segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Dia do Luto Nacional

Neste momento, interrompo a minha programação para um pronunciamento, não de alguma de suas excelências, e sim meu, sobre o Dia do Luto Nacional que está sendo divulgado pela internet e para o qual fui convocado a participar.
Brasileiras e brasileiros,
Quando é que deixaremos de acreditar que para melhorar a nossa vida basta nos vestirmos com determinada cor?
Quando é que perceberemos que vestir preto no Dia do Luto Nacional, imaginando que com tal atitude acabaremos com as mazelas políticas deste país, produz o mesmo efeito que vestir branco no réveillon imaginando que a nossa vida ficará cor de rosa a partir do ano novo? Ou seja, produz efeito nenhum.
Quando é que perceberemos que há anos repetimos tais práticas, sem êxito algum?
“Basta usar preto em qualquer lugar deste país e você estará participando!”, diz o texto que li. “Participando de que?”, pergunto eu.
Será que jamais enxergaremos que para dar um “basta” em coisas contra as quais “dizemos” nos indignar não “basta” vestir uma roupa preta?
“Este é o nosso luto!!”, diz o texto que li. Este é o nosso problema, digo eu. Estamos com o luto errado, pois o nosso luto deve ser o luto do verbo lutar e não este. E a luta não deve ser apenas por um dia. Mais uma vez lembro de Bertolt Brecht.
“Há homens que lutam um dia. E são bons. Há homens que lutam muitos dias. E são melhores. Há os que lutam anos. E são excelentes. Mas há os que lutam toda a vida. E estes são os imprescindíveis.”
Não, não basta usar preto para dar um basta a essas coisas contra as quais “dizemos” nos indignar. O que precisamos é dar um basta à nossa acomodação. Acomodação que, de longa data, é conhecida e reconhecida fora deste país. Leslie Fry, embaixador britânico aqui acreditado nos idos de 1964, em telegrama ao Foreign Office, descreveu os brasileiros como “um povo submisso e quase anormalmente pacífico”. Dá para discordar dele? Creio que não.
Para este tipo de atitude proposta, os políticos nem se manifestam, mas se o fizessem seria para dizer algo como: “Estou me lixando” para vocês vestirem-se de preto. O que importa é que vocês sempre nos reelegem”.
“Ouviram do Ipiranga as margens plácidas” deveria nos fazer lembrar de “verás que um filho teu não foge à luta”, mas, infelizmente, atitudes como essa de vestir-se de preto está mais para “deitado eternamente em berço esplêndido”. Deitado vestido de preto, mas deitado.

2 comentários:

Ivan Maia disse...

Parado na esquina, vestido de preto , vendo o "Bando" passar...

Guedes disse...

Grande lembrança e ótima analogia, Ivan Maia!

Creio que o seguinte trecho da música também seja aplicável.

“Mas para meu desencanto
O que era doce acabou
Tudo tomou seu lugar
Depois que o ‘bando’ passou”

Abraços,
Guedes