sexta-feira, 17 de junho de 2011

A meta é a felicidade (final)

Continuação de anteontem
A esta altura, eu tive a certeza que estava lidando com um doido varrido. Ele parou um instante para recuperar o fôlego, e depois continuou: ‘Aquele garoto feliz vai crescer e se transformar num homem bem ajustado, exatamente como seus pais. Resumindo, ele vai se tornar um parasita, uma ameaça não produtiva ao estilo de vida norte-americano.’
‘O garoto infeliz, por outro lado’, continuou ele, ‘vai acabar se tornando um adulto tão infeliz quanto seus próprios pais. Ele certamente irá necessitar dos préstimos de psicólogos e psiquiatras, de advogados para tratar de divórcios e processos judiciais, de médicos para problemas cardíacos e de pressão sangüínea, de apresentadores de programas de rádio aos quais possa telefonar, e de especialistas em contabilidade para contarem todo dinheiro que irá ganhar.’
‘Mas esta é uma visão muito deprimente’, disse eu.
‘Não! É uma visão maravilhosa!’, gargalhou o homem idoso, não disfarçando sua alegria. ‘O senhor conhece os médicos, os advogados e os psicólogos aqui em Beverly Hills, e também logo ao lado, em Century City. O senhor sabe como é cara a manutenção deles. O aluguel dessas lindas salas é muito alto, e os belos móveis custam uma fortuna. E quando se acrescentam os custos das contas correntes, dos automóveis sofisticados e das férias, chega-se à conclusão de que é necessária uma soma de dinheiro considerável para sustentar todos esses médicos, advogados, psicólogos e não sei mais o quê.
‘Mas o que é que tudo isto tem a ver com as atividades esportivas da garotada?’, exclamei, sentindo-me muito frustrado.
‘Os esportes infantis são uma parte de importância vital no processo, um elo vital nessa corrente. Se nossos garotos não aprenderem que a vitória é aquilo que mais interessa; se esses meninos não aprenderem que não existe espaço real para atividades verdadeiramente esportivas e para o divertimento: se esses meninos não aprenderem que não importa em quem se pisa desde que se consiga chegar ao topo; se esses meninos não aprenderem essas lições, eles simplesmente não se transformarão em adultos tão infelizes e pouco saudáveis quanto seus pais. E se eles não se sentirem miseráveis e doentes, não gastarão fortunas com médicos, psicólogos, advogados, bebidas alcoólicas, drogas e comprimidos. Eles não desperdiçarão pequenas fortunas comprando coisas das quais não necessitam, numa tentativa fútil e baldada de adquirir a felicidade. Eles não gastarão bilhões em comida supérflua. Não comprarão carros sofisticados com a finalidade de impressionar os outros. Não gastarão quantidades vergonhosas de dinheiro nos lugares da moda apenas pela oportunidade de serem vistos. Ora, se todos crescessem felizes, nossa economia inegavelmente entraria em colapso! Nossa sociedade seria destruída!’
Fui forçado a admitir que existe uma certa lógica no que ele estava me dizendo.
‘E que maneira melhor para se garantir a infelicidade das crianças do que tomar uma atividade simples e agradável, como a de chutar a bola de um lado para o outro do gramado, e arruiná-la permitindo que os pais gritem com eles das arquibancadas? É um golpe de mestre! Realmente, é um golpe de mestre! Isto serve para impor uma dose tremenda de pressão sobre os pobres garotos’, exclamou ele, aparentemente deliciado.
‘Que lugar poderia ser melhor para começar a fazer com que eles se sintam pessimamente mal’, disse eu, ‘e, ao mesmo tempo, começar a dar um novo impulso à economia, do que um campo de atividades esportivas?’
‘Exatamente! Exatamente!’ O velho estava praticamente dançando de alegria.
‘Em outras palavras, o senhor está dizendo que o esporte infantil praticamente é uma prioridade nacional?’, perguntei.
‘É isto mesmo. Sem estas pequenas ligas esportivas, nosso grande país acabaria perecendo. Passe bem, dr. Fox.’
E, com estas palavras, ele colocou o chapéu na cabeça e afastou-se lentamente. Existia certa lógica em tudo o que ele tinha me dito. Eu estava quase me juntando aos pais que continuavam gritando ‘VENCER! VENCER! VENCER!’, mas preferi não fazê-lo.
Veja, a verdadeira meta da vida sempre é a felicidade. A meta sempre é a felicidade.
No final da postagem o ex-comunista, afirmei que ela possui uma ideia que me fez lembrar desta (A meta é a felicidade). Agora, destaco os trechos desta que me fazem associá-la àquela.
“Fui forçado a admitir que existe uma certa lógica no que ele estava me dizendo.
Existia certa lógica em tudo o que ele tinha me dito. Eu estava quase me juntando aos pais que continuavam gritando ‘VENCER! VENCER! VENCER!’, mas preferi não fazê-lo.”
Zeca Baleiro reconhece que, raciocinando tecnicamente, o mundo precisa dos pobres. Dr. Fox foi forçado a admitir que (raciocinando a partir do que lhe disse aquele homem idoso) existe certa lógica na manutenção de uma sociedade constituída por pessoas infelizes. Dá para concluir que, raciocinando tecnicamente, os males desta sociedade precisam ser preservados? No meu entender sim. O que vocês acham?

Dr. Fox quase se juntou aos que, ao desejar ‘VENCER’, independentemente dos meios usados, agem em prol da infelicidade, mas preferiu não fazê-lo. Preferiu continuar acreditando que a verdadeira meta da vida sempre é a felicidade.

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