quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

A lição do bambu chinês

Este blog, que já publicou algumas postagens inspiradas por estórias envolvendo elementos do reino animal, apresenta agora uma inspirada por uma estória envolvendo um elemento do reino vegetal. Apesar de já terem sido divulgados vários textos fundamentados nas peculiaridades do bambu chinês, dois motivos levam-me a publicar o meu: Creio que nem todos conhecem tal estória e que ela reforce a ideia passada na postagem anterior (Não ficar na dependência de resultados).
Uma característica muito curiosa do bambu chinês torna o seu cultivo impróprio para impacientes. Feita a semeadura, cuida-se e rega-se regularmente, porém durante os primeiros meses nada que seja perceptível acontece. Aliás, por aproximadamente cinco anos, a única coisa que se vê é o lento desabrochar de um diminuto broto a parir do bulbo, o que levaria um cultivador inexperiente a se convencer de ter comprado sementes ruins.
Durante cinco anos, todo o crescimento é subterrâneo, portanto, invisível a olho nu. Mas o que não se vê é que durante esse período, de aparente inatividade, uma maciça e fibrosa estrutura de raízes, que se estende vertical e horizontalmente pela terra, está sendo cuidadosamente construída para sustentar o crescimento do bambu.
Então, lá pelo final do quinto ano, em apenas seis semanas, o bambu chinês cresce até atingir a surpreendente altura de vinte e cinco metros. Demorou apenas seis semanas para crescer? Não, na verdade ele levou cinco anos e seis semanas para que tal acontecesse. Os cinco anos, de aparente inatividade, constituem o período em que o bambu criou as condições necessárias ao seu surpreendente e sustentável crescimento. E depois disso, nem mesmo a mais forte das tempestades conseguirá arrancá-lo do solo.
Dito isto, passemos à analogia entre a lição do bambu chinês e a ideia de Não ficar na dependência de resultados espalhada na postagem anterior. Qual é o procedimento do cultivador de bambu chinês? Ele semeia e após a semeadura mantém a rega e os cuidados com o solo, mesmo sem ver o resultado de suas ações, pois acredita que se prosseguir com elas, após o devido tempo elas produzirão o resultado desejado. Ou seja, ele independe de resultados imediatos para crer que age corretamente.
Bem diferente do que nos acostumamos a presenciar neste mundo cada vez mais assolado pela ansiedade, não é mesmo? Um mundo no qual a maioria vive buscando resultados de curtíssimo prazo, sem compreender que o imediatismo impede o desenvolvimento de raízes capazes de servir de base a resultados sustentáveis. Aliás, a impressão que tenho é que a maioria imagina que seja possível qualquer coisa sustentar-se sem a existência de raízes. Realmente, não dá para esquecer Albert Einstein: “Existem apenas duas coisas infinitas – o Universo e a estupidez humana. E não tenho tanta certeza quanto ao Universo”.
Creio que o mundo seria muito melhor se cada um agisse como um cultivador de bambu chinês. Se cada um fosse capaz de perceber que o cultivo de boas ações é semelhante ao do bambu chinês. E de entender que aquele tempo durante o qual não enxergamos o resultado das ações nas quais dizemos acreditar, mas das quais facilmente desistimos se os resultados não forem imediatos, deve ser “visto” como o período em que está sendo desenvolvida a estrutura de raízes que sustentará o crescimento das práticas capazes de mudar este mundo para melhor.
Considero as duas últimas postagens extremamente interessantes para a numerosa e crescente legião de concursandos que imagina ser possível obter êxito apenas fazendo um curso preparatório intensivo nas vésperas dos concursos. Não, não é assim que eles conseguirão atingir a altura de um bambu chinês. Altura sem a qual torna-se quase impossível superar a barreira que os impede de alcançar a tão almejada vaga.
Como último argumento para tentar convencê-los a aderir à prática de persistir nas ações, embora elas não dêem resultados com a rapidez desejada, digo o seguinte. É assim que agem os que atuam contra nós. Eles jamais desistem! E diante da quantidade de vezes em que obtêm êxito, creio que seja difícil duvidar que tal prática funcione. Portanto, que tal abandonar o comodismo e usá-la em nosso favor. Plantemos a nossa semente, reguemos e cuidemos regularmente sem esmorecer, ou seja, façamos a nossa parte e aguardemos, pois no devido tempo o resultado surgirá.
Então, que tal cogitar na possibilidade de tornar-se um cultivador de bambu chinês? E de deixar de ficar dependente de resultados? Esta é mais uma sugestão de prática que considero capaz de fazer com que este novo ano torne-se, realmente, um ano novo. Novo no sentido de nos fazer compreender que sem fazer a nossa parte jamais algum ano nos trará aquilo que desejamos.

Nenhum comentário: