Juntei, em uma mesma postagem, as
reflexões provocadas por "O calmo desespero das elites" e
"A nova classe alta", pois o que Julio Groppa condena é,
exatamente, o que o Nizan Guanaes defende. Ou seja, são simplesmente opostas as
visões de mundo de um professor e de um publicitário.
"Claro está, desde sempre, que, a título de aquisição de um ensino de suposta melhor qualidade, o fetiche dos segmentos mais abastados em relação à educação privada (a totalidade dos que leem este jornal, por exemplo) jamais revela sua motivação base: a subtração vaidosa de sua prole do contato com o mundo feio, sujo e malvado que os circunda, o qual só pode ser avistado ao longo e em movimento, através das películas de blindagem de suas carruagens metálicas. Um mundo-lixeira.Ilhados em suas escolas-bunker - quintal de seus condomínios-bunker, de seus shoppings-bunker, de suas academias-bunker -, a cada uma dessas crianças e jovens restaria um dever implícito e inconteste: ultrapassar seus coetâneos, tornados rivais aguerridos pelo melhor lugar ao sol do consumo. Daí um norte a presidir seus passos: a busca do sucesso, da dianteira, da 'felicidade' de aparentar ser sempre mais e melhor do que os outros. (...)"
O que os segmentos mais abastados desejam é ilhar seus filhos
em suas escolas-bunker - quintal de seus condomínios-bunker, e livrá-los da
convivência com tantas reles criaturas deste mundo. Essa é a visão do professor. De alguém que condena segregações.
Mas qual será a visão do famoso publicitário?
"Levei recentemente um de meus filhos para testes de admissão em duas escolas americanas de elite. Lá encontrei muitos pais chineses, indianos. E nada de brasileiros.Essa elite (à qual pertenço) às vezes parece mais mobilizada para educar os pobres do que os próprios filhos - casa de ferreiro, espeto de pau."
(...) Ser rico é um privilégio, um direito e também uma responsabilidade".
Elite mais mobilizada para educar os pobres do que os
próprios filhos! Quanta
desfaçatez! Além de propagandas enganosas estamos
sujeitos também a afirmações e textos enganosos. O famoso publicitário defende segregações.
Coloca seus filhos em escolas americanas de elite e afirma que ser rico é um
privilégio e um direito. É difícil perceber que defender privilégios é uma
atitude segregativa?
"Nasci no Pelourinho, no largo do Carmo, número 4. Descia a ladeira do Carmo e subia o Pelô todos os dias para ir ao colégio Maristas. Eu ia de ônibus, e a escola era mais cara do que meus pais podiam pagar. Não era escola... Era um investimento."
Não era escola...
Era um investimento, diz o famoso publicitário. E o professor Yves de La Taille achando que as escolas devem atuar na formação ética e moral! Realmente, professores nada entendem de escolas, mas, felizmente,
existem os publicitários, não é mesmo?
"A classe média, a tradicional e a nova, têm motivos óbvios para estudar e se qualificar: um mercado de trabalho cheio de oportunidades para subir na vida, avançar materialmente.Já a classe alta tem motivos tão nobres quanto, embora nem sempre tão evidentes: liderar essa transformação com valores includentes, iluministas e brasileiros.”
A classe média tem um
motivo nobre para estudar e se qualificar: avançar materialmente. Para Nizan Guanaes
(que é rico) avançar materialmente é considerado algo nobre. E, segundo ele, a classe alta tem motivos tão nobres quanto,
embora nem sempre tão evidentes: liderar essa transformação com valores
includentes e brasileiros. No meu entender, creio que jamais será evidente algo
de nobre (no melhor sentido da palavra) na classe alta. E para tal
classe liderar essa transformação com
valores includentes e brasileiros é evidente que não há nada melhor do que excluir as escolas brasileiras e matricular
os filhos em escolas americanas de
elite, não é mesmo?
A intenção deste
blog é espalhar ideias que ajudem a
interpretar a vida e provoquem ações para torná-la cada vez melhor. Melhor
para todos. Por isso, creio que, algumas vezes, seja necessário espalhar a
ideia de que existe também quem tenha a intenção de, equivocadamente, tentar
torná-la melhor apenas para a classe em que se inclui. Ao espalhar A nova
classe alta a intenção é questionar um texto de alguém que age nesse
sentido. De quem pertence ao grupo de formadores de opinião deste país e que se
vangloria de ter chegado até onde chegou: colunista da Folha de S.Paulo. Alguém
que já disse que o marketing é tudo na vida das pessoas, e que em um artigo de
Barbara Gancia publicado na edição de 28 de outubro de 2011 da Folha de S.Paulo,
no qual ela fala sobre a morte de Steve Jobs, merece uma citação na passagem
apresentada abaixo.
"(...) Aliás, por falar em iCloud, por que é que agora Steve Jobs sempre aparece recostadão sobre uma nuvem, isso não era coisa que a gente costumava reservar ao Matemático lá de cima? Quem ele acha que é, o Nizan Guanaes?
Dá para acreditar
que a nova classe alta a que se
refere o famoso publicitário que se considera pertencente à elite tem motivos
para liderar essa transformação com valores includentes, iluministas e
brasileiros por ele mencionada? Eu não acredito. Eu acredito é no calmo desespero das elites. E vocês?
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