Uma das coisas mais significativas que as 3,5 décadas em que atuei
como analista de sistemas me possibilitaram enxergar com extrema clareza é que,
por melhor que fosse o trabalho do analista, o êxito no desenvolvimento de
sistemas de informações só era possível se houvesse também a participação
efetiva de outros profissionais, entre eles os programadores e os futuros
usuários. Ou seja, desenvolver sistemas de informações com êxito é algo que
depende de trabalho coletivo; que depende de profissionais que saibam trabalhar
em equipe. Uma vez enxergada tal coisa, a próxima foi que, não apenas no
desenvolvimento de sistemas, mas em tudo na vida, o êxito depende do trabalho
em equipe. Segue uma descrição sobre o que é uma equipe, algumas
características desejáveis em seus membros e coisas que devem ser consideradas
na composição de uma equipe.
Equipe é um grupo de pessoas que atuam juntas, de forma colaborativa, utilizando suas habilidades e competências individuais para alcançar um objetivo coletivo. Para serem bem formadas, equipes devem, imprescindivelmente, serem heterogêneas, ou seja, compostas por pessoas de diferentes perfis, origens, culturas e formações. Pessoas com habilidades e conhecimentos individuais complementares.
Dito
isto, inspirando-me na afirmação expressa em um tag usado como
ilustração neste blog - "Nada que vale a pena é fácil" -, ouso dizer
o seguinte: "Tudo que vale a pena requer a participação de uma
equipe". Uma equipe cuja dimensão seja proporcional ao tamanho do objetivo
coletivo a ser alcançado. Sendo assim, se o objetivo a ser alcançado for a própria
sobrevivência de nossa espécie, no meu entender, essa é uma tarefa para a
equipe humana.
Equipe
Humana, eis o título de um livro que o meu interesse pelo tema equipe possibilitou-me
encontrar recentemente. De autoria de Douglas Rushkoff, ele foi publicado no
Brasil pela editora Bookman no final
de 2023, embora no livro apareça – Porto Alegre 2024. Sobre o autor, ele é apresentado
assim:
"É um premiado teórico das mídias que estuda a autonomia humana na era digital. Considerado um dos 10 intelectuais mais influentes do mundo pelo MIT, é professor na Universidade da Cidade de Nova York, Queens, apresentador do podcast Team Human e autor de vários best-sellers, incluindo Present Shock: When Everything Happens Now, que alerta para o comportamento cada vez mais ansioso da sociedade moderna. Rushkoff mora em Hastings-on-Hudson, Nova York."
Feito
esse longo preâmbulo, segue a primeira das duas partes em que dividi o primeiro
de seus quatorze imperdíveis capítulos para espalhá-lo por meio desta postagem.
O motivo da divisão é sempre aquele: não afugentar leitores de curto fôlego.
Equipe Humana
Tecnologias
autônomas, mercados descontrolados e mídia belicosa parecem ter colocado a
sociedade civil de pernas para o ar, paralisando nossa capacidade de pensar de
modo construtivo, de desenvolver conexões significativas ou de agir com
propósito. É como se a própria civilização estivesse à beira do abismo e nos
faltasse a força de vontade e a coordenação coletivas necessárias para abordar
questões de vital importância para a própria sobrevivência de nossa espécie.
Não precisa ser assim.
Todos se
perguntam como chegamos a esse ponto, como se houvesse ocorrido um acidente que
nos lançou em uma situação de incoerência coletiva e de perda de autonomia. Não
foi isso. Há uma razão para a situação atual: uma agenda anti-humana
incorporada em nossa tecnologia, nossos mercados e nossas principais
instituições culturais - da educação e da religião à formação cívica e à mídia.
Foi isso que transformou esses elementos, que deixaram de ser forças de conexão
e expressão humanas para se tornarem forças de isolamento e repressão.
Ao
desnudar esse plano, tornamo-nos capazes de transcender seus efeitos
paralisantes, reconectando-nos uns aos outros e refazendo a sociedade para fins
humanos, e não para o fim dos humanos.
O
primeiro passo para reverter nossa situação é reconhecer que ser humano é um
esporte coletivo. Não podemos ser totalmente humanos sozinhos. Qualquer coisa
capaz de nos unir promove a nossa humanidade. Da mesma forma, tudo o que nos
separa nos torna menos humanos e menos capazes de exercer nossa vontade
individual ou coletiva.
Usamos
nossas conexões sociais para nos orientar, para garantir a sobrevivência mútua
e para encontrar significado e propósito. Não se trata apenas de uma noção
pitoresca, mas de nosso legado biológico. As pessoas que se desconectam das
organizações ou comunidades que frequentam geralmente definham sem elas.
Às vezes,
unimo-nos uns aos outros para atingir algum objetivo comum, como encontrar
comida ou fugir de um predador. Mas também nos aproximamos e nos comunicamos
sem uma necessidade clara - porque, com isso, ganhamos força, obtemos prazer e
definimos objetivos à medida que desenvolvemos afinidade. Você está aí? Sim,
posso ouvir você.
Você não está sozinho.
Ampliamos
nossa capacidade natural de nos conectar inventando várias formas de
comunicação. Mesmo um meio de mão única, como um livro, cria uma nova
intimidade, pois nos permite ver o mundo pelos olhos de outra pessoa. A
televisão nos permite testemunhar o que está acontecendo com as pessoas em todo
o planeta, e fazer isso em massa. Na TV, assistimos juntos, simultaneamente, a
eventos como o pouso na Lua e a queda do Muro de Berlim, e vivenciamos nossa
humanidade coletiva como nunca fomos capazes antes.
Semelhantemente,
a internet nos conecta de maneira mais específica e, de certo modo, mais
reconfortante do que qualquer outra mídia anterior. Com o desenvolvimento da
internet, a tirania da mídia de radiodifusão - e suas decisões tomadas de cima
para baixo - parecia ter sido quebrada pelas conexões ponto a ponto e pela
liberdade de expressão de cada nó humano na rede. A rede transformou a mídia
novamente em um cenário coletivo, participativo e social.
Entretanto,
como aparentemente acontece com todo e qualquer novo meio, a rede deixou de ser
uma plataforma social para se tornar uma plataforma de isolamento. Em vez de
engendrar novos relacionamentos entre as pessoas, as tecnologias digitais
vieram para substituí-los por outra coisa.
Vivemos
com uma abundância de tecnologias de comunicação à nossa disposição. Nossa
cultura é composta mais de experiências mediadas do que daquelas diretamente
vividas. No entanto também estamos mais sozinhos e atomizados do que nunca.
Nossas tecnologias mais avançadas não estão melhorando a formação de um
vínculo, mas impedindo que ela aconteça. Elas estão substituindo e desvalorizando
nossa humanidade, minando, de muitas maneiras, o respeito que temos uns pelos
outros e por nós mesmos. Infelizmente, isso foi planejado. Mas também é por
essa razão que isso pode ser revertido.
Termina na próxima quinta-feira.
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