quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O peso da servidão (final)

Continuação de domingo
“Mas nós temos desculpa. O nosso fim não é educar nossas ovelhas nem torná-las inteligentes, mas somente treiná-las para suportar, aceitar e até desejar a lei do rebanho e da servidão - aquela que dá boa carne e grandes benefícios.”
Será que a seguinte adaptação “humana” do parágrafo acima faz sentido?
Mas nós temos desculpa. O nosso fim não é educá-las nem torná-las inteligentes, mas somente treiná-las para suportar e até desejar a lei do mercado de trabalho - aquela que dá bons lucros e grandes malefícios.
“Vejo-as virar, todas ao mesmo tempo, as mesmas páginas, repetir as mesmas palavras, fazer os mesmos sinais... E mais tarde, você se admirará ao vê-las oferecer miseravelmente os braços à exploração e o corpo ao sofrimento e à guerra, como as ovelhas se oferecem ao matadouro.”
E segue mais uma adaptação sobre a qual lhes indago se faz sentido.
Vejo-as seguir, todas ao mesmo tempo, as mesmas recomendações de “superiores hierárquicos”, repetir as mesmas práticas comercializadas como sendo as melhores, fazer as mesmas coisas... E mais tarde, você se admirará ao vê-las oferecer miseravelmente os braços à exploração e o corpo ao sofrimento e a condições de trabalho e de vida degradantes, como as ovelhas se oferecem ao matadouro.
“É a servidão que nos torna fracos; é a experiência vivida, mesmo perigosamente, que forma homens capazes de trabalhar e viver como homens.
Não aceite a volta à servidão escolar. Faça por merecer a liberdade!”
Não aceite a volta a nenhuma espécie de servidão. Faça por merecer a liberdade! E entenda as três afirmações feitas na trilogia cinematográfica O Senhor dos Anéis:
“Não há liberdade sem sacrifício.
Não há vitória sem sofrimento.
Não há triunfo sem perda.”
Para livrar-se do domínio e do fascínio exercidos pelo anel, Frodo, o encarregado de destruí-lo, perdeu um dos dedos. Para nos livrarmos de nossa servidão não precisaremos perder nenhum dedo, mas precisaremos abrir mão de algumas coisas que nos dominam. Dentre elas, o fascínio pela ascensão a cargos hierarquicamente superiores, pois estes são baseados na confiança. Na confiança que os seus ocupantes serão servidores incondicionais daqueles que estiverem acima e amedrontadores dos que estiverem abaixo. Eis a essência da servidão: Covardia diante de quem estiver acima e “coragem” diante de quem estiver abaixo. Manda quem pode e obedece quem tem juízo é a máxima dos ocupantes de cargos de confiança.
É estranha essa questão dos cargos de confiança. Seus ocupantes são pessoas que têm a confiança de quem as colocou em tais cargos, mas, geralmente, não merecem a menor confiança de quem lhe é subordinado. Quanta pobreza moral e espiritual em uma espécie que se julga superior!
Portanto, se quisermos, realmente, evoluir com espécie é imprescindível questionarmos a necessidade de vender nossa liberdade de pensar por nós mesmos e nos tornarmos simples servos não só de pessoas pretensamente superiores, mas também de desejos que nos fascinam. Questionar é uma capacidade que não deve ser vendida por quantia alguma, pois, segundo o sociólogo Zygmunt Bauman, “Nenhuma sociedade que esquece a arte de questionar pode esperar encontrar respostas para os problemas que a afligem”. Será que dá para questionar esta afirmação?

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