terça-feira, 19 de julho de 2011

Todos os dias precisam de nadismo

O texto Os domingos precisam de feriados, atribuído a Nilton Bonder, provocou a postagem Todos os dias precisam de nadismo. Espere, não é o que você está pensando! Não é jogar tudo para o alto e passar os dias inteiros de papo pro ar sem fazer nada. A proposta é aprender a criar, no nosso dia-a-dia corrido, alguns momentos dedicados especialmente a fazer nada. Este é o conceito de nadismo criado por Marcelo Bohrer após uma grave crise hipertensiva que o levou a questionar o estilo de vida que levava e a publicar um livro intitulado Nadismo – uma revolução sem fazer nada. Quando me aposentei, quatro jovens amigos (Flávia, Thiago, Vânia e Vinícius, em ordem alfabética) me ofereceram um exemplar como lembrança. Pena que eles mesmos ainda não tenham conseguido tempo para ler o livro de Marcelo Bohrer. Como a maioria dos que estão “na ativa” eles vivem afogados em um mar de “atividades” nas quais foram alocados (ou seria aloucados?) por superiores hierárquicos que não entendem que estar sempre ocupado não significa ser produtivo. O texto a seguir resultou de uma compilação que fiz do livro.
“Quantas vezes por ano você chega à conclusão de que está precisando de férias?
A verdade é que nós seres humanos não fomos feitos para funcionar sem parar. Esse é um conceito que se aplica perfeitamente bem às máquinas e aos robôs. Mas nós, gente de carne, ossos e sentimentos, quando submetidos à pressão de uma rotina estressante e sem fim, ficamos chateados, de mau humor, deprimidos e finalmente doentes. Como resultado a produtividade cai e os gastos com saúde sobem.
Também não resolve dar tudo de si o ano inteiro para tirar quinze dias de férias corridas e achar que vai compensar. É na correria do dia-a-dia que tem que se encontrar a forma de aliviar a tensão criando o equilíbrio com pequenos momentos de nadismo.
O que é o Nadismo?
É a proposta de valorização dos momentos para se fazer nada. Porque hoje em dia ter tempo livre é algo bastante raro, a intenção é que se escolha, às vezes, fazer nada de propósito permitindo-se desfrutar desse tempo sem culpa. Nesse sentido, o nadismo é um significativo agente de mudança cultural, pois cria a consciência da importância do tempo livre e descompromissado, do prazer de simplesmente desfrutar desses momentos de fazer nada sem pressa, sem cobrança e sem estresse. No entanto, o nadismo não é uma filosofia, ele é um conceito para ser praticado. Fazer nada numa boa, essa é a essência do nadismo.
Mas não se trata de uma pausa para descanso para depois voltar com todo gás no mesmo ritmo louco. O nadismo é o ideal de uma vida sem pressa e em harmonia com seu ritmo natural.
Quando o mundo parece estar uma loucura e a vida cada vez mais complicada é interessante alargar a vista um pouco além do nosso cotidiano agitado para perceber que ao longo da história já houve diferentes estilos de vida e esse que conhecemos agora é apenas uma das opções. Isso significa que nossos padrões culturais e costumes não são imutáveis, mas estão sempre em processo de evolução. Cada época apresenta seus desafios e por isso cabe a nós perceber o que está ruim, o que noz faz mal, para então buscar o melhor.
Houve um tempo onde fazer nada era tudo! Digo, era uma das “atividades” mais nobres. Aqueles que podiam gozar desse privilégio eram chamados homens de ouro. Isso foi na Grécia antiga onde, não por acaso, surgiram grandes filósofos. Curiosamente, parece que era nos momentos vazios, aqueles em que não se estava preocupado em fazer nada, que costumavam surgir as melhores ideias. Realmente fazer nada era algo muito precioso, reservado aos nobres, aos sábios! Mas, apesar de já ter sido considerada uma atividade refinada, perdeu-se completamente, e nos dias atuais é praticamente extinta. Precisamos reaprender a fazer nada.
Você pensa que se parar dez minutos o mundo vai acabar? Tudo vai dar errado? O negócio vai à falência? Você vai ser demitido? Pense no que representam dez ou quinze minutos num dia inteiro. Será que vai prejudicar a produtividade? Vai fazer diferença? Certamente que vai! Mas para melhor. Provavelmente você fique mais relaxado, mais tranqüilo e tenha boas ideias, encontre as soluções. Talvez não. Talvez simplesmente sinta-se melhor e isso já vai ser muito bom.
Então sugiro começar já a praticar nadismo no dia-a-dia! Aprenda a dedicar alguns momentos totalmente e especialmente para fazer absolutamente nada. Deve ser simples. Por exemplo, comece marcando na agenda: terça-feira às 15h30min, dez minutos de nadismo. Quando chegara a hora marcada, cumpra com o seu “compromisso”! Desconecte, desligue, tire do gancho, pare tudo e aproveite os seus 10 minutos de nadismo! É um momento para conectar-se consigo mesmo. Quinta-feira às 17h15min, quinze minutos de nadismo. E assim por diante. Também é possível decidir praticar nadismo sem pré-agendamento, simplesmente na hora que der vontade ou, especialmente, naquelas horas em que sentir que já está chegando ao limite. Insira esse hábito no seu dia-a-dia.
Muitos pensadores, filósofos e estudiosos já defenderam o fazer nada. Portanto, seria um despropósito investir mais tempo e energia discutindo e argumentando. Basta saber que a proposta do nadismo é essencialmente pragmática, ou seja, chega de papo e vamos direto ao que importa: a prática!”
Portanto, fiquemos por aqui. Afinal, eu tenho mais o que não fazer!

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