Dia Internacional da Mulher - 2011

O final da postagem anterior sugeria que o assunto desta seria Sede de Sentido, porém tal não aconteceu, mas a mudança foi por uma causa justa.

Para quem não sabe – e também para quem sabe -, 8 de março é a data em que é comemorado o Dia Internacional da Mulher. Mas o que são datas comemorativas? Uma consulta à Wikipédia traz a seguinte resposta (os grifos são meus):

“Datas comemorativas são datas escolhidas para relembrar eventos históricos, conquistas importantes ou lutas que ainda estão sendo travadas por um grupo. Muitas delas possuem alcance internacional enquanto outras podem ser específicas para um país ou região. Dependendo da relevância da data para o país, o governo pode declarar feriado ou ponto facultativo.”

Na minha opinião, muitas datas comemorativas não têm sua existência justificada por nenhum dos três motivos citados no parágrafo anterior. Porém, vejo o Dia Internacional da Mulher perfeitamente legitimado pelos três e explico por quê.

Um evento histórico

Em 8 de março de 1857, cerca de 130 operárias têxteis de uma fábrica de Nova York morreram queimadas, por reivindicarem a redução de um horário de mais de 16 horas por dia para 10 horas.

Conquistas importantes

No ano de 1910, em uma conferência internacional de mulheres realizada na Dinamarca, o dia 8 de março foi instituído como o Dia Internacional da Mulher, em homenagem às mártires de 1857.

Em 1975, em Assembléia Geral, a Organização das Nações Unidas reconheceu oficialmente a data.

Reparem que entre a instituição e o reconhecimento decorreram 65 anos. É grande a quantidade de conquistas feitas pelas mulheres, mas ainda existe enorme preconceito e discriminação em relação a elas. Seguem alguns trechos da coluna de Ruth de Aquino, na edição da semana passada, da revista Época, com o sugestivo título: O mundo é masculino e assim deve permanecer.

A lei Maria da Penha é um conjunto de regras diabólicas. Se essa lei vingar, a família estará em perigo. Ora, a desgraça humana começou no Éden: por causa da mulher. As armadilhas dessa lei absurda tornam o homem tolo, mole. O mundo é masculino e assim deve permanecer. No caso de impasse entre um casal, a posição do homem deve prevalecer até decisão da Justiça, já que o inverso não será do agrado da esposa.

Releia o parágrafo acima, mas agora entre aspas. O autor dessas palavras é o juiz mineiro Edílson Rumbelsperger Rodrigues. Ele disse exatamente tudo isso em sentença, em 2007, ao julgar homens acusados de agredir e ameaçar suas mulheres.

(...) Segundo Rodrigues, alguns colegas concordam com ele, mas não têm coragem de dizer isso publicamente.

Se quem julga pensa assim, o que esperar dos julgados. É preciso muita luta para acabar com privilégios. Portanto, preparem-se para continuar lutando por muito tempo. Que a força esteja com vocês!

Lutas que ainda estão sendo travadas por um grupo

Com a finalidade de não alongar o texto, cito apenas as que, na minha opinião, são mais importantes:

- Igualdade de direitos e de oportunidades em relação aos homens;

- Reconhecimento de capacidade para desempenhar funções para as quais os homens defendem o privilégio de realização;

- Respeito como seres diferentes, porém não inferiores aos homens.

Dentre as inúmeras citações interessantes de Antoine de Saint-Exupéry, destaco aqui a seguinte:

“Todas as pessoas grandes foram um dia crianças. Pena que sejam poucas as que se lembram disso”.

E faço uma paráfrase:

Todos os homens grandes foram um dia hóspedes do ventre de uma mulher. Pena que sejam poucos os que se lembram disso.

Os que se lembram, jamais considerarão as mulheres como seres inferiores. Tem sentido um ser inferior acolher em seu ventre um ser superior? Aliás, em que consiste a propalada superioridade? Em que são superiores?

Considerando que este texto será lido por mulheres e homens, julgo serem convenientes as seguintes recomendações:

- A elas que o vejam como um reconhecimento de seu valor e uma merecida homenagem pelo dia de hoje;

- A eles que o vejam como inspiração para fazer um exame de consciência sobre a maneira como trataram as mulheres nos dias do ontem;

- A ambos que o usem para uma reflexão que ajude a melhorar os relacionamentos nos dias do amanhã.

A última recomendação me fez lembrar da seguinte opinião de D.H. Lawrence:

“O futuro da humanidade não será decidido pelas relações entre nações, mas pelas relações entre homens e mulheres.”

Redigi um texto para homenagear as mulheres e aproveitei para tentar sensibilizar os homens a enxergá-las como seres em nada inferiores a eles. Seres tão capazes quanto eles para assumir a tarefa de melhorar o mundo no qual convivem. Tem sentido a minha tentativa? Espero que sim, pois um dos nossos problemas continua sendo a sede de sentido.

P.S.

A mulher que faz a revisão dos meus textos – minha filha Renata - foi, merecidamente, comemorar o seu dia em Buenos Aires. A Monique também se ofereceu para revisar os textos, porém decidi não recorrer a ela para não estragar a surpresa. Afinal, ela faz parte das homenageadas. Combinei com a Renata que após o seu retorno o texto será revisado e republicado. Sendo assim, optei por publicá-lo – no dia – mesmo sem revisá-lo.

Eu sei (que vocês merecem um texto sem erros), mas não devia (deixar esta data passar em branco). Portanto, relevem os erros e considerem apenas a intenção da homenagem.