“Era uma vez um político, também educador popular, chamado James Aggrey. Ele era natural de Gana, pequeno país da África Ocidental. Até agora, talvez, um ilustre desconhecido. Mas, certa feita, contou uma história tão bonita que, com certeza já circulou pelo mundo, tornando seu autor e sua narração inesquecíveis.
Como muitas pessoas, provavelmente, não tiveram a oportunidade de ler sua história, nem de conhecer seu país, vamos, inicialmente, falar um pouco de Gana e relembrar aquela história.
Gana está situado no Golfo da Guiné, entre a Costa do Marfim e o Togo. Sua longa história vem do século IV. Alcançou o apogeu entre 700 e 1200 de nossa era. Naquela época havia tanto ouro que até os cães de raça usavam coleiras e adornos com esse precioso metal.
No século XVI Gana foi feita colônia pelos portugueses. E, por causa do ouro abundante, chamaram-na de Costa do Ouro. Outros, como os traficantes de escravos, denominavam-na também de Costa da Mina.
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A pretexto de combater a exportação de escravos para as Américas, a Inglaterra se apoderou desta colônia portuguesa. De início, em 1874, ocupou a costa e, em seguida, em 1895, invadiu todo o território. Gana perdeu assim a liberdade, tornando-se apenas uma colônia inglesa.
A libertação começa na consciência
A população ganense sempre alimentou forte consciência da ancestralidade de sua história e muito orgulho da nobreza de suas tradições religiosas e culturais. Em consequência, foi constante sua oposição a todo tipo de colonização. James Aggrey, considerado um dos precursores no nacionalismo africano e do moderno pan-africanismo, fortaleceu significativamente este sentimento.
Ele teve grande relevância política como educador de seu povo. Para libertar o país – pensava ele à semelhança de Paulo Freire – precisamos antes de tudo, libertar a consciência do povo. Ela vem sendo escravizada por ideias e valores antipopulares, introjetados pelos colonizadores.
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A libertação se efetiva na prática histórica
Toda colonização – seja a antiga, pela invasão dos territórios, seja a moderna, pela integração forçada no mercado mundial – significa sempre um ato de grandíssima violência. Implica o bloqueio do desenvolvimento autônomo de um povo. Representa a submissão de parcelas importantes da cultura, com sua memória, seus valores, suas instituições, sua religião, à outra cultura invasora. Os colonizados de ontem e de hoje são obrigados a assumir formas políticas, hábitos culturais, estilos de comunicação, gêneros de música e modos de produção e de consumo dos colonizadores. (...) Os que detêm o monopólio do ter, do poder e do saber, controlam os mercados e decidem sobre o que se deve produzir, consumir e exportar. Numa palavra, os colonizados são impedidos de fazer suas escolhas, de tomar as decisões que constroem sua própria história.
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James Aggrey incentivava em seus compatriotas ganenses sentimentos de solidariedade essencial. Infelizmente não pôde ver a libertação de seu povo. Morreu antes, em 1927. Mas semeou sonhos.
A libertação veio com Kwame N’Krumah, uma geração após. Este aprendeu a lição libertária de Aggrey. Apesar da vigilância inglesa, conseguiu organizar em 1949 um partido de libertação, chamado Partido da Convenção do Povo.
N’Krumah e seu partido pressionaram de tal maneira a administração colonial inglesa, que o governo de Londres se viu obrigado, em 1955, a fazê-lo primeiro-ministro. Em seu discurso de posse surpreendeu a todos ao proclamar: ‘Sou socialista, sou marxista e sou cristão”.
Obteve a sua maior vitória no dia 6 de março de 1957 quando presidiu a proclamação da independência da Costa do Ouro. Agora o país voltou ao antigo nome: Gana. Foi a primeira colônia africana a conquistar sua independência.
Se aplicarem os ideais de James Aggrey, consolidarão sua identidade e autonomia. E avançarão pouco a pouco no sentido de uma concidadania participativa e solidária.”
O texto acima é composto por trechos do capítulo 1 do livro A Águia e a Galinha – Uma metáfora da condição humana de Leonardo Boff. O capítulo não foi apresentado na íntegra devido àquele já conhecido motivo: diminuir o tamanho do texto para aumentar a probabilidade de ser lido. Esta postagem serve de sensibilização para a leitura da metáfora que dá título ao livro e que será apresentada na próxima.
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