sábado, 25 de agosto de 2012

Reflexões provocadas por "Esquecer para saber"

"A menina me disse que eu teria de esquecer o que sabia para poder ver aquilo que eu não via... (...) Eu teria de esquecer para poder ver... Quem lhe ensinara isso, essa estranha pedagogia da desaprendizagem?
Barthes, ao sentir a velhice chegando, disse esta coisa surpreendente: que chegara a sua hora suprema, a hora do esquecimento, tempo de desaprender os saberes que havia aprendido."
Uma menina e um homem sentindo a velhice chegando, dizendo coisas semelhantes. Ou seja, na vida não se deve separar as pessoas entre os que ensinam (os mais velhos) e os que aprendem (os mais jovens). Todos podem, e devem, aprender com todos. Aprender até mesmo a desaprender!
"Esquecer, desaprender: são o oposto daquilo que as escolas e professores pedem aos alunos. Os professores perguntam e os alunos, se tiverem boa memória, respondem e tiram boas notas..."
Eis um dos grandes problemas da sociedade em que vivemos: existem coisas que são o oposto daquilo que deveriam ser, e a escola é uma delas. Em vez de estimular os alunos a fazer perguntas, ela os faz memorizar respostas para tirar boas notas nas provas. O problema é que tirar boas notas na escola não garante boas notas nas provas que a vida lhes aplicará após saírem da escola. São muitos os que obtêm sucesso na escola, mas fracassam na vida, pois, infelizmente, a escola não costuma preparar para a vida. Aprender a solucionar as questões que a vida propõe não é algo para o qual a escola prepare.
"Esquecer é o contrário: perder, abrir mão, deixar ir. (...) É caminhar na direção contrária."
E caminhar assim confunde ainda mais a já confusa maioria (sempre ela!). É o que nos mostra o curtíssimo-cortante aforismo de T. S. Eliot: "Num país de fugitivos, aquele que anda na direção contrária parece estar fugindo". Numa sociedade equivocada, aquele que anda no sentido contrário parece estar equivocado. Numa sociedade equivocada, considera-se que a razão esteja com a maioria.
"Atualmente procura-se divulgar a sabedoria por toda a parte: quem sabe se daqui a poucos séculos não haverá universidades destinadas a restabelecer a antiga ignorância?"
Até porque a sabedoria que atualmente procura-se divulgar talvez não seja tão sábia assim. E mais uma vez T. S. Eliot é citado:
"Onde está a vida que perdemos na existência?
Onde está a sabedoria que perdemos no conhecimento?
Onde está o conhecimento que perdemos na informação?"
Vivemos em uma estranha sociedade na qual sabedoria, conhecimento e informação foram colocados em um mesmo saco e poucos sabem distinguir o que seja cada uma dessas coisas.
"Na busca do conhecimento a cada dia se soma algo.
Na busca do Caminho da Vida a cada dia se diminui algo".
É isso que está lá dito, no poema de número 48 do "Tao-Te-Ching".
"(triste de nós que trazemos a alma vestida!),
(...) 'Procuro despir-me do que aprendi,
(...) Desembrulhar-me e ser eu...'"
É essa a opinião de Alberto Caeiro, um dos heterônimos de Fernando Pessoa.
"Simplesmente retiro do bloco de mármore tudo o que não é necessário".
É essa a resposta de Michelangelo ao ser perguntado sobre como fazia uma escultura.
No Caminho da Vida a cada dia devemos diminuir algo. Procurar despir a alma do que aprendemos (por interesse de outros e não nosso). Desembrulhar-nos e sermos nós mesmos. Retirar do bloco de mármore dos nossos saberes tudo o que não é necessário. E, então, fazer surgir a obra prima em que cada um de nós pode se transformar.
É essa a minha conclusão considerando o que foi dito acima.

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