sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Despedida de um gênio

A postagem anterior termina dizendo que é necessário que nós comecemos a mudar o que somos. E há quem consiga perceber a necessidade de tal mudança. O problema é que a percepção costuma acontecer apenas quando a pessoa recebe a notícia de que, devido a uma doença séria (existe doença brincalhona?), o tempo que lhe resta nesta vida está se esgotando. No filme Viver, de Akira Kurosawa, há um funcionário público que ao ser avisado de que está com câncer no estômago e tem pouco tempo de vida pela frente, resolve mudar seu comportamento e dar um sentido ao pouco tempo de vida que lhe resta. Um e-mail que recebi recentemente apresenta mais uma história do gênero.
Em 2002, após ter sido diagnosticado um câncer linfático, Gabriel Garcia Márquez, um dos latino-americanos mais brilhantes dos últimos tempos, enviou uma carta de despedida aos seus amigos e, graças à internet, ela pôde ser difundida pelo mundo. Portanto, o texto de tal carta pode não ser novidade para todos os que visitarem este blog, mas considerando que pode ser novidade para muitos, resolvi publicá-lo aqui. É um texto comovedor. Portanto, aos mais sensíveis é aconselhável que ao lê-lo tenham um lenço em mãos, para evitar que lágrimas possam cair sobre o equipamento onde o lêem.
“Se, por um instante, Deus se esquecesse de que sou uma marionete de trapos e me presenteasse com mais um pedaço de vida, eu aproveitaria esse tempo o mais que pudesse.
Possivelmente, não diria tudo o que penso, mas, definitivamente, pensaria tudo o que digo. Daria valor às coisas, não por aquilo que valem, mas pelo que significam. Dormiria pouco, sonharia mais, porque entendo que, por cada minuto que fechamos os olhos, perdemos sessenta segundos de luz. Andaria quando os demais se detivessem, acordaria quando os demais dormissem.
Se Deus me presenteasse com um pedaço de vida, deitar-me-ia ao sol, deixando descobertos não somente o meu corpo como também a minha alma.
Aos homens, eu provaria quão equivocados estão ao pensar que deixam de se enamorar quando envelhecem, sem saberem que envelhecem quando deixam de se enamorar. A um menino, eu daria asas e apenas lhe pediria que aprendesse a voar. Aos velhos, eu ensinaria que a morte não chega com o fim da vida, mas, sim, com o esquecimento.
Tantas coisas aprendi com vocês homens...
Aprendi que todo o mundo quer viver no topo da montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subi-la. Aprendi que um homem só tem o direito a olhar o outro de cima para baixo quando o está ajudando a levantar-se. São tantas as coisas que pude aprender com vocês, mas, agora, realmente de pouco me servirão, porque quando me guardarem dentro dessa caixa, infelizmente estarei morrendo.
Diga sempre o que sente e faça o que pensa. Supondo que hoje fosse a última vez que lhe verei dormir, eu lhe abraçaria fortemente e rezaria ao Senhor para poder ser o guardião da sua alma. Supondo que estes são os últimos minutos que lhe vejo, eu lhe diria ‘Amo Você’, e não assumiria, loucamente, que já o sabe.
Existe sempre um amanhã em que a vida nos dá outra oportunidade para fazermos bem as coisas, mas, pensando que hoje é tudo o que nos resta, gostaria de lhe dizer o quanto lhe quero e que nunca lhe esquecerei. O amanhã não está assegurado a ninguém, nem a jovens nem a velhos. Hoje pode ser a última vez que você verá aqueles que ama.
Por isso, não espere mais! Faça hoje, porque o amanhã pode nunca chegar. Senão, lamentará o dia que não teve tempo para um sorriso, um abraço, um beijo porque estava muito ocupado para atender esse último desejo.
Mantenha os que ama juntos de você, diga-lhes ao ouvido o muito que precisa deles, o quanto lhes quer, e trate-os bem! Aproveite para lhes dizer ‘me perdoe’, ‘por favor’, ‘obrigado’ e todas as palavras de amor que conhece.
Você não será recordado pelos seus pensamentos secretos. Peça ao Senhor a força e a sabedoria para expressá-los. Demonstre aos seus amigos e seres queridos o quanto são importantes para você!”

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