segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Ele era um Homem. E nós, o que somos?

O texto recebido recentemente do amigo João Paulo – Lição de vida para o ocidente - me faz lembrar de duas lições de vida contadas em livros que li, em algum lugar do passado. A primeira delas é do livro Centelhas, de Shri Swami Tilak.
Ele era um Homem
“Muito tarde da noite, um homem esquelético estava sentado próximo ao latão de lixo, impacientemente procurando algo para comer. Graças a Deus, finalmente ele conseguiu achar uns bocados de comida. Mas tão logo ele pensou em comer o primeiro bocado, um cão vira-lata faminto apareceu. Com sua mão, o homem acariciou bondosamente o cão e pos a comida em sua boca. Eu pensei ser o auge da estupidez. Ostensivamente chamei a sua atenção:
- Seu tolo! Está alimentando um cão quando você mesmo está morrendo de fome!
- Desculpe-me, senhor. Eu sou um homem, não um cão. Os cães alimentam-se a si mesmos e não se preocupam com os outros, mas o homem partilha sua comida com os outros, mesmo quando não tem o suficiente para si mesmo.
Curvei-me perante o homem.”
A segunda faz parte do livro A delicada questão da vida dentro e fora da Terra, de Celso Martins. Segundo o autor, a história foi retirada da revista Seleções do Reader’s Digest, de maio de 1958, de uma reportagem focalizando a inteligência prática de muitos animais. Eis a história.
Operação Caribu
“Quando eu era da Real Força Aérea Canadense, declara S. S. Estes, fomos um dia designados para proceder à Operação Caribu. Nos invernos rigorosos os caribus são compelidos a procurar alimento para sobreviver e os rebanhos emigram para o sul. A finalidade da Operação Caribu era a de localizar os animais migradores e jogar toneladas de feno para eles.
A uns 650 quilômetros ao Norte de Winnipeg, conseguimos localizar uma grande manada. Muitos animais estavam deitados, evidentemente fracos demais para se porem de pé. Quando o feno caiu, aqueles que estavam deitados, nem tentaram se levantar. Mas quando demos uma volta para observá-los melhor, deparamos com um espetáculo extraordinário: alguns dos animais mais fortes aproveitavam-se do feno, apanhavam um pouco com a boca e iam colocá-lo diante dos companheiros enfraquecidos antes mesmo de eles próprios, os mais fortes, comerem.”
O homem esquelético que ao achar uns bocados de comida coloca-a na boca do cão antes de ele próprio alimentar-se era um Homem.
Os caribus mais fortes que apanhavam o feno com a boca e o colocavam diante dos companheiros enfraquecidos eram seres irracionais dotados de espírito fraterno.
O menino japonês de Fukushima - de apenas 9 anos - que ao receber uma bolsa de comida, vendo pessoas com mais fome do que ele, coloca-a na pilha de comida para distribuição era alguém que compreende o conceito de sacrifício em prol do bem maior.
E nós, seres que sobrevivem segundo o lema farinha pouca meu pirão primeiro, o que somos? Seres que formam uma sociedade onde, ao contrário dos caribus, os mais fortes tiram não só a comida, mas tudo o que puderem dos mais fracos; onde os ricos morrem por excesso de comida e os pobres por insuficiência, o que somos?
“O que somos?”, é a questão que fica no ar. E se também estivesse no ar o piloto S. S. Estes, em seu avião da Real Força Aérea Canadense, com o que depararia ao nos observar? Em vez de um extraordinário espetáculo proporcionado pelo espírito fraterno dos caribus ele depararia com um deplorável espetáculo de falta de fraternidade entre os seres humanos. E creio que também lamentaria que essa espécie autodenominada a mais inteligente e a superior, em alguns aspectos, demonstre ser inferior a espécies por ela denominadas irracionais. Afinal, o que somos nós?

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