Folha - Como o sr. entrou nisso?
Perkins - Fui recrutado quando ainda estava na faculdade pela Agência de Segurança Nacional, que me submeteu a uma série de testes e concluiu que eu daria um ótimo assassino econômico. Fui treinado por essa mulher notável que descrevo em detalhes no livro, Claudine, que conhecia minhas fraquezas e era muito inteligente e sedutora. Ela me disse que era um negócio sujo e que no momento em que eu entrasse eu não poderia sair. Mas era jovem e pensei que poderia ser a exceção. Senti culpa nos dez anos em que fui assassino econômico. Foi a culpa que me fez deixar o trabalho.
Folha - Por que o sr. demorou 30 anos para contar essa história?
Perkins - Comecei algumas vezes a escrever este livro e toda vez vinham me ameaçar e me subornar. Numa das vezes recebi US$ 500 mil. Comecei a trabalhar com populações nativas na Amazônia e nos Andes e muito do dinheiro que recebi como suborno foi usado para ajudar essas pessoas. Até que aconteceu o 11 de Setembro, e percebi que tinha que escrever o livro. Os americanos não entendem porque tanta gente no mundo tem medo de nós e nos odeia. Eu tinha que explicar. É importante tentar entender os sentimentos das pessoas no resto do mundo. Isso não quer dizer que eu tenha a pretensão de saber o que se passa na cabeça dos assassinos ou que eu esteja tentando justificar assassinato em massa.
Folha - Em seu livro a Amazônia ocupa lugar de destaque, como alvo de cobiça dos EUA.
Perkins - Não há dúvida de que os EUA estão em processo de roubar a Amazônia. No Equador e na Colômbia, países que conheço bem, nossas empresas petrolíferas entram e trabalham com grupos missionários para mover populações nativas, instalar equipamentos de prospecção e construir estradas e negociar com gente corrupta do governo para destruir áreas enormes da Amazônia.
Folha - Por que esse sistema não funcionou no Iraque?
Perkins - Tentamos convencer Saddam Hussein a aceitar o mesmo acordo que conseguimos com a Arábia Saudita nos anos 70 [para ter controle sobre seu petróleo]. Ele não aceitou. Mandamos chacais para assassiná-lo, mas eles não conseguiram, porque Saddam tinha uma segurança muito boa e muitos sósias. Como os assassinos econômicos e os chacais fracassaram, tivemos que mandar o exército [em 1991 e 2003]. Se Saddam tivesse aceitado o mesmo tipo de acordo que fizemos com os sauditas, ele ainda estaria no poder.
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Será que é difícil concordar que as ações dos dois tipos de agentes citados no segundo parágrafo desta postagem - os "assassinos econômicos" e os "chacais" - definem algo que pode ser denominado american way of action (AWoA)? Será que discordar demonstra falta daquilo que é citado na penúltima postagem deste blog? Falta de percepção de que tudo está ligado. Aliás, no meu entender, a relação entre o american way of life (AWoL) e o american way of action (AWoA) vai além da ligação entre duas coisas; AWoL e AWoA são coisas complementares, pois sem a segunda não existiria a primeira. O que vocês acham?

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