"De todos os sentidos, o mais importante para a aprendizagem do amor, da vida em conjunto e da cidadania é a audição. (...) É do silêncio que nasce o ouvir. Só posso ouvir a palavra se meus ruídos interiores forem silenciados. Só posso ouvir a verdade do outro se eu parar de tagarelar. Quem fala muito não ouve. (...) Não nos sentimos em casa no silêncio. Quando a conversa pára por não haver o que dizer, tratamos logo de falar qualquer coisa, para pôr um fim ao silêncio."
O parágrafo acima é
composto de trechos do magnífico texto de Rubem Alves (Ouvir para aprender). O
parágrafo abaixo é uma passagem do livro O homem
à procura de si mesmo de Rollo May, publicado em 1953.
"Importante não é o que se diz, e sim que haja sempre alguém falando. O silêncio é um grande crime, pois significa solidão e medo. Não se deve aprofundar as sensações, nem levar muito a sério o que se diz. Aparentemente as palavras produzem mais efeito se a pessoa não tenta compreendê-las."
Ou seja, nunca soubemos lidar com o silêncio, sempre procuramos
quebrá-lo com a nossa tagarelice e, consequentemente, não sabemos ouvir, pois,
como diz Rubem Alves, é do silêncio que
nasce o ouvir. E sendo a audição o mais importante dos sentidos
para a aprendizagem do amor, da vida em conjunto e da cidadania, creio que
esteja perfeitamente explicado o porquê da violência que se alastra por este
planeta "dominado" por uma espécie que se julga a única inteligente
do Universo (sic).
Sim, o importante não é o que se diz, e sim que haja sempre alguém
falando. O importante não é o que se diz, e muito menos se alguém está
ouvindo, pois a única coisa que importa é falar. Não se deve aprofundar as
sensações, nem levar muito a sério o que se diz, são duas das
características mais marcantes desta sociedade superficial e descartável na
qual sobrevivemos. É de um livro intitulado Tópicos Especiais em Física das
Calamidades o parágrafo abaixo.
"Às vezes as pessoas dizem coisas só para encher o silêncio. Ou para chocar e provocar. Ou como exercício. Aeróbica verbal. Musculação loquaz. Há inúmeras razões. Só muito raramente as palavras são usadas estritamente por seus significados denotativos."
Todo mundo quer falar. Ninguém quer ouvir.
Todo mundo quer ser escutado. Como não há quem os escute, os adultos procuram
um psicanalista, profissional pago do escutar. É preciso escutar as crianças
para que a sua inteligência desabroche, diz Rubem Alves. E, no meu entender,
é preciso escutar também os adultos para que a sua inteligência não atrofie.
Impressiona-nos quem fala bonito, porém amamos
não a pessoa que fala bonito, mas a pessoa que escuta bonito. Mas é tão
pequena a quantidade de pessoas que escutam bonito! Ouvem-se muitos comentários
do tipo "Fulano fala muito bem", mas poucos do tipo "Sicrano
ouve muito bem". Portanto, que tal desenvolvermos o hábito de escutar
bonito? O que é isso? É "ouvir vazio". É ouvir sem interromper quem
estiver falando. Sem falar ao mesmo tempo. Sem achar que já sabe o que ainda
vai ser dito ou que já entendeu o que ainda não foi dito. É ouvir com atenção.
Ouvir vazio requer inclusive ouvir com os olhos, pois é ouvindo também com os
olhos que se percebe o verdadeiro sentido das palavras.
Aprendi o conceito de ouvir vazio em um
seminário da UNIPAZ; em uma vivência que consistia em uma pessoa ouvir o que outra
fala e ao final lhe dizer o que tinha escutado. Quanto maior fosse a
semelhança entre o que a pessoa falou e o que a outra disse ter escutado maior
seria a capacidade de ouvir vazio. Consegui me sair bem na vivência, passei a
praticar o ouvir vazio, e o recomendo a vocês.
2 comentários:
Quando deparamos com a solidão à dois (à três, a dez..), a angústia se faz mais alarmante.
E como ouvir, se não conseguimos sequer relacionar?...
De fato quem tem o dom de escutar, tem mais capacidade e sensibilidade para compreender o caos patológico humano consubstanciado no superficialismo...
Um grande abraço.
Oi Nathy,
Parabéns por este comentário e também pelo que fez sobre a postagem “A necessidade de conversar”. Eles demonstram o reconhecimento da necessidade que os seres humanos têm de conversar e da imprescindibilidade de saber ouvir para poder conversar.
Um abraço,
Guedes
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