segunda-feira, 6 de junho de 2011

Redes sociais (final)

"Nossas invenções costumam tornar-se bonitos brinquedos que distraem nossa atenção das coisas sérias. Elas são tão somente meios aperfeiçoados para um fim não aperfeiçoado, um fim que já era fácil demais atingir, como estradas de ferro que levam de Boston a Nova York. Nós estamos com enorme pressa em construir um telégrafo magnético do Maine para o Texas; mas pode ser que o Maine e o Texas nada tenham de importante a comunicar. É como se o objetivo principal fosse falar depressa e não falar sensatamente." (os grifos são meus)
As palavras acima são de Henry David Thoreau, em 1854. Ditas há 157 anos, elas descrevem perfeitamente coisas que ocorrem nos dias de hoje. Por isso, lembrei delas quando resolvi escrever sobre algo bastante atual: o sucesso das redes sociais. Mais uma possibilidade de comunicação foi criada, mas pode ser que as pessoas não tenham nada de importante a comunicar. Da maneira como são usadas, e abusadas, as redes sociais são mais um caso de invenção que distrai nossa atenção das coisas sérias.

As palavras de Thoreau também possibilitam perceber algo interessante: a distância entre as evoluções tecnológica e comportamental. Enquanto a primeira voa a segunda se arrasta. Enquanto o avanço tecnológico não pára de criar meios de comunicação, o comportamento nas interações humanas pouco muda ao longo do tempo. Para defender esta afirmação mais uma vez recorro a uma passagem do livro O homem à procura de si mesmo de Rollo May, publicado em 1953. (os grifos são meus)
“Tracemos um quadro impressionista, um tanto exagerado, mas ainda assim frequente, do temor à solidão manifesto nas atividades sociais de um local de veraneio. Consideremos uma colônia típica, de classe média abastada, onde as pessoas em férias não dispõem do trabalho como fuga ou apoio. É de importância crucial, portanto, manter a contínua roda de coquetéis, embora encontrem diariamente as mesmas pessoas, tomem as mesmas bebidas e conversem sobre os mesmos assuntos ou a falta deles. Importante não é o que se diz, e sim que haja sempre alguém falando. O silêncio é um grande crime, pois significa solidão e medo. Não se deve aprofundar as sensações, nem levar muito a sério o que se diz. Aparentemente as palavras produzem mais efeito se a pessoa não tenta compreendê-las.”
O homem à procura de si mesmo foi publicado há 58 anos, porém o que grifei no parágrafo acima, e destaco a seguir, ainda acontece na maioria das interações pelas redes sociais.
“Quando estão em contato conversam sobre os mesmos assuntos ou a falta deles.
Importante não é o que se diz, e sim que haja sempre alguém falando.
O silêncio é um grande crime, pois significa solidão e medo.
Não se deve aprofundar as sensações, nem levar muito a sério o que se diz.
Aparentemente as palavras produzem mais efeito se a pessoa não tenta compreendê-las.”
Associar o sucesso das redes sociais à solidão é algo bastante frequente, portanto considero conveniente falar sobre ela nesta postagem. Solidão é mais um dos assuntos sobre os quais muito se fala e pouco se entende. De tudo o que li e ouvi considero o melhor conceito de solidão algo que encontrei em um livro intitulado Palavras para entorpecer o coração de Fátima Irene Pinto.
Solidão
“Solidão não é a falta de gente para conversar, namorar, passear ou fazer sexo...
isto é carência.
Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que não podem mais voltar...
isto é saudade.
Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe às vezes, para realinhar os pensamentos...
isto é equilíbrio.
Tampouco é o claustro involuntário que o destino nos impõe compulsoriamente, para que revejamos a nossa vida...
isto é um princípio da natureza.
Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado...
isto é circunstância.
Solidão é muito mais que isto...
Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão, pela nossa Alma!”
Será que interações superficiais praticadas nas atuais redes sociais possibilitarão encontrar algo tão profundo? Creio que não, pois concordo com a opinião de Thoreau expressa na primeira frase desta postagem.
"Nossas invenções costumam tornar-se bonitos brinquedos que distraem nossa atenção das coisas sérias.”
Da maneira como são usadas, as redes sociais tornaram-se mais um brinquedo que distrai nossa atenção das coisas sérias e procurar pela alma é uma das coisas sérias.

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