quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Reflexões provocadas por "O calmo desespero das elites" e "A nova classe alta"

Juntei, em uma mesma postagem, as reflexões provocadas por "O calmo desespero das elites" e "A nova classe alta", pois o que Julio Groppa condena é, exatamente, o que o Nizan Guanaes defende. Ou seja, são simplesmente opostas as visões de mundo de um professor e de um publicitário.
"Claro está, desde sempre, que, a título de aquisição de um ensino de suposta melhor qualidade, o fetiche dos segmentos mais abastados em relação à educação privada (a totalidade dos que leem este jornal, por exemplo) jamais revela sua motivação base: a subtração vaidosa de sua prole do contato com o mundo feio, sujo e malvado que os circunda, o qual só pode ser avistado ao longo e em movimento, através das películas de blindagem de suas carruagens metálicas. Um mundo-lixeira.
Ilhados em suas escolas-bunker - quintal de seus condomínios-bunker, de seus shoppings-bunker, de suas academias-bunker -, a cada uma dessas crianças e jovens restaria um dever implícito e inconteste: ultrapassar seus coetâneos, tornados rivais aguerridos pelo melhor lugar ao sol do consumo. Daí um norte a presidir seus passos: a busca do sucesso, da dianteira, da 'felicidade' de aparentar ser sempre mais e melhor do que os outros. (...)"
O que os segmentos mais abastados desejam é ilhar seus filhos em suas escolas-bunker - quintal de seus condomínios-bunker, e livrá-los da convivência com tantas reles criaturas deste mundo. Essa é a visão do professor. De alguém que condena segregações. Mas qual será a visão do famoso publicitário?
"Levei recentemente um de meus filhos para testes de admissão em duas escolas americanas de elite. Lá encontrei muitos pais chineses, indianos. E nada de brasileiros.
Essa elite (à qual pertenço) às vezes parece mais mobilizada para educar os pobres do que os próprios filhos - casa de ferreiro, espeto de pau."
(...) Ser rico é um privilégio, um direito e também uma responsabilidade".
Elite mais mobilizada para educar os pobres do que os próprios filhos! Quanta desfaçatez! Além de propagandas enganosas estamos sujeitos também a afirmações e textos enganosos. O famoso publicitário defende segregações. Coloca seus filhos em escolas americanas de elite e afirma que ser rico é um privilégio e um direito. É difícil perceber que defender privilégios é uma atitude segregativa?
"Nasci no Pelourinho, no largo do Carmo, número 4. Descia a ladeira do Carmo e subia o Pelô todos os dias para ir ao colégio Maristas. Eu ia de ônibus, e a escola era mais cara do que meus pais podiam pagar. Não era escola... Era um investimento."
Não era escola... Era um investimento, diz o famoso publicitário. E o professor Yves de La Taille achando que as escolas devem atuar na formação ética e moral! Realmente, professores nada entendem de escolas, mas, felizmente, existem os publicitários, não é mesmo?
"A classe média, a tradicional e a nova, têm motivos óbvios para estudar e se qualificar: um mercado de trabalho cheio de oportunidades para subir na vida, avançar materialmente.
Já a classe alta tem motivos tão nobres quanto, embora nem sempre tão evidentes: liderar essa transformação com valores includentes, iluministas e brasileiros.”
A classe média tem um motivo nobre para estudar e se qualificar: avançar materialmente. Para Nizan Guanaes (que é rico) avançar materialmente é considerado algo nobre. E, segundo ele, a classe alta tem motivos tão nobres quanto, embora nem sempre tão evidentes: liderar essa transformação com valores includentes e brasileiros. No meu entender, creio que jamais será evidente algo de nobre (no melhor sentido da palavra) na classe alta. E para tal classe liderar essa transformação com valores includentes e brasileiros é evidente que não há nada melhor do que excluir as escolas brasileiras e matricular os filhos em escolas americanas de elite, não é mesmo?
A intenção deste blog é espalhar ideias que ajudem a interpretar a vida e provoquem ações para torná-la cada vez melhor. Melhor para todos. Por isso, creio que, algumas vezes, seja necessário espalhar a ideia de que existe também quem tenha a intenção de, equivocadamente, tentar torná-la melhor apenas para a classe em que se inclui. Ao espalhar A nova classe alta a intenção é questionar um texto de alguém que age nesse sentido. De quem pertence ao grupo de formadores de opinião deste país e que se vangloria de ter chegado até onde chegou: colunista da Folha de S.Paulo. Alguém que já disse que o marketing é tudo na vida das pessoas, e que em um artigo de Barbara Gancia publicado na edição de 28 de outubro de 2011 da Folha de S.Paulo, no qual ela fala sobre a morte de Steve Jobs, merece uma citação na passagem apresentada abaixo.
"(...) Aliás, por falar em iCloud, por que é que agora Steve Jobs sempre aparece recostadão sobre uma nuvem, isso não era coisa que a gente costumava reservar ao Matemático lá de cima? Quem ele acha que é, o Nizan Guanaes?
Dá para acreditar que a nova classe alta a que se refere o famoso publicitário que se considera pertencente à elite tem motivos para liderar essa transformação com valores includentes, iluministas e brasileiros por ele mencionada? Eu não acredito. Eu acredito é no calmo desespero das elites. E vocês?

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