“Ler significa reler e compreender, interpretar. Cada um lê com os olhos que tem. E interpreta a partir de onde os pés pisam.Todo ponto de vista é a vista de um ponto. Para entender como alguém lê, é necessário saber como são seus olhos e qual é sua visão de mundo. Isso faz da leitura sempre uma releitura.A cabeça pensa a partir de onde os pés pisam. Para compreender, é essencial conhecer o lugar social de quem olha. Vale dizer, como alguém vive, com quem convive, que experiências tem, em que trabalha, que desejos alimenta, como assume os dramas da vida e da morte e que esperanças o animam. Isso faz da compreensão sempre uma interpretação.Sendo assim, fica evidente que cada leitor é co-autor. Porque cada um lê e relê com os olhos que tem. Porque compreende e interpreta a partir do mundo que habita.Com estes pressupostos vamos contar a história de uma águia, criada como galinha. Essa história será lida e compreendida como uma metáfora da condição humana. Cada um lerá e relerá conforme forem seus olhos. Compreenderá e interpretará conforme for o chão que seus pés pisam.”
Os parágrafos acima são os primeiros do livro A águia e a galinha e, do meu ponto de vista, Leonardo Boff os escreveu com a intenção de sensibilizar cada leitor a tirar o maior proveito da leitura da metáfora da condição humana. Mas por que comecei esta postagem citando-os? Porque se todo ponto de vista é a vista de um ponto, do meu ponto de vista, tais parágrafos servem também para defender uma ideia que, há bastante tempo, tento estimular nas pessoas, porém sem obter êxito: o compartilhamento das interpretações do que lêem.
Sim, cada um lê com os olhos que tem e interpreta a partir de onde os pés pisam. Cada um lê com seus olhos e de acordo com a sua visão de mundo. Visão essa que é desenvolvida a partir do lugar social de quem olha. Ou seja, é desenvolvida com base em que trabalha, que desejos alimenta, como assume os dramas da vida e da morte, que esperanças o animam, que experiências tem, como vive, com quem convive. Mas essa visão pode ser mudada desde que haja disposição para mudar o modo de atuar sobre os fatores nos quais ela se baseia (citados na frase anterior). E também pela prática adequada do que é dito na seguinte afirmação de Howard Hendricks:
“Daqui a cinco anos você estará bem próximo de ser a mesma pessoa que é hoje, exceto por duas coisas: os livros que ler e as pessoas de quem se aproximar.”
E as duas coisas influenciam-se reciprocamente: as pessoas de quem alguém se aproxima influenciam a escolha dos livros que se lê e vice-versa. E se, além da leitura, houver o intercâmbio das interpretações do que se lê a mudança da visão de mundo, de cada um dos envolvidos, tende a ser ainda maior. Afinal, quanto maior a quantidade de pessoas empenhadas em mudar - seja lá o que for - maiores serão a mudança ocorrida e a rapidez com que ela ocorre. No nosso caso, a urgência é mudar a nossa visão de mundo até encontrar a que possibilite enxergar, com clareza, as verdadeiras causas dos males que nos afligem, pois sem enxergá-las jamais anularemos os seus perniciosos efeitos. A verdadeira solução de qualquer problema começa, inevitavelmente, pela identificação correta de sua (s) causa (s).
Vocês estão satisfeitos com o mundo em que vivem? Eu não estou. E muito da minha insatisfação vem da atitude da maioria em relação a quem atribuir a responsabilidade pela solução dos problemas que nos afligem. Não sei de onde as pessoas tiram a ideia de que algum problema pode ser resolvido sem a efetiva participação dos prejudicados por ele. Sei que jamais solucionaremos os problemas sozinhos, mas sei também que eles jamais serão solucionados sem a nossa participação.
É por tais motivos que prossigo na busca de diferentes visões de mundo e as compartilho com as pessoas a quem tenho acesso. É nessa busca que leio livros e me aproximo de quem eu creio que tenha pontos de vistas capazes de contribuir para alcançar uma visão de mundo que consiga fazer com que as pessoas entendam a imprescindibilidade de sua participação na construção de um mundo melhor. É para alcançá-la que continuo empenhado em algo já citado nesta postagem: estimular as pessoas a compartilhar as reflexões sobre o que lêem.
A criação dos meus blogs é mais uma tentativa de conseguir tal coisa, pois blogs possuem algo que facilita tal compartilhamento: os comentários. Todo ponto de vista é a vista de um ponto e toda ideia é oriunda de algum (ns) ponto (s) de vista. Portanto, se a intenção deste blog é espalhar idéias, ele espalha também pontos de vista. E se, na maioria das postagens, eu acrescento a minha interpretação sobre a ideia espalhada e também publico postagens cujo título é iniciado por “Reflexões sobre...” ou “Reflexões provocadas por...”, entre os pontos de vista espalhados está também o meu. Ponto de vista que, conforme foi dito acima, é desenvolvido com base em livros que leio, em pessoas de quem me aproximo, em trabalhos dos quais participo, em desejos que alimento, em experiências que realizo, na maneira como vivo, nos lugares que freqüento..., e também em comentários que alguém, por ventura, compartilhe.
Lembro-os de que a vontade de redigir esta postagem surgiu devido a eu ter olhado, de outro ponto de vista, os pressupostos usados por Leonardo Boff para contar a história de uma águia, criada como galinha. E de ter entendido que tais pressupostos são válidos também para estimular as pessoas a compartilhar as interpretações do que lêem. Será que os convenci a compartilhar suas visões de mundo? Minha insistência deve-se a crença de que seja por meio de tal compartilhamento que conseguiremos enxergar verdadeiras soluções para os males que nos afligem. Bem, isto é o que vejo do meu atual ponto de vista. E vocês, o que vêem dos seus? Será que o título da próxima postagem começará por “Reflexões provocadas por...”? Será que do ponto de vista de vocês é possível enxergar o título da próxima postagem?
Todo ponto de vista é a vista de um ponto, e ponto final nesta longa postagem. Mas não na busca da visão de mundo que seja capaz de nos fazer acreditar que não somos galinhas, e sim águias.
4 comentários:
Guedes,
Ainda trabalho na área de TI e adorei o seu post. Você já leu o princípio Dilbert de Scott Adams. Tenho ele desde que comecei o curso de administração.
Guedes,
É isso temos todos força para sermos águia. É só querer e lutar. Sim. Mas, existem o que preferem continuar sendo galinha, OPÇÃO. Já assisti até uma palestra com o Frei Leonardo Boff a águia e a galinha. Prefiro ser águia, com certeza, depois é bom ler o despertar da águia.
Por isso acho linda aquela águia do Municipal e depois de restaurada, perfeita.
Oi Sônia,
Sim, eu já li O Princípio Dilbert. Aliás, tenho uma coleção daquelas “tirinhas” Dilbert que eram publicadas em jornais. Várias vezes eu selecionei algumas delas para colar nas paredes do setor onde eu trabalhava. E também já enviei várias para os destinatários da minha lista de e-mails.
Beijos,
Guedes
Oi Sônia,
Sim, se todos somos águias criadas como se fossemos galinhas todos temos possibilidades de recuperar a condição de águias. O problema é que tendo sido criados como galinhas, a maioria, por si só, dificilmente consegue descobrir que na verdade é uma águia. A maioria depende do surgimento de um “naturalista” que lhe diga que é uma águia, e não uma galinha. É a partir daí que precisa ser feita uma OPÇÃO: acreditar ou não nas palavras do “naturalista”. E ao acreditar a águia conseguirá “abrir suas potentes asas, grasnar com o típico kau-kau das águias, erguer-se, soberana, sobre si mesma e começar a voar, a voar para o alto, a voar cada vez para mais alto”. É preciso crer para ver; para ver do que somos capazes.
Ainda não li “O despertar da águia”.
Sim, aquela águia do Municipal é realmente muito linda e a restauração deixou-a deslumbrante.
Beijos,
Guedes
Postar um comentário