sexta-feira, 27 de maio de 2011

Reflexões sobre "Atropelando o humanismo"

Daniel Piza inicia seu artigo intitulado Atropelando o humanismo com as seguintes palavras
“Nunca antes tivemos tanta liberdade, informação e consumo, em termos gerais. Mas o que temos feito disso?”
Creio que seja este o nosso grande problema: o que fazemos com o que dispomos. É o uso inadequado que leva ao absurdo de transformar em problema algo que deveria ser solução. Liberdade, informação e consumo deveriam solucionar problemas da humanidade, porém, usados indevidamente, contribuem para potencializá-los.

Em vez de usar a liberdade para realizar algo que beneficie a coletividade, cada um a usa para “fazer o que quiser” sem dar a mínima importância aos danos causados a quem quer que seja. Desconsideramos a existência do outro e, em um mundo a cada dia mais povoado, comportamo-nos como se estivéssemos sozinhos. Quanta estupidez!

Concordo com o que diz Daniel Piza sobre informação, mas nada acrescentarei sobre o assunto, pois foi ele o foco de três das quatro últimas postagens.

Sobre consumo Daniel Piza diz o seguinte:
“O consumo se torna patologia, em que sempre se olha para o que não se tem, ou seja, para o que o outro tem, mesmo que não haja a menor necessidade de ter aquilo.”
E o sociólogo e filósofo Jean Baudrillard diz:
“Numa cultura baseada no consumo, e não na produção, o significado do objeto não provém do seu uso, mas da sua aquisição. A necessidade não é mais resultado de escassez real, mas uma simulação, uma falsificação fraudulenta gerada para se perpetuar por intermédio da aquisição ininterrupta de objetos para satisfazer a necessidades inautênticas e, por conseguinte, jamais satisfeitas. Quem define a cultura não é o povo, mas simulacros – imagens irreais – e o comércio torna-se meio de controle social; não existe mais ‘sociedade’, somente ‘massa’.”
As necessidades inautênticas e, por conseguinte, jamais satisfeitas atiçam o desejo de ter não só tudo o que não se tem, mas também o modelo mais recente do que já se tem.

Sim, a valorização da aparência torna difícil encontrar o que é verdadeiro e fácil encontrar o que “aparenta” ser. E com tanta valorização do dinheiro fica difícil encontrar amizade e amor, pois dinheiro serve para comprar coisas, mas jamais servirá para comprar sentimentos verdadeiros.

Sim, a arte da conversa e o gosto pela leitura, sem os quais é difícil vencer a imaturidade, estão deteriorados. São muitos os que confundem conversar com falar e falam pelos cotovelos, mas dificilmente conversam, pois conversar é uma arte que requer algo que Daniel Piza diz que está em declínio: a capacidade de concentração. Concentrar-se no que a outra pessoa fala é indispensável para haver conversa.

E Daniel Piza resume:
“Em uma frase, o humanismo tem sido atropelado por nossa vida acelerada.”
E a vida acelerada leva pessoas a não dedicar mais de 30 segundos a qualquer coisa e a fazer muitas coisas ao mesmo tempo, nenhuma com a devida consistência.
“Fala-se muito que nossos tempos são marcados pela diversidade, por não haver tendências hegemônicas, etc. No entanto, li há algum tempo Danuza Leão descrevendo um jantar de dez casais, digamos, no qual oito das mulheres usavam a mesma marca de sapato, com a mesma sola vermelha. A pior uniformidade, porém, é a mental.
(...) Nem preciso dizer como liberdade e informação são fundamentais, para evitar tiranias e respeitar diferenças, e mesmo o consumo tem papel importante em nosso conforto e, sim, em nossa identidade.”
Parafraseando William Shakespeare: “Existem mais diferenças entre o que se fala e o que vivencia do que supõe nossa vã filosofia".

Fundamentais para evitar tiranias e respeitar diferenças, liberdade e informação são usadas para impor uniformidades dentre as quais a pior é a uniformidade mental. Creio que cabe aqui algo dito por Roberto Romano, especialista em ética e política da Unicamp e um dos mais respeitados filósofos brasileiros, em uma entrevista publicada na edição de fevereiro de 2011 da revista Poder – Joyce Pascowitch.
“Como alguém que entra numa rede social pode dizer que tem pensamento próprio, que tem coração, emoções próprias? A primeira vez que ele discordar do grupo, vai ser totalmente destruído. São as tiranias da intimidade.”
Daniel Piza termina dizendo que para contrapor essa onda de individualismo exacerbado é preciso uma mudança de mentalidade, (...).

E me faz lembrar de algo dito por um cientista de nome Albert Einstein.
“O mundo que criamos, como resultado de nosso pensamento, tem agora problemas que não podem ser resolvidos se pensarmos da mesma forma que quando os criamos”.
Sim, para contrapor toda e qualquer coisa que nos incomode é preciso uma mudança de mentalidade em relação àquela que originou o incômodo.

Ler sobre deterioração da arte da conversa definiu qual será a próxima postagem: A necessidade de conversar. Que seres estúpidos; deterioram até o que lhe é necessário!

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