Depois de pensar sobre o que li em “Pensar dói?”, e não ter sentido nenhuma dor, resolvi publicar esta postagem com alguns pensamentos provocados pelo artigo de Thomaz Wood Jr. Não, pensar não dói; o que dói é constatar que a maioria desses seres autodenominados racionais considera que pensar não faz parte de suas atribuições. Em um livro intitulado O Poder da Simplicidade, de Jack Trout e Steve Rivkin, encontrei a seguinte passagem:
“Pensar não é uma tarefa árdua, porém, muitas pessoas temem a atividade em si. São dóceis e obedientes, capazes de seguir facilmente sugestões feitas por terceiros, por lhes economizar o trabalho de pensar por si mesmas. Tornam-se dependentes de outros quanto a trabalho intelectual e voam para um protetor quando se encontram em dificuldades.O problema é que, em vez de pensarmos em coisas por nós mesmos, dependemos do pensamento de terceiros. (É por isso que se espera que o negócio de consultoria empresarial mundial tenha um crescimento de cerca de 114 bilhões de dólares até o ano 2000.)”
A menção ao negócio de consultoria empresarial “obriga-me” a opinar sobre consultorias. Afinal, trata-se de um caso de consideração que pensar não faz parte de suas atribuições. Em uma reportagem intitulada “Quem precisa de consultor?”, publicada na edição de 2 de dezembro de 1998 da revista Exame, Cláudia Vassalo faz a seguinte afirmação: “Uma empresa cujos executivos abdicam de suas responsabilidades não precisa de consultores. Precisa de novos executivos.” Dá para discordar de tal afirmação? Em minha opinião, executivos que abdicam de suas responsabilidades devem passar de executivos a executados.
Há algumas décadas, li na extinta revista Manchete uma reportagem “profética” que dizia que no futuro as pessoas estariam liberadas da necessidade de pensar, pois já “receberiam tudo pensado”. O futuro chegou, a revista acabou, mas, infelizmente, as pessoas acreditaram na “profecia” e hoje, como diz Neal Glaber, “vivem a colher informações e distribuí-las, sem vontade ou tempo para analisá-las. Tornam-se máquinas de captação e reprodução.”. E Glaber diz mais:
“Antes, nós coletávamos informações para construir conhecimento. Procurávamos compreender o mundo. Hoje, (...) colocamos a informação acima do conhecimento. Temos acesso a tantas informações que não temos tempo para processá-las.Assim, somos induzidos a fazer delas um uso meramente instrumental: nós as usamos para nos manter à tona, para preencher nossas reuniões profissionais e nossas relações pessoais. Estamos substituindo as antigas conversas, com seu encadeamento de ideias e sua construção de sentidos, por simples trocas de informações. Saber, ou possuir informação, tornou-se mais importante do que conhecer; mais importante porque tem mais valor, porque nos mantêm à tona, conectados em nossas infinitas redes de pseudorrelações.”
Sem vontade ou tempo para analisar e processar a “enxurrada” de informações que nos arrasta, a uma velocidade crescente, para um futuro no qual teremos todas as informações existentes no mundo ao nosso dispor, mas não haverá mais ninguém para pensar a respeito delas. E consequentemente não poderão ser usadas para construir um mundo onde esses seres autodenominados humanos possam, finalmente, viver de forma pacífica e harmoniosa. Então, nessa época – quando Inês já estiver morta – talvez as coisas passem a ser olhadas de outro ponto de vista, e em vez de achar que pensar dói, as pessoas passem a entender que doer é, justamente, uma consequência de não haver pensado.
Para terminar, faço um apelo aos que concordarem com os pensamentos apresentados acima. Ajudem a espalhar a ideia que pensar não dói. Há uma afirmação atribuída ao imperador Marco Aurélio que diz: “O que não convém ao enxame não convém tampouco à abelha”. Sábias palavras que devem ser aplicadas à época em que vivemos, pois creio que a existência de pessoas que acreditem que pensar dói, é algo que não convém ao enxame. Portanto, insisto no apelo: Ajudem a espalhar a ideia que pensar não provoca dores, pois o efeito do ato de pensar é, exatamente, o oposto. Mostrem que entre os inúmeros benefícios proporcionados pelo ato de pensar inclui-se, justamente, a capacidade de livrar-nos de dores causadas pela adesão equivocada a ideias que beneficiem apenas aos poucos que as propõem e que prejudiquem a enorme maioria que as aceitam. Fui convincente na defesa da ideia que pensar não dói? Espero que sim.
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