Na postagem anterior foi afirmado que “Não nascemos humanos, tornamo-nos humanos” e nesta são apresentadas três passagens extraídas de diferentes livros, mas que apresentam afinidade com tal afirmação.
A primeira é do livro Amor de Leo Buscaglia.
“Na virada do século, uma criança foi encontrada nas florestas próximas a um pequeno vilarejo na França. Havia sido abandonada por seus pais para morrer. Por algum milagre, não morreu na floresta. Sobreviveu. Não como uma criança, apesar de ser, fisicamente, um ser humano, mas como um animal. Caminhava com os quatro membros, vivia num buraco no chão, não tinha nenhuma linguagem, não conhecia nenhum relacionamento, não se preocupava com ninguém nem com nada, a não ser com a sobrevivência.Casos como esse, como por exemplo o de Kumala, a garota índia, foram acompanhados desde o início. Têm em comum o fato de que se o homem cresce como um animal, agirá como um animal, pois o homem “aprende” a ser humano. E assim como um homem aprende a ser humano, também aprende a sentir como um ser humano, a amar como um ser humano.O modo como o homem aprenderá a amar parece estar diretamente relacionado com a sua capacidade de aprender, com aqueles no seu ambiente que o ensinarão, assim como com o tipo, a extensão e a sofisticação de sua cultura.”
A segunda é do livro “Pedagogia Iniciática – Uma escola de liderança”, de Roberto Crema, um autêntico ser humano com quem tive o privilégio de conviver durante seminários da UNIPAZ.
“Gosto muito desta provocação, que sempre evoco, do cientista e humanista Abraham Maslow, um dos pais da psicologia humanística: “Num certo sentido, apenas os santos são a humanidade”. Ou seja, os demais não lograram o desabrochar deste embrião de plenitude encarnado em nós. Se você quiser saber quem são os verdadeiros seres humanos, recomendo que estude as existências de seres humanos plenos, popularmente conhecidos como santos. É preciso estudar seres humanos que deram certo.O que é um ser humano? Você conhece algum ser humano pleno, inteiro, verdadeiro? Receio dizer que o ser humano pleno, nesse momento, é uma grande utopia. Utopia não no sentido do irrealizável, mas no sentido do irrealizado, do ainda não realizado, daquilo para o qual ainda não há espaço.O ser humano pleno é uma promessa. Os antigos afirmavam que o ser humano ainda não nasceu; estamos sendo uma possibilidade, um potencial de florescimento. Se nós investirmos, com persistência e disciplina, na dimensão do corpo, da alma e do coração, em algum momento justo do caminho poderemos nos tornar seres humanos plenos.Enquanto um gato naturalmente se torna um gato, um ser humano apenas realiza a sua semente se empreender uma longa jornada rumo à sua autorrealização possível.”
A terceira é do livro “Inteligência Prática – Arte e Ciência do Bom Senso”, de Karl Albrecht.
“Talvez possamos começar a pensar em nós mesmos não como ‘seres humanos’, mas como ‘transformáveis humanos’.”
Ao ser perguntado por que desenhava bichos em vez de gente, Chuck Jones (cartunista autor do Pernalonga e de outros clássicos do desenho animado americano), respondeu assim: “É mais fácil humanizar animais do que humanizar humanos”. Concordo que humanizar humanos seja uma tarefa bastante difícil, mas não impossível. Impossível será evitar a extinção da vida humana em um planeta habitado por uma enorme quantidade de seres desumanos.
De tanto refletir sobre coisas como as que foram ditas acima, creio que eu tenha encontrado um novo significado para humanidade. Humanidade é o conjunto formado pelas pessoas que conseguem atingir a “humana idade”. Que idade é essa? É aquela na qual, conforme diz Bertolt Brecht em Aos que virão depois de nós, o homem passa a ser amigo do homem. É a idade na qual o homem consegue, finalmente, tornar-se humano. Mas tal idade não é atingida pelo simples transcorrer do tempo e sim pela evolução espiritual alcançada ao longo da vida. Ou seria das vidas?
2 comentários:
Sabe.vou dar minha humilde opinião.eu li num livro"a etiologia da doença mental e emocional"que todos nós seres humanos nascemos egoístas.fato comprovada pela ciência.Não nascemos amando.mas com a capacidade de aprender a amar.mas como nossos"professores de amor"também não aprederam a amar plenamente.também não sabemos amar.no livro também diz que:" 95% da população sofre da doença mental e emocional.é por ser a norma.São consideradas "normais"pois fazem parte da grande massa.é fazer parte dos 5% restante pode até dar uma sensação de isolamento.as pessoas que se situam nessa faixa talvez devessem se proteger.unindo-se e formando o que poderiam chamar de NORMAIS ANÔNIMOS,a fim de que as outras ficassem sabendo da sua existência"resumindo.so o amor é capaz de transformar o mundo!
Prezada Áurea,
Se entendêssemos o que disse Teilhard de Chardin - "Não somos seres humanos vivendo uma experiência espiritual; somos seres espirituais vivendo uma experiência humana." – entenderíamos também que isso que denominamos vida é, em última análise, uma jornada evolutiva. Uma jornada evolutiva ao longo da qual devemos aprender a nos livrar de coisas como o egoísmo, citado por você, e a adquirirmos coisas como a capacidade de amar, também citada por você.
Capacidade cuja aquisição é bastante difícil, pois, como você diz, "aqueles com quem esperávamos aprende-la também não a possuem". E é por isso que, sempre que surge uma oportunidade, eu espalho a seguinte afirmação do historiador inglês Edward Gibbon (1737 – 1794): "O homem recebe duas classes de educação. Uma que lhe dão os demais; outra a mais importante, que ele dá a si mesmo.". Ou seja, em se tratando da questão de nos tornarmos pessoas melhores, o que nós próprios fizermos será sempre mais importante do que o que alguém fizer por nós.
A divisão da população entre os 95% e os 5% citada por você, a partir do que leu no livro Etiologia da doença e da saúde mental e emocional, me faz citar aqui o Fenômeno do Centésimo Macaco, que não por acaso, é espalhado pela segunda postagem deste blog. Um fenômeno que mostra que, "quando um número suficiente de pessoas se torna consciente de algo, essa consciência se estende a todos."
Por que resolvi citar aqui tal fenômeno? Porque, ao ver a divisão citada por você, lembrei de uma feita por Amit Goswani em uma palestra em que, referindo-se ao fenômeno do centésimo macaco, ele disse que, quando 10% da população atingir um determinado estágio de consciência, essa consciência se estenderá para os 90% restantes.
Consciência essa na qual, indubitavelmente, estará contido o que você cita na última frase de seu comentário: o amor. Afinal, como diz aquela belíssima canção do saudoso John Lennon: Tudo que você precisa é de amor (All you need is love). Sim, como você diz na última frase de seu comentário, "só o amor é capaz de transformar o mundo", para melhor.
Abraços,
Guedes
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