segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

O Raciocínio Sistêmico

Perceberam que as quatro postagens feitas neste blog têm relação com a anterior? Será que esta também tem? A resposta virá com o decorrer da leitura, mas uma relação que esta – a quinta – estabelece é com o tema de um livro de Peter M. Senge intitulado “A Quinta Disciplina”. Nele, o autor defende a ideia de olhar empresas como organizações de aprendizagem. E o aprendizado ocorre por meio de cinco disciplinas: Domínio Pessoal, Modelos Mentais, Objetivo Comum, Aprendizado em Grupo e Raciocínio Sistêmico.
“É fundamental que as cinco disciplinas funcionem em conjunto. Este é um grande desafio, pois é muito mais difícil integrar novos instrumentos do que simplesmente aplicá-los separadamente. Mas a recompensa vale a pena.
É por isso que o raciocínio sistêmico é a quinta disciplina, pois é a disciplina que integra as outras quatro, fundindo-as num conjunto coerente de teoria e prática, evitando que elas sejam vistas isoladamente como simples macetes ou o último modismo para efetuar mudanças nas organizações. Reforçando cada uma delas, o raciocínio sistêmico está sempre nos mostrando que o todo pode ser maior que a soma das suas partes.”
Creio que o todo é sempre maior que a soma das suas partes, pois o todo inclui as interações entre as partes.
A origem do grande desafio, citado por Peter Senge, é por ele explicada no primeiro e segundo parágrafos do livro.
“Desde a mais tenra idade, nos ensinam a dividir os problemas, a fragmentar o mundo, o que parece ter o dom de facilitar tarefas e questões complexas. Mas o preço que pagamos por isso é enorme, pois deixamos de ver as consequências de nossos atos e perdemos a noção de integração com o todo maior. Quando queremos ‘enxergar o quadro inteiro’, tentamos remontar os fragmentos em nossa mente, relacionar e organizar todas as peças. Contudo, sendo esse um trabalho inútil – o mesmo que tentar juntar os fragmentos de um espelho quebrado para ver o reflexo verdadeiro -, depois de algum tempo desistimos de ver o conjunto global.
As técnicas e ideias apresentadas neste livro destroem a ilusão de que o mundo é composto por forças separadas, não relacionadas entre si.”
Antes de conceituar o raciocínio sistêmico, Peter Senge faz a seguinte introdução:
“As nuvens se acumulam, o céu escurece, as folhas viram para o alto, e sabemos que vai chover. Também sabemos que, depois da chuva, a enxurrada penetrará nos lençóis de água subterrâneos a quilômetros de distância, e no dia seguinte o céu estará limpo.”
Se Peter Senge morasse no Morro do Bumba ou na Região Serrana, ambos no Estado do Rio de Janeiro, ou em Santa Catarina, o depois da chuva seria bastante diferente. Mas como o tipo de desfecho da chuva não altera a introdução, então, voltemos a ela.
“Todos esses eventos são distantes no tempo e no espaço, no entanto estão todos interligados, em um mesmo esquema. Cada um deles influencia todos os outros, influência esta que geralmente não encontra-se ao alcance da vista. Só se pode entender o sistema de chuvas observando-se o conjunto, não apenas uma das partes.
Os negócios e outros trabalhos realizados pelo homem também são sistemas, o que significa que são amarrados por fios invisíveis de ações inter-relacionadas, que levam anos para desenvolver plenamente os efeitos que uma exerce sobre as outras.”
E Peter Senge chega à seguinte definição:
“O raciocínio sistêmico é uma estrutura conceitual, um conjunto de conhecimentos e instrumentos desenvolvidos nos últimos cinquenta anos (o livro é de 1990), que tem por objetivo tornar mais claro o conjunto e nos mostrar as modificações a serem feitas a fim de melhorá-lo.”
Entre os outros trabalhos realizados pelo homem que, segundo Peter Senge, também são sistemas, incluo os sistemas de informação. E vejo também na arte da conversação o uso do raciocínio sistêmico. Já perceberam que é comum no meio de uma conversa alguém perguntar: “Como é que a conversa chegou a este ponto?” Por analogia, eu respondo que foi pela amarração por fios invisíveis de ideias inter-relacionadas. Sendo assim, resolvi aplicar o raciocínio sistêmico na sequência dos textos a serem postados neste blog.

Agora já posso responder àquela pergunta do início do texto. Esta postagem tem relação não só com a anterior, mas também com as anteriores. E para defender esta afirmação, recorro a mais uma passagem de “A Quinta Disciplina”.
“Embora os instrumentos sejam novos, a ideologia subjacente é extremamente intuitiva, experiências com crianças de pouca idade demonstram que elas aprendem o raciocínio sistêmico com muita rapidez.”
Lembraram da jovem macaca do Fenômeno do Centésimo Macaco que foi a primeira a lavar as batatas-doces antes de comer? A relação com a postagem anterior é bem evidente. Naquela as pessoas sabiam, mas não deviam. Nesta, as pessoas não sabem, mas deviam.

Peter Senge diz que o raciocínio sistêmico tem por objetivo tornar mais claro o conjunto e nos mostrar as modificações a serem feitas a fim de melhorá-lo. E eu digo que o conjunto a ser melhorado é a sociedade em que vivemos. E, mais uma vez, recorro à citação de Ariston Santana Teles: “Melhor vive quem melhor conhece; e melhor conhece quem melhor interpreta. Daí a necessidade de esforços cada vez maiores na iluminação do raciocínio”. Iluminar o raciocínio é, na minha opinião, conhecer e desenvolver o raciocínio sistêmico. Desconhecê-lo origina consequências desagradáveis e até mesmo desastrosas para a sociedade.

Eu poderia continuar este texto e escrever sobre tais consequências, mas não devo, pois o post ficaria mais longo e uma grande parte dos leitores não aguentaria. Por isso, fiquemos por aqui. Alguém imagina qual será o assunto da próxima postagem?

2 comentários:

CJ disse...

Guedes,
Percebo a construção progressiva das idéias na qual seus post's evoluem. Adorei a resposta que você me apresentou no comentário que fiz do centésimo macaco. Fica aqui outra questão. Concordo que precisamos mudar a nossa sociedade, mas, em sua opinião, de que forma realmente podemos fazer isso? Digo cada um de nós, no dia a dia, para mudar o que ocorre hoje?
Abraço.

p.s. Estou tendo um experiência bacana podendo ler seus post´s e interagindo a cada leitura de forma "evolutiva". É como ler um livro e a cada capítulo poder conversar com o autor.

Guedes disse...

Amigo CJ,
É bom saber que alguém adorou algo que fizemos e espero que esta resposta também lhe agrade, mas saiba que nem sempre as respostas são conclusivas. Há respostas que nada mais são do que novas perguntas cuja finalidade é fazer com que a própria pessoa encontre a solução para o problema que a incomoda.
Esta é a ideia da Maiêutica Socrática (que tem como significado “Dar à luz (Parto)” intelectual, da procura da verdade no interior do Homem). Sócrates conduzia este parto em dois momentos. No primeiro, ele levava seus discípulos ou interlocutores a duvidar de seu próprio conhecimento a respeito de um determinado assunto. No segundo, ele os levava a conceber, de si mesmos, uma nova ideia, uma nova opinião sobre o assunto em questão. Por meio de questões simples, inseridas dentro de um contexto determinado, a Maiêutica dá à luz idéias complexas. A Maiêutica baseia-se na ideia de que o conhecimento é latente na mente de todo ser humano, podendo ser encontrado pelas respostas a perguntas propostas de forma perspicaz.
E aqui entra algo que você escreveu no final do seu comentário: a interação. Vou lhe dar a resposta que está ao meu alcance sobre a questão que você me propôs e novas questões poderão surgir. Fique a vontade para tornar a me perguntar, pois, enquanto o meu conhecimento permitir, interagirei com você em busca de respostas para questões que nos incomodam.
Mudar é algo inerente a qualquer sociedade, portanto entendo que a sua pergunta se refere a mudar para algo que consideremos melhor. Em minha opinião, a única maneira é colocar em prática a seguinte frase de Mahatma Gandhi; “Seja a mudança que você deseja ver no mundo”. É difícil? Sim, mas não vejo outra maneira.
O problema é que a proposta de Gandhi parece cada vez mais difícil, pois não produz resultados imediatos e quem vive em uma sociedade imediatista não aguenta esperar por resultados. É preciso entender que grandes problemas não se resolvem da noite para o dia e persistir na prática de ações que, mesmo não produzindo resultados a curto prazo, dão-nos a certeza de fazer sentido. É preciso deixar de lado a pressa na obtenção de resultados e nos concentrar no valor, na retidão e na verdade das nossas ações. Se agirmos assim, os resultados virão. Não no tempo que desejamos, mas no tempo necessário para que as ações de cada um nós produzam a sinergia capaz de mudar a sociedade. Devemos agir desta forma mesmo diante da probabilidade de não chegarmos a ver o resultado de nossas ações. É difícil de aceitar isto, não é? Mas é necessário.
Adorei o que você disse no “p.s”. O que você disse ser uma experiência bacana é, exatamente, o que eu sempre pretendi desde a época em que enviava textos por e-mail. Uma interação entre quem escreve e quem lê. Uma conversa na qual todos possam expressar sua opinião sobre o assunto e, desta forma, participar da busca de soluções para os problemas que nos incomodam. Vejo a vida como um trabalho de equipe do qual nenhum de nós está dispensado.
Nossa! Acho que terei que passar a fazer de alguns comentários uma nova postagem!
Abraços,
Guedes